Distúrbios alimentares podem comprometer a saúde óssea
90% das mulheres adultas com anorexia terão osteopenia e 38% terão osteoporose
Distúrbios alimentares, como a anorexia nervosa, doença celíaca e doenças intestinais inflamatórias, têm se mostrado condições de risco para a saúde óssea, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de osteopenia e osteoporose. Esses problemas afetam não apenas a saúde geral, mas também podem comprometer seriamente a qualidade de vida dos pacientes, aumentando o risco de fraturas e outras complicações associadas a ossos enfraquecidos.
Dentre os distúrbios alimentares, a anorexia nervosa é o que mais tem sido estudado em relação à perda de massa óssea. Estudos revelam que cerca de 90% das mulheres adultas com anorexia nervosa apresentam osteopenia, e 38% delas desenvolvem osteoporose, uma condição mais grave que aumenta o risco de fraturas. Dra. Patrícia Muszkat, endocrinologista da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo – ABRASSO, explica que a anorexia antes dos 18 anos de idade está associada a uma pior densidade mineral óssea, especialmente na coluna vertebral.
A perda óssea nas pessoas com anorexia ocorre por uma combinação de fatores, como a ingestão insuficiente de calorias, proteínas e micronutrientes essenciais, incluindo cálcio. A deficiência de vitamina D também é comum entre essas pacientes, o que agrava ainda mais a fragilidade óssea. “Essas pessoas frequentemente fazem uso de diuréticos e laxativos, o que contribui para a desidratação e perda de minerais importantes para o fortalecimento dos ossos”, explica Dra. Patrícia.
Estudos apontam que as mulheres com anorexia têm duas vezes mais chances de sofrer fraturas em qualquer parte do corpo, e o risco é ainda mais elevado em regiões como o fêmur, onde as chances de fraturas chegam a ser seis vezes maiores em comparação com pessoas sem o distúrbio.
A endocrinologista também alerta que o exercício físico é fundamental para o fortalecimento dos ossos, mas deve ser evitado em pacientes com anorexia que possuem Índice de Massa Corpórea (IMC) abaixo de 14 e estão na fase aguda da doença. “Quanto menor o peso, maior a fragilidade óssea. A prática de exercícios físicos só pode ser indicada após a pessoa alcançar um peso saudável, para evitar complicações”, diz Dra. Patrícia.
Além da anorexia nervosa, a doença celíaca, uma condição autoimune em que o consumo de glúten danifica o intestino delgado, também está fortemente associada à perda óssea. A doença tem uma prevalência estimada de até 1% da população mundial. De acordo com Dra. Patrícia Muszkat, cerca de 75% dos adultos com doença celíaca não tratada apresentarão algum grau de perda óssea. A osteoporose pode ocorrer mesmo em pacientes que não têm sintomas gastrointestinais evidentes.
A doença celíaca compromete a absorção de nutrientes essenciais, como cálcio e vitamina D, que são fundamentais para a saúde óssea. Como resultado, os pacientes podem desenvolver osteopenia (diminuição da densidade óssea) e, sem o tratamento adequado, progredir para osteoporose, aumentando o risco de fraturas.
A boa notícia, segundo Dra. Patrícia, é que, para os pacientes com doença celíaca, uma dieta sem glúten pode melhorar significativamente a massa óssea. No entanto, é crucial que o tratamento seja acompanhado de perto por um médico especializado, para garantir que todos os nutrientes necessários sejam devidamente absorvidos.
As doenças intestinais inflamatórias, como a Doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, também estão frequentemente associadas à perda óssea. Esses distúrbios, que afetam o trato gastrointestinal, podem prejudicar a absorção de cálcio e outros nutrientes essenciais para a formação óssea. Pacientes com essas condições apresentam uma alta prevalência de osteopenia e osteoporose, e a incidência de fraturas pode ser até 40% maior do que na população geral.
A necessidade de glicocorticoides, medicamentos usados no tratamento de doenças inflamatórias intestinais, também contribui para a diminuição da massa óssea, com uma redução de até 12% no primeiro ano de tratamento. Além disso, a diminuição da absorção de cálcio pode levar ao desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário, que piora ainda mais a saúde óssea. Dra. Patrícia destaca que, para pacientes com doença intestinal inflamatória e alto risco de fraturas, o uso de bisfosfonatos (medicamentos que ajudam a aumentar a densidade óssea) pode ser recomendado para prevenir a perda óssea.
A prevenção da osteoporose e outras doenças ósseas em pacientes com distúrbios alimentares envolve um cuidado integral, que inclui uma alimentação balanceada, suplementação adequada de cálcio e vitamina D, e, quando possível, a prática de exercícios físicos regulares.
Dr. Rodrigo Mascarenhas, endocrinologista, reforça que a ingestão inadequada de nutrientes essenciais, como cálcio e vitamina D, pode aumentar o risco de osteopenia e osteoporose, portanto, uma dieta equilibrada é crucial. Ele alerta também para os perigos de alimentos processados, ricos em açúcares e gorduras saturadas, que podem agravar os problemas ósseos.
Além disso, a prática de exercícios físicos supervisionados tem benefícios significativos para a saúde óssea. No entanto, é importante que os pacientes com distúrbios alimentares graves, como anorexia nervosa, busquem tratamento médico antes de iniciar qualquer tipo de atividade física. Somente um profissional de saúde pode avaliar a condição física do paciente e indicar as melhores opções para fortalecer os ossos sem colocar a saúde em risco.
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No entanto, com o acompanhamento médico correto, incluindo a implementação de dietas equilibradas, a suplementação de nutrientes essenciais e a prática supervisionada de exercícios físicos, é possível minimizar esses riscos e promover uma melhor saúde óssea, prevenindo complicações a longo prazo.