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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Estratégia

Governo aposta em estratégia dúbia para lidar com tarifaço

Lula critica a taxação, mas governo aposta em moderação de Alckmin em busca de acordo para contornar crise

Thiago Borgespor Thiago Borges em 22 de julho de 2025
Governo aposta em estratégia dúbia para lidar com tarifaço
Foto: Marcelo Camargo/ABr

O tarifaço sobre os produtos brasileiros anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que terá início em agosto, provocou reações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista abraçou a ofensiva contra o republicano e adotou discurso em defesa da soberania nacional, ao adotar um viés patriotico. Entretanto, nos bastidores, a cúpula do Palácio do Planalto busca uma saída diplomática. 

Em suas últimas aparições públicas, Lula tem acirrado os ânimos em seu discurso. Em sua passagem por Goiânia, na última semana, o presidente afirmou que não será um “gringo que vai dar ordem a um presidente da República”, em referência a Trump. Durante o pronunciamento oficial em rede nacional de rádio e televisão em resposta à taxação de 50%, o presidente classificou a medida como uma “chantagem inaceitável” que representa “ameaças às instituições brasileiras”. 

O discurso mostra uma das facetas da estratégia adotada pelo governo brasileiro. Enquanto Lula é responsável pelos discursos em prol da soberania nacional e pelo tom crítico ao presidente americano, o vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), fica incumbido das tratativas com o governo americano.

Figura mais agradável a Faria Lima, Alckmin é quem conduz as discussões com o empresariado brasileiro e os representantes do governo Trump. O vice-presidente tornou-se o homem forte das negociações da gestão petista. Enquanto aguarda um retorno de Trump para avançar nas negociações, o presidente em exercício — devido à viagem de Lula para o Chile — se reuniu com representantes de big techs na última segunda-feira (21). 

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Tom moderado

O tom moderado foi ressaltado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que pediu diplomacia na condução da crise. “Eu acho que o Brasil deve agir e vai continuar agindo com muita serenidade, apesar de todas as demonstrações de agressão, buscando uma solução diplomática e de negociação”, disse o ministro na última segunda-feira (21) durante agenda em Salvador (BA). 

Para Isaac Pereira Simas, advogado pela Universidade de Brasília (UnB) com atuação em relações governamentais, o cenário de dualidade é o ideal, independente de quem estiver no poder. “É preciso resolver o problema, seja diminuindo as tarifas ou adiando o início da aplicação, diretamente com os governos dos Estados Unidos”, destacou o especialista. “É necessário. Até mesmo para satisfazer parte do eleitorado interno, que são os detentores dos meios de produção”, disse.

Simas lembrou que, ao passo que você trabalha para resolver o impasse, também é importante adotar o discurso que exalta a soberania nacional. “Quando você tem um presidente que está colocando esse tipo de tarifa e justifica por meio de uma questão política interna — que seria o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro —, é preciso ser firme e ressaltar que a soberania do seu país não pode ser violada por outro por conta de questões internas”, afirmou Pereira. 

Necessária

Isaac frisa que, nesse contexto, a “via de mão dupla” é necessária. “Ao mesmo tempo em que tenta resolver o problema, você tem que jogar para a torcida e criticar de forma pública”, disse. “As medidas são impopulares para um grande espectro da população brasileira. Só tentar resolver o impasse e não criticar, você poderia estar sendo subserviente a um país estrangeiro, e boa parte da população iria criticar isso. Porém, só criticar o governo Trump teria a chance de não viabilizar nenhum acordo. É preciso fazer esse jogo duplo”, afirmou o especialista. (Especial para O Hoje)

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