Polarização mobiliza base, mas tem riscos para futuro marqueteiro de Lula
Sidônio Palmeira deve substituir Paulo Pimenta para reformular a comunicação do governo; cientista político comenta
O ministro Paulo Pimenta está de saída da secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). Para substituí-lo, provavelmente em janeiro, o marqueteiro e publicitário Sidônio Palmeira deve assumir o cargo com a missão de reformular a comunicação do governo, muito criticada nos últimos meses. Há quem diga que o trabalho possa incluir a manutenção da polarização do lulismo com o bolsonarismo.
Sidônio, vale lembrar, foi o marqueteiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022, quando o petista garantiu seu terceiro mandato. Foi um momento, claro, de muita polarização.
O professor e cientista político Marcos Marinho explica que o estímulo à polarização pode ser uma estratégia do partido para mobilizar sua base e contrastar com adversários. “No entanto, essa abordagem carrega riscos, como o afastamento de eleitores moderados e dificuldades de governabilidade”, aponta.
“Embora o ‘clima de torcida’ favoreça a militância e engaje setores fiéis, a popularidade do governo dependerá de resultados concretos, como melhorias na economia e políticas públicas eficazes. O equilíbrio entre a retórica polarizadora e a construção de consensos será determinante para o sucesso do partido nesse cenário”, avalia.
Sobre a troca do ministro da Secom, ele vê como reflexo de um ajuste estratégico do governo para reforçar sua narrativa e enfrentar desafios no diálogo com a sociedade. “A comunicação é um pilar crucial para a sustentação política, especialmente em cenários de tensão e disputa de narrativas.”
Críticas
O presidente Lula tem feito críticas há Secom há algum tempo. O presidente julga que a pasta tem atuado de forma irregular desde o começo do mandato. Na opinião dele, as políticas públicas e sociais promovidas na gestão não tem sido convertidas em aprovação para o governo.
No último dia 6 de dezembro, durante seminário do PT, ele chegou a dizer que existe um erro dele por não organizar entrevistas com jornalistas. “Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”, afirmou. Também à época, ele cobrou uma licitação para mídia digital.
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Naquele momento, houve a interpretação de demissão pública de Pimenta. Dali em diante, Lula começou a articulação por Sidônio. O marqueteiro, apesar de fora do governo oficialmente, mantém relações com o petista desde a vitória, em 2022. Ele é uma espécie de conselheiro informal.
Lula já queria tê-lo incluído na gestão há mais tempo, mas os problemas na Comunicação fizeram as investidas aumentarem. Sidônio chegou a resistir, inicialmente, para manter o trabalho na agência de publicidade que ele tem Salvador (BA), onde mora, mas decidiu ceder. A ida, claro, também servirá para iniciar a estratégia para 2026, caso o presidente decida concorrer à reeleição ou lançar um sucessor.
Mudanças
Sidônio não deve ser a única mudança na comunicação. O marqueteiro, inclusive, teve o aval de Lula para mexer na pasta como quiser. Para a Secom, ele já começou a definir sua equipe, sugerindo Laércio Portela para o lugar de José Chrispiniano para secretário de Imprensa.