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terça-feira, 28 de janeiro de 2025
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Economia

Consumidores enfrentam alta de até 40% no preço do café moído

Produção de café no Brasil caiu 5,8%, afetando a oferta global e elevando os preços das sacas, que acabam caindo no bolso dos consumidores

Postado em 28 de janeiro de 2025 por Eduarda Leão

O café, uma das bebidas mais consumidas do mundo, está vivendo um momento crítico em 2025. A alta expressiva nos preços, que já vinha sendo observada em 2024, se intensificou devido a uma combinação de fatores climáticos, econômicos e estruturais que afetam desde os grandes exportadores globais até os pequenos produtores brasileiros.

O economista Luiz Carlos Ongaratto explica que a elevação do preço é resultado de uma combinação de fatores, com destaque para a produção reduzida. “O preço do café está em alta no mundo todo porque é uma commodity com preço internacional. Por questões climáticas, a safra do Brasil não foi boa. Tivemos um ano de 2024 muito quente, com chuvas abaixo da média nas regiões produtoras. Isso reduziu a produção e impacta a qualidade do café”, esclarece.

O presidente do Sincafé Goiás, Jacques Jammil confirma que a seca foi determinante para o cenário atual. “As constantes secas na época da florada prejudicaram nossa produtividade. Ainda assim, nossos cafés mantêm uma excelente qualidade, sendo diretamente exportados para países exigentes por um bom café.” Ele ainda destaca que o câmbio e o aumento nos custos operacionais também pressionaram os preços: “Dos insumos agrícolas ficaram mais caros, e a escassez de mão de obra encareceu as operações. Câmbio e volatilidade monetária, como o real frente ao dólar, afetam a competitividade e os custos.”

“Os preços elevados do café observados em 2024, e que continuam em alta, têm como base as condições climáticas adversas enfrentadas pelas principais regiões produtoras do Brasil e a redução na oferta global, impactada pelo recuo na produção do Vietnã, o segundo maior produtor mundial do grão”, explica Glaucilene Carvalho, a subsecretária de Agricultura Familiar, Produção Rural e Inclusão Produtiva da Seapa.

“No cenário nacional, após o mês de abril, o clima de estiagem prejudicou a safra nos principais estados produtores, consequentemente, o rendimento dos grãos ficou aquém do esperado, situação agravada com o registro de queimadas que reduziu ainda mais a produtividade das lavouras”, completa.

A safra 2024/25 foi especialmente desafiadora para os produtores brasileiros. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam uma queda de 5,8% na produção, totalizando 69,9 milhões de sacas de 60 quilos, em contraste com as expectativas anteriores. O clima de estiagem, aliado às altas temperaturas, prejudicou o desenvolvimento dos grãos e aumentou o desequilíbrio de pragas nas lavouras, como o bicho mineiro e a cigarra, exigindo maiores investimentos no controle.

Apesar desse cenário desafiador, a produção em Goiás alcançou resultados expressivos. Segundo a Subsecretaria de Agricultura Familiar, Produção Rural e Inclusão Produtiva da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), o estado produziu 255,6 mil sacas beneficiadas em 2024. “A cultura ocupa 5,9 mil hectares no estado, com uma produtividade média de 42,8 sacas por hectare. Os principais municípios produtores são Cristalina, Cabeceiras, Campo Alegre de Goiás, Paraúna e Ipameri. Sob o ponto de vista econômico, a produção goiana de café registrou um Valor Bruto de Produção (VBP) de R$ 402,23 milhões”, destaca Carvalho.

Exportação recorde

Enquanto a produção sofria com as intempéries climáticas, o Brasil registrava um recorde de exportação. Segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), o volume exportado até novembro de 2024 foi de 46 milhões de sacas, um aumento de 3,78% em relação ao recorde anterior. A demanda internacional foi impulsionada pela redução na produção de outros grandes produtores do mercado, como o Vietnã, que também enfrentou problemas climáticos.

Esse volume exportado, aliado à alta demanda, contribuiu para a redução dos estoques nos países produtores e consumidores. “Estamos com um estoque muito pequeno”, observa Jacques Jamil.

Para o consumidor brasileiro, o impacto já é sentido no bolso. Em 2024, o preço do café moído subiu cerca de 40%, de acordo com o IPCA. E a previsão para 2025 não é animadora: especialistas indicam que os preços podem sofrer novos reajustes entre 10% e 15%. Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic, ressalta que os custos de produção já vinham sendo repassados ao consumidor, mas há necessidade de novos ajustes para cobrir os aumentos.

Expectativas da próxima safra

Com uma safra de 2025 já comprometida pelas condições climáticas do ano anterior, o economista Luiz Carlos Ongaratto acredita que os preços só devem apresentar alguma estabilização a partir de 2026. “ A gente não vai conseguir ter uma queda de preço do café neste ano 2025, apenas provavelmente na safra de 2026, dada as chuvas que a gente tá observando aqui que estão melhores. Então temos essa questão muito já definida.”

“Com a crescente valorização dos preços de cafés, com o aumento de consumo no Brasil e no mundo, com a entrada da China e países emergentes aprendendo a tomar cafés, acreditamos que é uma excelente oportunidade para os produtores goianos interessados em entrar neste mercado e diversificar suas lavouras”, afirma o Presidente do Sincafé-GO

Enquanto o café atravessa um período de alta histórica, a cadeia produtiva busca se reinventar, seja por meio de práticas mais sustentáveis, inovações no cultivo ou expansão para mercados emergentes.

Exportações alcançam 8,1 milhões de sacas, uma alta de 33,5%

Mesmo com o cenário desafiador, o segmento de cafés especiais se mantém promissor. Jacques Jamil diz que a busca por sustentabilidade e inovações no processamento tem sido uma tendência.” Práticas agrícolas sustentáveis, buscando métodos que minimizem o impacto ambiental. Explora novas técnicas em processamento para realçar diferentes perfis sensoriais dos cafés, oferecendo novas experiências aos consumidores”, afirma o presidente da Sincafé.

Dessa forma, vale ressaltar que os cafés de qualidade superior ou certificados de práticas sustentáveis responderam por 17,5% das exportações totais brasileiras entre janeiro e novembro de 2024, com a remessa de 8,112 milhões de sacas ao exterior. Esse volume é 33,5% superior ao registrado nos 11 primeiros meses do ano passado. 

Atualmente estima-se que cerca de 5% a 10% de todo o consumo brasileiro já seja de cafés especiais. Certamente, um consumidor regular de café, já se deparou com algum produto como este em cafeterias, restaurantes, hotéis, na internet e em diversos supermercados.

Ainda sim, Ongaratto, a produção desses grãos de alta qualidade também foi afetada, mas o mercado continua aquecido. “A quantidade de cafés especiais é proporcional ao tamanho da safra, ou seja, uma safra menor vai ter menos cafés especiais. E uma safra com problemas climáticos e uma qualidade de café inferior também produziu menos café especial.”

“Esse mercado tende a ter um aumento ainda maior que o café tradicional. Com a redução na produção e a qualidade inferior do grão, houve menor oferta.  Mas é uma tendência de consumo, o consumidor buscar melhores grãos com melhores qualidades, né? Mas ele não vai ficar também imune a esse aumento de preço que é uma tendência aí global”, finaliza o economista.

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