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sábado, 13 de dezembro de 2025
Cordyceps

Sabia disso? Fungo zumbi da série The Last of Us existe de verdade!

Série da HBO, inspirada em jogo de videogame, volta com segunda temporada e reacende o interesse por fungos que existem de verdade, inclusive em florestas tropicais brasileiras

Thais Airespor Thais Aires em 15 de abril de 2025
The Last of Us

A série The Last of Us, da HBO, voltou com episódio inédito no último domingo, 13 de abril, reacendendo a curiosidade do público sobre o fungo Cordyceps — o verdadeiro vilão da história. Inspirada no jogo homônimo da Naughty Dog, a trama apresenta um cenário pós-apocalíptico em que a humanidade foi devastada por uma infecção causada por um fungo que transforma pessoas em criaturas violentas e irracionais. Apesar da atmosfera de ficção científica, a ameaça que aparece na tela tem origem na vida real: o chamado “fungo-zumbi” existe e está presente, inclusive, em solo brasileiro.

Na série, acompanhamos Joel e Ellie atravessando cidades destruídas, tentando sobreviver em um mundo onde a infecção fúngica se espalhou globalmente. O que muitos não sabem é que o Cordyceps, mostrado na produção, é um gênero real de fungos parasitas que ataca insetos — e não humanos.

The Last of Us
O jogo ‘The Last of Us’ — Foto: Divulgação

Zumbificação de formigas existe mesmo

O Ophiocordyceps unilateralis, espécie que inspirou os criadores do jogo e da série, é um parasita que tem como alvo principal as formigas. Os esporos do fungo se fixam no corpo do inseto e, ao se desenvolverem, começam a controlar o hospedeiro de forma extremamente precisa. O cérebro da formiga permanece funcional, mas o fungo assume o comando dos músculos, levando o animal a subir em galhos ou folhas, onde morre. A partir daí, o fungo se desenvolve externamente e libera novos esporos, recomeçando o ciclo.

“Essas interações que levam à zumbificação são muito antigas, estabelecidas há mais de 40 milhões de anos”, explica o doutor em micologia Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo ele, esse tipo de fungo é conhecido por ser entomopatógeno — ou seja, afeta insetos, como formigas, mariposas e larvas.

Apesar do visual impactante e do comportamento assustador nos insetos, Elisandro é categórico: “Para esses fungos se tornarem perigosos para a gente, eu diria que, minimamente, estamos distantes a uns 40 ou 50 milhões de anos dessa possibilidade”. O sistema imunológico humano é resistente a esse tipo de ameaça, e os fungos do gênero Cordyceps não possuem os mecanismos biológicos necessários para infectar mamíferos.

The Last of Us
Formiga hospedeira em estado terminal pós-contaminação, com o ciclo de reprodução do fungo completo pronto para expelir os esporos — Foto: Dr. Morley Read/Divulgação/g1

Micélio, mutações e mudanças climáticas

A série também explora uma rede de raízes subterrâneas que conecta os infectados, possibilitando a comunicação entre eles. Esse detalhe, embora ampliado para fins dramáticos, também se inspira em estruturas reais dos fungos. “Quando você olha para uma floresta, é apenas uma parte porque a outra está no subsolo”, explica Elisandro. Ele se refere ao micélio, um conjunto de filamentos chamados hifas, que interligam plantas e árvores, formando uma complexa rede biológica subterrânea.

Na trama, a pandemia fúngica se inicia com alterações no clima e a presença do fungo em produtos alimentícios. O showrunner Craig Mazin declarou em entrevistas que a ideia foi basear tudo em ciência real: “Não é magia, é ciência”. O aumento da temperatura global teria criado condições ideais para que o Cordyceps evoluísse e começasse a infectar humanos, o que não é impossível em termos biológicos, mas é altamente improvável.

Para o entomologista David Hughes, que participou da pesquisa usada na construção da série, os fungos deveriam receber mais atenção. “Eles são completamente esquecidos. E é interessante fazer as pessoas pensarem mais sobre isso”, afirmou em entrevista ao The Washington Post. Ele ainda alerta: “Os fungos matam mais seres humanos do que a malária”.

Hughes aponta que mudanças climáticas e alterações no solo podem tornar algumas espécies de fungos mais perigosas para humanos, especialmente aqueles com o sistema imunológico comprometido. Com o calor, infecções fúngicas podem se desenvolver mais rapidamente do que as respostas médicas, criando cenários preocupantes, embora ainda distantes da realidade de The Last of Us.

De vilões a curandeiros: o outro lado do fungo

Apesar de serem vistos com desconfiança após a popularização do termo “fungo-zumbi”, os fungos têm um papel essencial no meio ambiente e na medicina. O próprio Cordyceps sinensis, parente do Ophiocordyceps unilateralis, é utilizado na medicina tradicional chinesa e tem aplicações em suplementos médicos. Pesquisas indicam seu potencial até mesmo no tratamento de certos tipos de câncer, como o ocular.

Além disso, os fungos estão presentes no cotidiano das pessoas, mesmo que de forma invisível. “Desde o pãozinho do café da manhã, o suco de laranja à tarde e até o vinho da noite. Sem falar nos medicamentos e cosméticos que foram produzidos por conta do uso biotecnológico a partir de fungos”, exemplifica Elisandro. Um exemplo clássico é a penicilina, descoberta a partir do Penicillium, um gênero de fungo que também participa da produção de queijos como o gorgonzola.

 

 

 

 

 

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