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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Terapia digital cresce, mas divide especialistas

A alta demanda por soluções de saúde mental impulsionou o crescimento desse segmento de terapia

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 13 de agosto de 2025
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Terapia digital cresce, mas divide especialistas. | Foto: Reprodução/Canva

Aplicativos de saúde mental que utilizam inteligência artificial vêm ganhando espaço no Brasil e em outros países, impulsionados pelo aumento da demanda por cuidados psicológicos e pelas transformações tecnológicas no setor. As plataformas, que incluem recursos como chatbots que simulam interações com terapeutas, são vistas por parte do mercado como alternativas viáveis, especialmente para quem enfrenta barreiras de acesso à psicoterapia tradicional. No entanto, a eficácia desses aplicativos em casos mais graves de transtornos psíquicos ainda é alvo de debate na comunidade especializada.

O crescimento dessas ferramentas se intensificou com a pandemia de Covid-19, período que evidenciou limitações de acesso ao atendimento presencial. Embora os recursos digitais já estivessem em expansão antes da crise sanitária, o isolamento social atuou como um catalisador. Atualmente, há diversas opções no mercado, como Vitalk, Woebot e o brasileiro Cíngulo, que acumula mais de três milhões de downloads e foi eleito o melhor aplicativo Android em 2019.

Entre os principais atrativos apontados está a facilidade de acesso, o serviço pode ser utilizado a qualquer hora e em qualquer lugar, além do custo mais acessível. Segundo a tabela do Conselho Federal de Psicologia (CFP), uma sessão presencial custa, em média, entre R$ 100 e R$ 150. Já o plano anual do Cíngulo pode ser assinado por R$ 300.

Especialistas, no entanto, alertam para as limitações desses recursos. Embora reconheçam seu papel em momentos de crise ou em locais com escassez de profissionais, apontam que os aplicativos não substituem o acompanhamento clínico presencial, sobretudo em casos de maior complexidade. Um dos pontos citados é que o processo terapêutico envolve elementos como linguagem corporal, entonação da voz e aspectos subjetivos da comunicação que não são captados por algoritmos.

Outra limitação destacada é a incapacidade dos sistemas de IA de interpretar conteúdos inconscientes ou não verbalizados pelo paciente. A escuta clínica envolve a compreensão do que é dito e, principalmente, do que está implícito, algo que, segundo psicólogos, exige habilidades humanas ainda fora do alcance das tecnologias atuais.

Há ainda preocupação com o risco de atrasos no diagnóstico de transtornos mentais mais severos, uma vez que os aplicativos não realizam avaliações clínicas profundas. Nesse contexto, especialistas recomendam que essas ferramentas sejam utilizadas como complemento e não como substituição da terapia tradicional.

A alta demanda por soluções de saúde mental impulsionou o crescimento desse segmento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking global de prevalência de transtornos de ansiedade, com cerca de 19 milhões de pessoas afetadas. Dados da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, indicam que aproximadamente 11% da população brasileira, cerca de 20 milhões de pessoas, já receberam diagnóstico de depressão. Esse cenário reforça a necessidade de ampliar o acesso aos cuidados em saúde mental, mas também exige cautela no uso de soluções automatizadas.

 

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