A Polícia Federal indiciou, nesta quarta-feira (20), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. A investigação integra o inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado.

Durante a análise do celular de Jair Bolsonaro, os investigadores encontraram um arquivo editável que apresentava um pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. O documento, sem data e assinatura, solicitava urgência no acolhimento do ex-mandatário. Segundo a PF, o material indica que, desde fevereiro de 2024, Bolsonaro planejava formas de deixar o Brasil para evitar a aplicação da lei penal.

O relatório também registra que foram recuperados áudios e mensagens que haviam sido apagados do aparelho de Bolsonaro. O conteúdo envolve diálogos com Eduardo Bolsonaro e com o pastor Silas Malafaia. Para os investigadores, esses elementos reforçam as tentativas de articulação destinadas a intimidar autoridades e comprometer o andamento das apurações.

A análise técnica revelou que o documento de 33 páginas foi criado por um usuário identificado como “Fernanda Bolsonaro”. O nome aparece nos metadados como autor original e último editor do arquivo. A PF apontou a possibilidade de que se trate de Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, nora do ex-presidente e esposa do senador Flávio Bolsonaro.

O relatório recorda que, em dezembro de 2023, Jair Bolsonaro havia comunicado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), uma viagem à Argentina. A informação reforça, de acordo com os investigadores, que o ex-presidente mantinha alternativas de evasão caso houvesse avanço das investigações.

No mesmo inquérito, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão contra Silas Malafaia. O pastor teve o passaporte retido, além da apreensão de celular e materiais pessoais. Ele desembarcou no Brasil nesta quarta-feira, vindo de Lisboa, e foi conduzido ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para prestar depoimento.

A investigação foi aberta em maio, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que já havia apontado a atuação de Eduardo Bolsonaro em tentativas de pressionar autoridades nos Estados Unidos contra ministros do STF. Em julho, o ministro Alexandre de Moraes prorrogou a apuração por mais 60 dias para realização de diligências adicionais.

Jair Bolsonaro segue em prisão domiciliar, determinada em razão de descumprimento de ordens judiciais anteriores.