Tarcísio ajusta discurso após crise do “tarifaço” de Trump
Cientista político avalia, ao O HOJE, que governador paulista não recuou da corrida presidencial, mas busca equilíbrio entre agradar bolsonaristas e não afastar o eleitorado de centro
Bruno Goulart
A participação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no AgroFórum do BTG Pactual, nesta quarta-feira (13), em São Paulo, reacende — novamente — o debate sobre seu futuro político. Em meio à repercussão da crise provocada pelo chamado “tarifaço” do presidente estadunidense Donald Trump contra o Brasil, tema impulsionado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Tarcísio endureceu as críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao afirmar que “o Brasil não aguenta mais o PT” e “não aguenta mais o Lula”. A fala reforçou seu alinhamento à direita, mas também expôs o desafio de administrar a polarização.
Nos bastidores, há quem interprete a postura mais discreta do governador como um recuo em relação à disputa presidencial de 2026. A coluna Xadrez, do jornalista Wilson Silvestre, inclusive, repercutiu o assunto na edição desta quarta-feira (13). A leitura, porém, não é consenso. Ao O HOJE, o cientista político Lehninger Mota avalia que não se trata de desistência, mas de cálculo político. “Eu não acredito que o Tarcísio tenha recuado da ideia de ser candidato a presidente. É claro que ele vai esperar o melhor momento, mas você trabalha para ser presidente; se não der, um prêmio de consolação vem de ser governador de São Paulo, que em tese tem uma reeleição mais fácil do que se eleger presidente”, afirma.
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Segundo Mota, Tarcísio continua a se posicionar como um “player” nacional, aproveitando eventos com outros governadores que são pré-candidatos para criticar diretamente Lula e defender uma “nova safra de líderes” no País. No entanto, seu maior desafio está em equilibrar o discurso. “O grande problema é achar um equilíbrio entre agradar o bolsonarismo e ao mesmo tempo não parecer ser um entreguista, um cara contra a pátria, que seja a favor de uma intervenção dos Estados Unidos no Brasil”, explica.
A crise gerada pelas declarações e articulações de Eduardo Bolsonaro junto a Trump colocou Tarcísio numa posição sensível. Para Mota, qualquer manifestação exige cautela para não perder apoio em nenhum dos campos. “É difícil equilibrar essa gangorra: defender sem desagradar o centro, que é contra a intervenção estrangeira, e sem desagradar o bolsonarismo, que apoia medidas defendidas pelo Eduardo”, avalia o cientista político.
Quinteto fantástico
No cenário nacional, o espaço para Tarcísio não está garantido. Outros nomes podem ganhar força até 2026, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que, como defendeu o presidente nacional da sigla, Antonio Rueda, na edição desta terça-feira (12) do O HOJE, já é pré-candidato ao Planalto. A presença de Caiado e outros governadores no mesmo palco de Tarcísio, como Ratinho Jr. (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS), mostra que a disputa pelo protagonismo no campo não lulista está aberta. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é outro nome que postula o cargo.
Para setores próximos a Tarcísio, a estratégia de diminuir a exposição pública busca baixar a temperatura da polarização e preservar o capital político. Críticos, porém, argumentam que a redução de aparições enfraquece a expectativa de uma vitória da direita contra Lula em 2026. O PT, por sua vez, vê no governador paulista um adversário real e tenta desgastá-lo ao fazer constante associação de Tarcísio a Bolsonaro, enquanto trabalha para lançar um nome competitivo em São Paulo.
No meio desse tabuleiro, Tarcísio mantém o foco administrativo no Estado e, paralelamente, costura alianças. Mas uma questão fica clara: sua fala contra Lula e o PT, nesta quarta-feira (13), indica que está longe de abandonar o projeto presidencial — ele aguarda o momento ideal para avançar. De preferência, sem se tornar refém da polarização que domina o cenário político brasileiro desde 2018. (Especial para O HOJE)