Música de Maiara e Maraisa sobre “borderline” levanta alerta: quando o pop banaliza a saúde mental
Especialistas apontam risco de reforçar estigmas e transformar transtornos graves em mero entretenimento
O lançamento da música Borderline pela dupla Maiara e Maraisa, que usa o termo para descrever altos e baixos de uma relação amorosa, acendeu um alerta entre psicólogos e familiares de pacientes: a saúde mental não pode ser tratada como metáfora. Para especialistas, o uso equivocado do conceito agrava o estigma que já pesa sobre quem convive com o transtorno de personalidade borderline.
Êdela Nicoletti, especialista em Terapia Comportamental Dialética, explica que o borderline é uma condição psiquiátrica grave, que envolve medo extremo de abandono, impulsividade e risco elevado de autolesão — e não apenas emoções intensas. “A banalização compromete anos de luta para levar informação séria e apoio a quem sofre de verdade”, alerta a psicóloga.
Pacientes e familiares também sentiram o impacto. Uma jovem diagnosticada desabafa: “As pessoas acham que é drama. Ninguém vê o desespero real de viver com isso.” Para a mãe de outra paciente, a música transforma uma luta diária em entretenimento inconsequente.
Êdela destaca que embora a liberdade artística seja essencial, ela não deve atropelar a responsabilidade. Popularizar conceitos técnicos de forma distorcida, especialmente em canções de grande alcance, pode gerar desinformação em massa e dificultar o acesso de quem realmente precisa de ajuda.
A crítica não é à arte, mas à forma de tratar temas delicados. “A saúde mental merece respeito e seriedade. Não podemos reduzir transtornos psiquiátricos a metáforas românticas em nome do sucesso de uma música”, finaliza Êdela, reforçando o chamado por uma cultura pop mais consciente e empática.