Brasil atinge recorde mundial de cirurgias plásticas
Com mais de 2,3 milhões de procedimentos estéticos em 2024, país lidera ranking global
O Brasil encerrou 2024 no topo do ranking mundial de cirurgias plásticas estéticas, segundo a International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). Foram 2,3 milhões de procedimentos realizados no país, ultrapassando todas as demais nações. No cenário global, o total chegou a 17,4 milhões, marcando um crescimento de 42,5% entre 2020 e 2024, um salto que consolida a força econômica do setor, mas também expõe suas fragilidades.
Entre os procedimentos mais realizados no mundo, a blefaroplastia, correção estética das pálpebras, liderou com 2.115.360 intervenções, alta de 13,4% em relação a 2023. Em seguida vieram lipoaspiração e mamoplastia de aumento. No Brasil, a lipoaspiração respondeu por 12,3% das cirurgias plásticas, seguida pela mamoplastia de aumento (9,9%), blefaroplastia (9,8%), abdominoplastia (8,2%) e aumento de glúteos (7,1%).
O levantamento da ISAPS também revela a expansão dos procedimentos não cirúrgicos. Apenas no Brasil, foram mais de 3 milhões em 2024, com destaque para a aplicação de toxina botulínica (45,7% do total, ou 351.488 casos) e preenchimento com ácido hialurônico (22,9%, ou 176.069 casos). Outros métodos, como ultrassom microfocado, laser ablativo e peelings químicos, também ampliaram seu alcance.
Se por um lado o avanço tecnológico e a ampliação do acesso sustentam esse crescimento, por outro a pressão por padrões estéticos, alimentada por redes sociais e pela cultura da imagem, molda um mercado em que a busca por autoestima se mistura à reprodução de referências de beleza massificadas.
Expansão do risco
A escalada da demanda também tem estimulado a proliferação de clínicas clandestinas. No Rio de Janeiro, dados do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (IVISA-Rio) mostram que, entre 2021 e 2023, as interdições desses estabelecimentos aumentaram 600%. Ambientes sem esterilização adequada, ausência de suporte médico e uso de substâncias não autorizadas compõem o quadro mais frequente das irregularidades, resultando em complicações graves e, em casos extremos, morte.
A recomendação de especialistas é inequívoca: verificar se o profissional é registrado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e desconfiar de valores muito abaixo da média de mercado. O perigo não se limita à execução da cirurgia, mas se estende à falta de acompanhamento pós-operatório e ao descumprimento de protocolos de segurança.
Controle e publicidade
A prática da cirurgia plástica no Brasil é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que determina, na Resolução nº 1.621/2001, que apenas médicos com residência reconhecida ou título emitido pela SBCP podem atuar na especialidade. A Resolução nº 2.306/2022 estabelece critérios para apuração de infrações éticas, enquanto a Resolução nº 2.336/2023 impõe restrições à publicidade, proibindo imagens “antes e depois” e promessas explícitas de resultados. A norma exige a identificação clara do médico, linguagem de cunho científico e informações precisas sobre riscos e limitações, além do cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) na preservação de prontuários e registros.
Essas regras buscam coibir estratégias de marketing agressivas e prevenir a captação indevida de pacientes, criando barreiras para práticas que transformam um ato médico em produto de consumo.
Desafio contínuo
O recorde brasileiro no setor expõe um paradoxo: o país se destaca pela excelência técnica de parte de seus profissionais e pela capacidade de inovação, mas convive com a precarização e o risco crescente trazido pela informalidade. Entre avanços e ameaças, o debate sobre ética, segurança e fiscalização se mantém como eixo central.
A tendência é que o número de procedimentos continue crescendo nos próximos anos, impulsionado por novas tecnologias e pela globalização de padrões estéticos. O desafio, entretanto, será garantir que a expansão venha acompanhada de medidas eficazes de proteção ao paciente, e não de estatísticas que somam casos de sucesso e tragédias no mesmo gráfico.