A transformação do Ozempic em objeto de desejo entre pessoas que buscam emagrecimento rápido vem acompanhada de um aumento expressivo nos registros de complicações clínicas. O medicamento, aprovado para o tratamento de diabetes tipo 2, passou a ser utilizado de forma indiscriminada, frequentemente sem prescrição ou indicação médica, por indivíduos sem a condição.

Entre 2019 e 2022, a agência reguladora dos Estados Unidos (FDA) recebeu mais de 11 mil notificações de hospitalizações associadas ao uso da semaglutida, substância ativa do Ozempic. Dentre esses casos, 490 envolviam inflamações na vesícula biliar e 376 resultaram em cirurgia para remoção do órgão. As complicações afetaram inclusive pessoas sem histórico prévio de problemas digestivos, o que evidencia os riscos da automedicação.

O medicamento atua desacelerando o esvaziamento gástrico, mecanismo que pode favorecer o acúmulo de bile e a formação de cálculos biliares. O uso prolongado, mesmo em doses autorizadas, pode levar a quadros severos de dor abdominal, náuseas e inflamações com necessidade de internação. Em casos extremos, a única solução é a cirurgia.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária acompanha os impactos do aumento do consumo. Profissionais de saúde reforçam que o Ozempic não deve ser utilizado sem acompanhamento clínico. A crescente busca por soluções farmacológicas para emagrecimento, impulsionada por redes sociais, expõe usuários a riscos pouco compreendidos, e recoloca no centro do debate a necessidade de responsabilização no uso de medicamentos de uso restrito.