Distúrbio neurológico compromete fala de milhares de crianças no Brasil
Apraxia de Fala na Infância dificulta diagnóstico precoce e demanda tratamento especializado
A Apraxia de Fala na Infância (AFI) é um distúrbio neurológico que interfere diretamente no planejamento e na coordenação dos movimentos motores necessários para a fala. Embora pouco conhecida, a condição afeta uma em cada mil crianças, o que representa milhares de casos no Brasil, país que concentra cerca de 35 milhões de indivíduos entre 0 e 14 anos, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O transtorno ocorre quando o cérebro da criança não consegue programar de forma adequada os movimentos musculares para articular palavras, apesar de ela saber o que deseja comunicar. A AFI é considerada rara na população geral, mas é relativamente comum em algumas condições clínicas específicas, como na síndrome de Down e no transtorno do espectro do autismo (TEA).
Por ser frequentemente confundida com atrasos simples de fala ou com o próprio TEA, a apraxia tende a ter o diagnóstico retardado. Muitas crianças acabam sendo classificadas de forma incorreta, o que compromete o acesso a intervenções terapêuticas adequadas e impacta negativamente o desenvolvimento da comunicação.
A manifestação do distúrbio inclui uma série de sinais característicos. Crianças com apraxia apresentam dificuldade para iniciar palavras ou sons, fazendo pausas longas ou buscando a maneira certa de começar a falar. Também é comum a repetição de sons ou sílabas e a distorção ou troca frequente de fonemas.
Outro indicativo da presença do transtorno é o ritmo incomum da fala. Muitas vezes, as crianças se expressam separando sílabas de forma exagerada ou fazendo pausas estranhas em meio às frases. A fala tende a ser hesitante, truncada e marcada por falsos começos, como tentativas frustradas de reorganizar as palavras durante a comunicação.
Além disso, o discurso pode ser mais lento, mesmo quando a criança demonstra compreender o que ouve e sabe o que quer dizer. A dificuldade para repetir rapidamente sequências de sons ou palavras também é um indício comum, assim como a inconsistência na pronúncia das mesmas palavras em diferentes momentos. A frustração costuma ser evidente, especialmente porque a capacidade de compreensão permanece preservada, mas a expressão verbal é limitada.
O diagnóstico da AFI deve ser realizado por profissionais especializados, que avaliam o padrão de desenvolvimento da fala e a presença dos sinais característicos. O tratamento precoce é importante para o progresso da comunicação funcional. Abordagens terapêuticas específicas, voltadas para o aprimoramento dos movimentos motores da fala, são consideradas as mais eficazes.
Estudos indicam que a intervenção especializada e intensiva pode resultar em avanços na capacidade comunicativa dessas crianças. Quanto mais cedo o transtorno for identificado, maiores são as chances de que o desenvolvimento da fala evolua de forma satisfatória.