Países latino-americanos unem força contra a fúria de Trump
A análise que se faz é que o presidente Trump está buscando recolocar os EUA na posição de poder econômico que teve até bem pouco tempo, diz especialista
A reunião de emergência entre os países latino-americanos tem como tema central as condições dos deportados, mas, também, pode pautar contramedidas em relação aos posicionamentos do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O encontro que ocorre dentro do âmbito da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nesta quinta-feira (30), e foi convocado pela presidência do bloco, atualmente exercida por Honduras.
Segundo a professora de economia da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que também é doutora em políticas públicas, Adriana Pereira, os países, provavelmente, não devem confrontar os Estados Unidos, mas mostrar sua importância para a economia e a sociedade global.
A docente em economia aponta que “os países latino americanos e caribenhos irão se reunir para tratarem das questões relacionadas às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump em relação a esses países. Um dos temas de destaque será as deportações e a forma como o governo americano está tratando os deportados. Os países sentiram que foi uma forma de ataque aos seus cidadãos e à sua soberania”.
Adriana Pereira esclarece que apesar de ter um tema central, o encontro não deve só discutir a questão dos deportados. “Mas na reunião certamente serão tratadas outras questões como a taxação dos produtos que são exportados por eles para os Estados Unidos, em forma de retaliação ou demonstração de poder do presidente americano”, afirma.
Ainda, a professora de economia explica que “a reunião, que ocorrerá no próximo dia 30, representa o posicionamento desses países perante a postura Norte-Americana frente aos países Latino-Americanos e Caribenhos. O bloco fortalece o posicionamento desses países no cenário global. Esse movimento é bastante representativo, visto que a América-Latina e Caribe são importantes fornecedores de matéria-prima e também de mão-de-obra para os Estados Unidos”.
No entanto, Adriana ressalta que os países são fracos do ponto de vista econômico para conseguir abalar de forma perspicaz os norte-americanos, mas conseguem resistir de certa forma. “São países de médio e baixo desenvolvimento, o que geralmente configura uma dependência da economia norte-americana. Porém, o cenário global hoje é um pouco diferente, principalmente do ponto de vista comercial e produtivo, em especial com a participação da China no mercado mundial, e também o fortalecimento do BRISCS do qual o Brasil, faz parte que tem gerado uma certa insegurança no Governo Americano quanto à real força econômica dos Estados Unidos nesse cenário”, explica.
Leia mais: Snoop Dogg se defende após apoio a Trump: ‘100% negro’
A doutora em políticas públicas compreende a situação dentro de um jogo de poder com a tentativa do presidente estadunidense de restabelecer o antigo prestigio que o país tinha no passado. “Uma análise que se faz é que o presidente Trump está buscando recolocar os Estados Unidos na posição de poder econômico que teve até bem pouco tempo, mas que apesar de sua importância na economia internacional, esse poder tem sido reduzido nas últimas décadas. E esse novo posicionamento traz consequências para os países da América Latina e Caribe, que precisam se posicionar nesse cenário”, descreve.
Bloco Regional
De acordo com a Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, no dia 5 de janeiro de 2023, o Brasil retornou oficialmente à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Em 2008, o país participou diretamente da criação da CELAC, ao convocar e sediar a I Cúpula de Países da América Latina e Caribe (CALC).
A secretaria ainda afirma que formalmente estabelecida em fevereiro de 2010, a CELAC está integrada por todos os 33 países da região latino-americana e caribenha. O objetivo da comunidade é promover o diálogo político, a concertação e a cooperação regional em um conjunto amplo de temas. Segurança alimentar e energética, saúde, inclusão social, desenvolvimento sustentável, transformação digital e infraestrutura para a integração estão entre as principais pautas.
Por fim, aponta que o retorno do Brasil à comunidade latino-americana de Estados é um passo fundamental para a recomposição do nosso patrimônio diplomático e para a plena reinserção do Brasil ao convívio internacional.