45% dos acidentes registrados em Goiânia envolvem motociclistas
Especialista destaca aumento dos sinistros e orienta que o crescimento do número e a gravidade, está aliada à falta de preparo dos motociclistas
O caso que envolveu a morte de dois jovens no viaduto da Avenida T-63, no dia 20 de abril deste ano, investigado pela Polícia Civil de Goiás, por meio da Delegacia Especializada em Investigação de Trânsito de Goiânia (Dict), teve como laudo pericial que na ocasião o motorista indiciado, Rubens Mendonça Filho, de 30 anos, dirigia a 148 km/h. Resultando na morte de dois motociclistas por aplicativo, Leandro Fernandes Pires, de 23 anos, e o garupa, David Antunes Galvão, de 21 anos.
Na época, o gerente de criminalística adjunto, Régis de Moraes Félix, explicou que a alta velocidade que o motorista trafegava na via, antes de entrar no viaduto, foi determinante para o acidente.
Outro grande sinistro de trânsito que ganhou repercussão, aconteceu no último mês. A cozinheira Rosângela Ribeiro da Silva, 51 anos, foi a óbito após ser atropelada por um motorista bêbado que furou o sinal, segundo a polícia. Rosângela era passageira de uma moto por aplicativo que estava seguindo na Avenida T-9, quando o carro estava trafegando pela Rua C-148 bateu contra a motocicleta.
Casos como esses confirmam que dirigir com cuidado e respeitar as regras de trânsito tornam-se imperativos não apenas para a própria segurança, mas também para preservar a vida de todos os usuários das vias públicas.
Aumento de mortes e acidentes
De acordo com dados da Delegacia Especializada em Investigações de Crimes de Trânsito de Goiânia (Dict), de 2022 até março de 2024, a cidade contabilizou 458 óbitos em acidentes, sendo que 269 deles (58,7%) envolvendo motociclistas.
Essa realidade alarmante vem se mantendo quase inalterada nos últimos três anos. Em 2022, foram investigadas 200 mortes pela especializada, sendo 120 delas (60%) relacionadas a motociclistas. No ano passado, o número subiu para 203 óbitos, com 124 vítimas (61%) que estavam sobre motos. Em 2024, apenas nos primeiros três meses, foram registradas 55 mortes nas vias da capital, das quais 25 (45%) envolviam motociclistas.
Segundo o especialista em mobilidade urbana, Marcos Rothen, esse aumento do número de usuários está aliada à falta de preparo dos motociclistas, e contribui para o crescimento do número e da gravidade dos sinistros.
“Pela falta de preparo dos motociclistas, eles acham que podem desrespeitar as leis de trânsito e até mesmo as leis da natureza. Os motociclistas tendem a achar que eles têm prioridade no trânsito tanto quanto aos carros, quanto aos pedestres”, destaca.
Ele acrescenta que o desrespeito com as leis de trânsito, como a falta da pilotagem defensiva, os avanços aos sinais vermelhos, além do excesso de velocidade, também contribui para esse crescimento.
“Um motociclista deve estar sempre atento para ver se o motorista do carro, do ônibus ou do caminhão, estão vendo eles. Quando fazem uma ultrapassagem pela direita, muitas vezes eles não são vistos e chegam a assustar os motoristas. Manter distância dos demais veículos, fazer manobras bruscas, o uso do celular enquanto pilota e o uso de bebidas alcoólicas também são fatores importantes”, explica.
Outro fator importante é o “aumento considerável” de motocicletas circulando nos serviços de entrega. “É preciso que os clientes desses serviços entendam que a pressão deles para que as entregas sejam mais rápidas e baratas faz com que a situação só piore. São mais motociclistas sem qualquer treinamento querendo circular rápido pela cidade”, acrescenta.
Marcos explica que, além da exposição do motociclista, a qualidade da malha asfáltica é outro fator que contribui para a mortalidade no trânsito. Algumas regiões de Goiânia carecem de estrutura nas vias, que possuem buracos e desníveis.
“A moto tem pouca proteção para os seus ocupantes, aliada a falta de proteção dos próprios motociclistas, aumenta a gravidade dos acidentes. Eles não usam adequadamente os capacetes, alguns nem prendem eles direito. Deveriam também usar proteção no joelho e nos braços. É muito comum vermos na rua motociclistas usando chinelos, o que é proibido. As vias também são um fator de risco. Os buracos nas ruas são perigosos para todos, mas pior para os motociclistas”, acrescenta.
Campanhas conscientizam sobre segurança no trânsito
Para o especialista de mobilidade urbana, uma das formas de prevenir a mortalidade no trânsito é a educação, como o respeito às normas e a sinalização. “Muita educação e muita fiscalização. Temos visto muitos motociclistas que são pegos sem a habilitação, motos irregulares assim por diante. Sem um grande investimento em educação aliada a uma fiscalização eficiente, os números só irão aumentando”, destaca.
Rothen lembra ainda que é preciso conscientizar os motociclistas que eles não são os donos das ruas. “Eles tem que respeitar os demais usuários, que também tem pressa. É preciso que todos entendam que uma maior velocidade aumenta o risco e a gravidade dos acidentes”, finaliza.
Uma das campanhas mais conhecidas é o Movimento Maio Amarelo foi idealizado e lançado no Brasil em 2014 pelo Observatório Nacional de Segurança Viária e entregue à sociedade como uma ação multissetorial, com o objetivo de conscientizar e mobilizar o cidadão para que assuma comportamentos mais seguros no trânsito e mude o cenário de violência, que mata e sequela milhões em todo o mundo, praticando o trânsito mais humano.
A proposta é colocar em pauta, de forma permanente, o tema trânsito para sociedade, destacando que o trânsito deve ser seguro, em todas as situações para todos; incentivando a participação da população, empresas, governos e entidades sociais, no trabalho de conscientização e prevenção de acidentes.
Firme em seu propósito de contribuir para a redução de ocorrências de trânsito, o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) alerta as 10 principais causas de acidentes no trânsito brasileiro.
10 principais causas de sinistros envolvendo motociclistas
Fator humano
- Excesso de velocidade.
- Beber e dirigir.
- Combinação celular/direção.
- Não usar setas que indicam as intenções de manobras.
- Não guardar distância do veículo que vai à frente.
Fator veicular
- Deixar de fazer a manutenção regular no veículo (com atenção especial aos pneus, freios, farois, lâmpadas, luzes, limpadores de para-brisa, vela, filtros, correia dentada, radiador, sistema elétrico e combustível).
Fator vias
- O estado de conservação.
- As condições da sinalização.
- A falta de acostamento.
- A falta de passarelas.
Fonte: Observatório Nacional de Segurança Viária