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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
passado e presente

Geração Z encontra nas manualidades um antídoto à exaustão digital

Impulsionados pelas redes sociais, jovens resgatam atividades como tricô, crochê e cerâmica em busca de bem-estar, identidade e autonomia

Luana Avelarpor Luana Avelar em 11 de junho de 2025
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Em meio a uma rotina marcada pelo excesso de estímulos e pela hiperconectividade, cresce entre jovens da geração Z o interesse por manualidades como tricô, crochê, bordado, cerâmica e pintura. A tendência, inicialmente impulsionada por vídeos e tutoriais em redes como TikTok e YouTube, se transformou em um movimento mais amplo, que mistura resgate de tradições familiares, busca por saúde emocional e questionamento do consumo acelerado. A estética visual das redes sociais deu visibilidade a essas práticas, mas especialistas apontam que a adesão vai além do modismo: trata-se de uma tentativa de lidar com o mal-estar contemporâneo.

Estudos mostram que o envolvimento com atividades manuais está associado ao aumento da autoestima, da concentração e da sensação de propósito. Segundo uma revisão de 19 pesquisas publicada na revista Frontiers in Public Health, o artesanato pode reduzir sintomas de ansiedade e depressão, além de estimular o chamado estado de flow — quando há imersão total em uma tarefa criativa. A produção artesanal, além de gerar satisfação, oferece uma forma concreta de desacelerar e romper com a lógica produtivista que domina o cotidiano digital.

Muitos dos jovens que retomam essas práticas relatam motivações afetivas. Há quem tenha aprendido a bordar com a avó ou a costurar observando a mãe, e agora transforma esses saberes em modo de expressão pessoal. A manualidade surge, assim, como elo entre passado e presente, tradição e experimentação. Em alguns casos, a prática se transforma em fonte de renda; em outros, fortalece vínculos e comunidades que se organizam para compartilhar técnicas e trocas simbólicas.

A prática também se articula a valores ligados à sustentabilidade e ao consumo consciente. Fazer as próprias roupas, por exemplo, é apontado por jovens como uma alternativa à lógica do fast-fashion. Além de ampliar a autonomia, a confecção manual permite entender o tempo e o trabalho envolvidos em cada peça, reforçando uma ética de valorização do que é feito à mão. O gesto de tramar, moldar ou costurar se converte em ato político, afetivo e simbólico.

Ainda que parte das motivações esteja ancorada em questões individuais, o fenômeno revela um deslocamento mais amplo: o da geração que, crescida em ambientes digitais, busca refúgio no analógico como forma de reconectar-se com o corpo, com o tempo e com a materialidade das coisas. As manualidades, nesse contexto, não são apenas um passatempo, mas uma tentativa de construir sentido em meio à fluidez do presente.

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