Guerra comercial entre potências desafia economia brasileira
Embora o Brasil tenha se beneficiado com a maior demanda por suas commodities, volatilidade impõe novos desafios

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, iniciada durante o novo governo de Donald Trump, tornou-se um dos fatos mais significativos dos últimos anos. O aumento das tarifas impostas pelas duas maiores economias globais sobre os produtos gerou impactos não apenas nos países diretamente envolvidos, mas também no resto do mundo. Nesse contexto, o Brasil, com sua economia dependente de exportações de commodities e produtos manufaturados, também terminou afetado pela turbulência internacional.
A guerra comercial foi desencadeada por acusações dos EUA contra a China, alegando práticas comerciais prejudiciais à indústria norte-americana, como subsídios governamentais e manipulação da moeda. Os EUA impuseram tarifas sobre produtos chineses, especialmente tecnologia e eletrônicos, e a China respondeu com tarifas sobre produtos americanos, afetando setores como a agricultura, com destaque para soja, milho e algodão. Essa retaliação gerou incertezas nos mercados globais, afetando a economia mundial.
Para o Brasil, um dos primeiros impactos foi o aumento da volatilidade nos preços das commodities. Como grande exportador de produtos agrícolas como soja, carne bovina, café e milho, o Brasil se beneficiou com o aumento da demanda, especialmente pela soja, após a China buscar alternativas às exportações dos EUA. No entanto, esse cenário positivo não foi suficiente para isolar os efeitos negativos da guerra comercial.
Além disso, a disputa entre as superpotências criou incertezas econômicas que impactaram o Brasil indiretamente. A volatilidade nos preços das commodities levou a flutuações nas taxas de câmbio e inflação, complicando o cenário econômico interno. Como o Brasil depende das exportações para crescer, qualquer instabilidade nos mercados globais afeta diretamente sua balança comercial. A guerra comercial também dificultou o planejamento de longo prazo das empresas brasileiras devido à redução da previsibilidade nos fluxos comerciais internacionais.
Outro impacto significativo foi a pressão nos mercados de investimentos. Com a incerteza gerada pela guerra comercial, investidores globais se tornaram mais cautelosos, o que afetou os fluxos de investimento para o Brasil. O capital estrangeiro, essencial para o financiamento de diversos setores da economia brasileira, pode se tornar mais reticente em investir no país, especialmente em um contexto de maior volatilidade e riscos globais. Isso pode resultar em uma valorização do dólar e dificultar o acesso do Brasil a crédito internacional vantajoso, afetando sua estabilidade financeira.
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A guerra comercial também gerou desafios para a competitividade brasileira. As tarifas de retaliação podem aumentar os custos para exportar produtos para os EUA e China, dificultando a expansão do Brasil no mercado global, principalmente se surgirem novas barreiras comerciais. Mesmo que o Brasil tenha se beneficiado de uma maior demanda por suas commodities, ele enfrenta dificuldades ao tentar aumentar sua presença em outros mercados internacionais.
Além disso, a guerra comercial tem implicações para a estratégia do Brasil no comércio global. Ainda que as exportações para a China tenham aumentado, o Brasil se vê em uma posição delicada, pois corre o risco de se tornar excessivamente dependente de um único mercado. Isso pode limitar a flexibilidade da economia e torná-la mais vulnerável a choques externos. Por isso, é fundamental que o Brasil busque diversificar suas relações comerciais, não apenas com a China e os EUA, mas também com outras potências econômicas como a União Europeia, a Índia e os países africanos.