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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Cigarros eletrônicos

Cigarro eletrônico preocupa médicos no Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão

Especialistas alertam para os riscos do uso dos vapes, especialmente entre jovens

Anna Salgadopor Anna Salgado em 1 de agosto de 2025
Cigarro eletrônico preocupa médicos no Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão
Foto: Freepik

O Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão, lembrado nesta sexta-feira (1º/8), reforça o alerta de especialistas sobre os riscos dessa doença, que é uma das que mais matam no Brasil. Embora o tabagismo tradicional continue sendo o principal fator de risco, responsável por mais de 86% dos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca) , o uso crescente de cigarros eletrônicos nos últimos anos tem se tornado uma nova preocupação, sobretudo entre adolescentes e jovens adultos.

Estudo divulgado em 2024 pela Fundação do Câncer, com base em dados da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, projeta que os casos de câncer de pulmão no país devem crescer 65% até 2040, e a mortalidade pode aumentar 74%, caso o padrão atual de consumo de derivados do tabaco se mantenha.

A pneumologista Daniela Campos, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, destaca como a aparência e o apelo visual desses produtos contribuem para sua popularização entre os jovens. “O cigarro eletrônico, o famoso vape ou pod, atrai muitos jovens pela nova roupagem, alguns são até customizados. Além disso, não tem cheiro ruim e tem sabores, não tem aquele gosto ruim do alcatrão igual ao cigarro convencional.”

Ela explica que, apesar da narrativa inicial de que os cigarros eletrônicos ajudariam a abandonar o tabaco, a proposta se mostrou enganosa. “A indústria começou com esse engodo, de que estavam lançando um produto para que ajudasse as pessoas a parar de fumar e algumas acreditaram, porque foi falado que existia uma quantidade de nicotina em gotas que a gente conseguia tatear. Por exemplo, o paciente fumava 20 cigarros, então a gente ia começar com o eletrônico com X gotas. Só que isso nunca existiu para nós médicos, porque a gente nunca soube a real quantidade de nicotina que tinha naquela gota. E a maioria desses cigarros eletrônicos já vinham com THC, que é um derivado da maconha.”

Embora sejam produtos recentes, os dispositivos já estão associados a uma série de complicações graves. “Mesmo sendo um produto novo é uma droga que já vem sendo estudada há um tempo. Em 2019 vários jovens faleceram de uma doença chamada EVALI, que é um dano alveolar difuso que vem causando nesses pacientes que levam a uma insuficiência respiratória aguda grave por um tapetamento, como se fosse um cimento que gruda no pulmão. Os pacientes internam como se fosse uma pneumonia e não é”, explica.

A médica também aponta outras doenças relacionadas. “Recentemente também foi descoberto o pulmão de pipoca, que é uma bronquiolite obliterante. E várias outras alterações sem serem pulmonares, como risco de câncer de boca, laringe, AVC, infarto, etc.”

Mesmo quando há alegações de que os usuários conseguem controlar a dose de nicotina ou escolher substâncias supostamente menos nocivas, Daniela contesta. “É muito difícil controlar a quantidade de nicotina, mas mesmo que não tenha nicotina, tem o derivado da maconha, que é o THC. E mesmo que não tenha THC, tem amônia, propilenoglicol, chumbo, produtos extremamente tóxicos, nocivos e cancerígenos para o pulmão. Então vai fazer mal praticamente do mesmo jeito.”

Ela também reforça que os danos não se limitam a quem usa os dispositivos. “A sua fumaça também tem substâncias tóxicas que podem levar ao enfisema e doenças pulmonares, como uma asma, em quem não é o fumante, mas inala essa fumaça.”

Projetos de lei sobre a regulamentação dos cigarros eletrônicos tramitam no Congresso Nacional, mas enfrentam resistência de entidades médicas. Daniela é taxativa sobre o posicionamento da categoria. “Nenhuma das sociedades médicas sérias apoiam a legalização do cigarro eletrônico, já que a gente viu que países como a Inglaterra e Reino Unido, que liberaram o uso dele, estão penando hoje com internações e a falta de leito por conta da EVALI e do pulmão da pipoca, que é a bronquiolite. E com jovens de 12, 13 anos usando, porque foi permitido. Então, nós somos contra. A Sociedade Goiana de Pneumologia é contra. A Sociedade Brasileira de Pneumologia é contra. Continuaremos contra.”

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