Dia Internacional da Igualdade Feminina reforça luta por equidade de gênero
Data celebrada avanços históricos, mas expõe desafios persistentes para mulheres no Brasil
O Dia Internacional da Igualdade Feminina, celebrado nesta terça-feira (26), é mais do que uma data no calendário: representa um marco de reflexão sobre a trajetória de conquistas e desafios enfrentados pelas mulheres em busca de equidade de gênero. O dia remete à aprovação da 19ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, em 1920, que garantiu o voto feminino no país. No Brasil, a data também relembra um percurso de avanços iniciado há 90 anos, com a promulgação do Código Eleitoral de 1932, que abriu espaço para que as mulheres pudessem exercer o direito de votar e serem votadas.
A luta pela igualdade, no entanto, não se limita às urnas. Ao longo das décadas, mudanças legais e sociais ampliaram a presença das mulheres em diversos espaços, mas a realidade ainda expõe desigualdades profundas. Segundo dados do Fórum Econômico Mundial de 2024, a igualdade plena entre homens e mulheres no mercado de trabalho só deve ser alcançada em cerca de 90 anos, caso o ritmo atual de avanços seja mantido.
Linha do tempo
O Código Eleitoral de 1932 foi um divisor de águas na política brasileira. Pela primeira vez, mulheres alfabetizadas e maiores de 21 anos puderam se alistar como eleitoras, uma vitória histórica. Três décadas depois, em 1962, o Estatuto da Mulher Casada consolidou mais um passo importante: a possibilidade de exercer atividades profissionais sem a autorização do marido.
Nos anos seguintes, outras mudanças vieram ampliar a autonomia feminina. Em 1974, as mulheres conquistaram o direito de possuir cartão de crédito sem consentimento do cônjuge, marco que contribuiu para maior independência financeira. Já em 1985, a criação da primeira Delegacia da Mulher fortaleceu a rede de proteção contra a violência de gênero.
A Constituição de 1988, por sua vez, estabeleceu um novo patamar ao reconhecer a igualdade de direitos entre homens e mulheres, consolidando juridicamente um princípio que ainda hoje enfrenta resistência em muitas áreas. Esses marcos compõem um caminho contínuo de avanços, mas também de desafios permanentes.
Feminicídio como obstáculo central
Entre os maiores desafios atuais está o feminicídio, considerado o ponto mais extremo da violência de gênero. O Brasil ocupa lugar alarmante nesse cenário: de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é morta a cada seis horas vítima desse crime. A maioria das ocorrências acontece dentro de casa e tem como autor o próprio companheiro ou ex-companheiro, o que revela a permanência de padrões de violência estrutural.
Para a socióloga e feminista Mariana Albuquerque, o enfrentamento ao feminicídio exige mais do que leis. “A legislação é fundamental, mas precisamos de políticas públicas permanentes, investimentos em redes de acolhimento e campanhas educativas que mudem a cultura machista enraizada. Sem isso, as estatísticas continuarão a ser uma ferida aberta na sociedade”, afirma.
Igualdade no trabalho
No campo profissional, os avanços legais mais recentes buscaram reduzir desigualdades salariais e combater a discriminação de gênero. Uma lei aprovada em 2023 obrigou empresas a divulgarem informações sobre faixas salariais e cargos ocupados por homens e mulheres. Estimulando a transparência e o equilíbrio no mercado de trabalho.
Além disso, programas de conscientização vêm sendo implementados para promover ambientes mais inclusivos e livres de assédio. Essas medidas, no entanto, ainda esbarram em práticas enraizadas. O relatório do Fórum Econômico Mundial revelou que, mesmo com progressos, a paridade de gênero no trabalho segue distante.
Reflexão para o futuro
O Dia Internacional da Igualdade Feminina é, portanto, um convite à reflexão coletiva. Ele relembra que a conquista do voto em 1932 foi apenas o início de uma jornada que se estende até os dias atuais. A equidade de gênero não se resume a legislações ou estatísticas. Envolve também uma transformação cultural que permita a todas as pessoas, independentemente do gênero, viverem com dignidade, segurança e oportunidades iguais.
Enquanto as conquistas legais oferecem bases sólidas, os dados sobre feminicídio, desigualdade salarial e discriminação mostram que ainda há muito a avançar. O desafio para o Brasil e para o mundo é transformar o simbolismo da data em ação concreta, assegurando que a igualdade deixe de ser uma meta distante e se torne, de fato, uma realidade cotidiana.