Quando o pão vira veneno
Mês de conscientização sobre a doença celíaca alerta para os perigos do glúten para quem tem predisposição genética
Maio é o mês dedicado à conscientização da doença celíaca, uma condição autoimune ainda cercada de desinformação e marcada por diagnósticos tardios. A enfermidade afeta o intestino delgado, mas seus efeitos atingem o corpo como um todo: de crises intestinais a alterações hormonais e quadros graves como infertilidade e linfomas.
Silenciosa, hereditária e muitas vezes negligenciada, a doença transforma o glúten — proteína presente em trigo, centeio, cevada e malte — em uma ameaça invisível. Ao ser ingerido por pessoas geneticamente predispostas, o glúten desencadeia uma resposta imune que danifica as vilosidades do intestino delgado, estruturas essenciais para a absorção de nutrientes.
Estudos internacionais estimam que entre 0,5% e 1% da população é celíaca. No entanto, especialistas alertam para a possibilidade de subnotificação. Isso porque os sintomas variam e podem imitar desde problemas gastrointestinais até quadros psiquiátricos, como irritabilidade e depressão. Há ainda quem não apresente sintoma algum.
O diagnóstico exige exames de sangue e biópsia intestinal, o que dificulta a detecção precoce. Quando não tratada, a doença celíaca pode evoluir para complicações graves, como câncer intestinal, osteoporose severa e doenças autoimunes associadas, incluindo diabetes tipo 1.
O único tratamento conhecido é a exclusão total do glúten da dieta. Com a adesão rigorosa à dieta, o intestino tende a se regenerar. Em crianças, a recuperação pode ocorrer em até um ano. Em adultos, o processo é mais lento.
Para pacientes celíacos, evitar o glúten não é uma opção de bem-estar ou estética alimentar. É questão de sobrevivência. Mesmo pequenas quantidades da proteína, presentes em cosméticos, medicamentos ou alimentos industrializados, podem desencadear crises.