Falta de drenagem e planejamento urbano intensificam caos durante chuvas intensas
De acordo com o Cimehgo choveu 12 vezes mais do que era esperado para a capital, sendo as áreas mais afetadas a região norte e centro de Goiânia.
Goiânia vivenciou na tarde e início de noite do último domingo (12), um verdadeiro caos em decorrência das chuvas intensas que atingiram a cidade. Vale ressaltar que esse é o segundo desastre enfrentado pelos goianienses por causa de alagamentos. O volume de precipitações foi muito além do previsto pelo Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo).
Enquanto a expectativa era de aproximadamente 12 milímetros de chuva, foram registrados 145,2 mm no Jardim Pompeia, na Região Norte, e 131,2 mm no Centro da cidade. Os números impressionam e revelam a incapacidade da infraestrutura urbana em lidar com eventos dessa magnitude, agravando os prejuízos sociais e financeiros. Com 126 pontos de alagamento relatados, Goiânia se viu paralisada, expondo falhas estruturais e a ausência de um planejamento eficiente para mitigar os impactos das chuvas.
A situação levou o prefeito Sandro Mabel a utilizar suas redes sociais para alertar a população. Em um vídeo, pediu que as pessoas evitassem sair de casa durante as chuvas. “Eu quero pedir a vocês que não saiam de casa, fiquem tranquilos em casa ou onde estiverem. Se estiverem em um restaurante, espere a chuva passar”, declarou.
Ele também fez um apelo para que os moradores não se arriscassem em áreas de risco, destacando que muitas ruas estavam alagadas e que a travessia em córregos e baixadas representava um grande perigo. Apesar do alerta, o caos tomou conta das ruas da capital, com diversos relatos de veículos arrastados pela força da água, pessoas ilhadas e estabelecimentos comerciais inundados.
Pessoas que estiveram no meio do caos e dos alagamentos, registraram esses momentos de tensão e medo, e um dos muitos vídeos que circulam nas redes sociais, uma moradora da capital que estava na Avenida Assis Chateaubriand, aparece falado de um carro que estava sendo levado pelas águas e ainda comenta com sinal medo e descrença ” Meus Deus do céu”. Outros ainda relataram em seus registros: “Nunca vi tanta água na minha vida. Que chuva!”.
Com muitos pontos críticos, os mais afetados pelos alagamentos foram a Avenida Anhanguera, no Setor Central, a Rua 21 de Abril, no Setor Vila Vera Cruz, e a Avenida 87, no Setor Sul. Além disso, os bombeiros registraram quedas de árvores na Alameda Marginal Botafogo, no Setor Leste Universitário, e na Rua Gercina Borges, no Setor Sul. O impacto foi sentido por toda a população nos danos materiais aos veículos ou nos prejuízos enfrentados por comerciantes e moradores.
Para muitos especialistas, os problemas enfrentados por Goiânia todas as vezes que as chuvas fortes atingem a capital, estão enraizados na falta de um sistema de drenagem eficiente e no crescimento urbano desordenado.
Juliano Cardoso, especialista em gestão ambiental e membro da Defesa Civil, enfatiza a necessidade de uma abordagem integrada e imediata. “Cidades que enfrentam fortes chuvas precisam iniciar uma força-tarefa para limpar a rede de drenagem, tanto artificial quanto natural, como córregos e rios”, afirmou. Ele também defendeu a implementação de projetos que incentivem a permeabilidade do solo, como a adoção de áreas verdes e sistemas de infiltração de água em edificações
A situação não é nova, mas os esforços para solucioná-la têm se mostrado insuficientes. Obras de drenagem realizadas nos últimos anos não acompanharam o crescimento populacional e a expansão urbana de Goiânia. A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra) informou que equipes têm trabalhado na limpeza e desobstrução de bocas de lobo, ramais e poços de visita em toda a cidade. Entretanto, especialistas alertam que tais ações são apenas paliativas. O sistema atual de drenagem da cidade é subdimensionado e incapaz de atender às necessidades de uma metrópole com mais de 1,5 milhão de habitantes.
Juliano Cardoso também ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a preservação ambiental e a conscientização da população. “É essencial que se invista em campanhas de educação ambiental que não sejam restritas a datas comemorativas, mas que ocorram de forma contínua. A população precisa entender que jogar lixo nas ruas contribui diretamente para o entupimento das redes de drenagem e, consequentemente, para os alagamentos.”
Além disso, defende a criação de sistemas de alerta sonoro e visual em áreas de risco. “A tecnologia pode ser uma aliada importante. Sistemas de alerta podem orientar a população em tempo real, reduzindo o número de acidentes e salvando vidas.”
Os impactos dos alagamentos em Goiânia vão além dos prejuízos financeiros. A saúde pública também é uma preocupação crescente. Águas acumuladas em vias públicas aumentam o risco de transmissão de doenças como leptospirose e dengue, além de representarem um ambiente propício para a proliferação de mosquitos e outros vetores.
A previsão é de mais chuvas para essa semana
O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) alerta sobre a possibilidade de tempestades com chuvas fortes, acompanhadas de rajadas de vento e descargas atmosféricas esta semana, em Goiás. O boletim divulgado informa sobre o risco potencial para chuvas intensas de 50 milímetros por dia e com rajadas de vento de 60 km/h.
André Amorim, que é gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), destacou que Goiânia teve um volume de chuvas que era esperado para 10 dias, isso em 3 horas de chuva. André ainda alertou a população sobre a possibilidade de chuvas e temporais, tanto para a capital como para o interior, como foi o caso da cidade de Nerópolis que fica a 36 quilômetros de Goiânia, que ainda na noite de domingo (12) vivenciou caos e alagamentos.
A Cimehgo comunica que a combinação de calor e umidade irá continuar favorecendo a formação de áreas de instabilidade em todas as regiões de Goiás. A região leste será a mais afetada pela mudança de temperatura, com mínima de 17º C e precipitação prevista de 45 milímetros ou seja alto volume de chuvas. A população também pode obter alertas sobre o tempo pela Defesa Civil enviando o CEP por SMS para o número 40199.
O cenário de caos vivido por Goiânia é um reflexo da negligência histórica com a infraestrutura urbana e a gestão ambiental. Para evitar que eventos como o de domingo se repitam, é necessário investir em soluções a curto, médio e longo prazo. Entre elas, a construção de reservatórios de retenção de águas pluviais, o reflorestamento de áreas de APPs e a implementação de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade.
Goiânia precisa urgentemente de um plano emergencial de drenagem urbana que leve em consideração o crescimento populacional, as mudanças climáticas e a preservação ambiental. Como destacou Juliano Cardoso, “sem mudanças estruturais e a colaboração de todos, o ciclo de alagamentos e prejuízos será inevitável a cada nova tempestade”.
O especialista reforça a importância de pensar em soluções que integrem tecnologia e boas práticas de gestão de risco. “Precisamos adotar sistemas modernos que possam prevenir acidentes e minimizar os impactos das chuvas intensas. Grandes estruturas para conter o fluxo hídrico, somadas a campanhas educativas e incentivos para práticas sustentáveis, são fundamentais para que Goiânia consiga superar esses desafios”.
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