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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Abandono

Juizado determina acolhimento de bebê que passou mais de um ano na UTI do Hugol

Medida protetiva visa garantir estímulos adequados e ambiente seguro para criança de 1 ano e 8 meses, enquanto Ministério Público e Judiciário acompanham o caso

Eduarda Leitepor Eduarda Leite em 5 de setembro de 2025
Segundo relatos, o ambiente fechado da UTI tem impactado o desenvolvimento da criança Foto: Portal Domingos Ketebey
Segundo relatos, o ambiente fechado da UTI tem impactado o desenvolvimento da criança Foto: Portal Domingos Ketebey

Um bebê de 1 ano e 6 meses, abandonado pela família, vive há mais de um ano dentro da UTI de cardiopediatria do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia. Clinicamente estável e sem necessidade de cuidados intensivos, o menino permanece confinado em um cercadinho dentro da unidade porque ainda aguarda decisão judicial sobre seu futuro.

Segundo relatos, o ambiente fechado da UTI tem impactado o desenvolvimento da criança. Sem acesso à luz natural, ele apresenta alterações no sono e passa a maior parte do tempo sem estímulos externos. “Às vezes ele troca a noite pelo dia, fica acordado durante a madrugada e agora de manhãzinha geralmente é o tempo que ele tá dormindo. UTI é super complicado”, relatou uma pessoa ligada ao caso, sob anonimato.

De acordo com médicos e enfermeiros, o bebê nunca teve contato direto com o mundo exterior desde que passou a viver no hospital. A rotina se resume ao espaço restrito da cardiopediatria, onde os profissionais se tornaram, na prática, sua única referência afetiva.

Impasse judicial

O menino foi internado ainda recém-nascido e, com o tempo, perdeu totalmente o vínculo com os pais. Desde então, Conselho Tutelar e Justiça acompanham a situação, mas sem avanços práticos.

Há mais de um ano tramita um processo em segredo de justiça para definir se a criança será encaminhada para adoção ou para um abrigo. A morosidade mantém o impasse e o bebê continua ocupando um leito que poderia ser destinado a outro paciente em estado grave, já que a UTI do Hugol opera constantemente lotada.

Recentemente, o processo foi remetido ao Ministério Público de Trindade, cidade onde a família do menino supostamente reside. Porém, o MP-GO informou que os autos chegaram à 3ª Promotoria de Justiça de Trindade em 26 de agosto de 2025. O órgão já solicitou informações ao hospital e aguarda resposta para definir as próximas medidas.

Conselho Tutelar e Juizado determinam acolhimento do bebê

A conselheira tutelar Vanessa Assis, da Região Noroeste de Goiânia, relatou ao O HOJE que o órgão já acompanha o caso há algum tempo. Segundo ela, houve tentativas de manter a família como acompanhante, mas não houve êxito.

“Fomos comunicados e o conselho já atua nesse caso há algum tempo, intervindo entre a família e o hospital. Tentamos viabilizar a permanência da família como acompanhante, mas infelizmente não aconteceu. Comunicamos ao Ministério Público e ao Juizado da Infância e Juventude. Também solicitamos junto ao hospital o acolhimento institucional dessa criança, o que ocorreu na data de hoje. Ele foi acolhido por uma instituição e agora se encontra sob os cuidados dela. Judicialmente, os pais provavelmente vão recorrer para tentar reaver a guarda”, explicou.

Vanessa destacou ainda a condição de vulnerabilidade social da família, que tem outros cinco filhos. “É uma família carente, que alegou não ter condições de permanecer com o bebê no hospital”, acrescentou.

Após a repercussão do caso, nesta sexta-feira (5) o Juizado da Infância e Juventude expediu medida protetiva determinando o acolhimento institucional do bebê, agora com 1 ano e 8 meses, após mais de um ano de internação sem a presença da família. Equipes do Conselho Tutelar e de um abrigo foram ao Hugol para retirar a criança e oferecer cuidados médicos e estímulos sociais adequados.

Segundo a conselheira Vanessa Assis, os pais já foram citados a prestar esclarecimentos e podem responder por abandono e negligência. O processo seguirá acompanhado pelo Ministério Público e pelo Judiciário, que deverão definir tanto o futuro da criança quanto eventuais responsabilidades.

Profissionais do hospital alertaram ainda para os impactos do confinamento prolongado sem luz natural e estímulos no desenvolvimento do menino. Agora, em um abrigo, ele terá contato com novas referências afetivas e um ambiente mais apropriado para seu crescimento.

Leia mais: Briga entre vizinhas termina em esfaqueamento em Goiânia

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