Hip hop ocupa a Câmara e cobra respeito após ataque do prefeito
Audiência pública nesta segunda (7) em Goiânia é convocada após repressão e declarações que associam cultura periférica à “bagunça”
Artistas e lideranças culturais do movimento hip hop ocupam o plenário da Câmara Municipal de Goiânia nesta segunda-feira (7), às 19h, durante a audiência pública Hip Hop Não É Bagunça, proposta pelo vereador Fabrício Rosa (PT). A mobilização é uma resposta direta às declarações do prefeito Sandro Mabel (UB), que classificou manifestações de rap nas praças como “bagunça” e ironizou denúncias de violência da Guarda Civil Metropolitana contra batalhas de MCs.
O episódio que motivou a audiência ocorreu durante a 7ª Conferência das Cidades, em 27 de junho, quando o rapper Baiano MC questionou a repressão policial sofrida por artistas nas praças. Em tom debochado, o prefeito respondeu: “então por que estão apanhando?”. Diante da provocação, Baiano MC defendeu a necessidade de maior preparo por parte dos agentes de segurança pública para lidar com expressões culturais da periferia, como o hip hop.
Na semana seguinte, a tensão ganhou novo capítulo. Após a fala de representantes do movimento hip hop na Tribuna Livre da Câmara, espaço destinado à participação da sociedade civil, o líder do prefeito na Casa, vereador Igor Franco (MDB), pediu questão de ordem para declarar que, enquanto Deus lhe permitisse ser parlamentar, não aceitaria exaltações a Zé Pilintra no plenário. O ataque foi direcionado a referências feitas pelos artistas à herança afro-brasileira e às entidades espirituais presentes no cotidiano das periferias.
Em evidente discurso de ódio e racismo religioso, o líder do prefeito usou o nome de Deus, figura maior da fé cristã, para menosprezar a exaltação a uma entidade espiritual de religiões de matriz afro-brasileiras. Tudo isso porque Baiano MC, ao usar a tribuna, saudou Zé Pilintra: “Salve seu Zé Pilintra. Salve Jesus Cristo”.
A audiência desta segunda deve reunir DJs, MCs, grafiteiros, b-boys, b-girls, lideranças de movimentos sociais e a população em geral. O objetivo é ocupar o espaço legislativo — marcado historicamente por discursos conservadores — com vozes que reivindicam direitos culturais e liberdade de expressão.
Nascido nas periferias urbanas como resposta às violências do Estado, o hip hop é reconhecido hoje como ferramenta de educação, consciência crítica e cidadania. Ainda assim, segue sendo alvo de repressão quando ocupa as ruas. A audiência, portanto, não se limita à escuta: é também uma afirmação política e simbólica da presença da cultura periférica no debate público sobre democracia e justiça social.
“O prefeito Sandro Mabel acha que a única política pública que a cultura preta e periférica merece é a violência da Guarda Municipal. É hora de mostrar que o hip hop transforma vidas, que a batalha de rima salva. Que DJ, MC, grafiteiro, grafiteira, b-boy e b-girl são educadores da rua, são resistência viva”, pontua Fabrício Rosa.