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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
bruxo dos sons

Hermeto Pascoal, o bruxo que fez do mundo sua orquestra, morre aos 89 anos

Compositor alagoano transformou chaleiras, pássaros e vozes em música e levou a experimentação brasileira dos forrós de infância ao palco de Miles Davis e Montreux

Luana Avelarpor Luana Avelar em 15 de setembro de 2025
16 MATERIA CREDITOS Divulgação
Foto: Divulgação

Morreu no último sábado (13), no Rio de Janeiro, o compositor, arranjador e multi-instrumentista Hermeto Pascoal, aos 89 anos. Conhecido como “o bruxo dos sons”, ele atravessou quase oito décadas de carreira reinventando os limites da música. A notícia foi confirmada em nota publicada nas redes sociais por sua equipe e familiares.

“Quem desejar homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria”, escreveu a família. O comunicado acrescentou que Pascoal partiu cercado por parentes e companheiros de música, enquanto seu grupo se apresentava no palco. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos, decorrente de complicações de fibrose pulmonar, segundo o Hospital Samaritano Barra.

Nascido em Lagoa da Canoa, interior de Alagoas, em 1936, quando a cidade ainda era distrito de Arapiraca, Hermeto cresceu entre o silêncio da roça e os sons da natureza. Desde cedo, transformava tudo em melodia: o vento, o canto dos pássaros, o barulho da água. Aos 11 anos, já tocava sanfona de oito baixos nas festas locais, acompanhado do irmão José Neto.

Em 1950, a família mudou-se para Recife, onde os irmãos começaram a trabalhar em rádios locais. Ali, Hermeto mergulhou no ambiente profissional, experimentou o piano e ampliou seu repertório. Nos anos 1960, em São Paulo, fundou o Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Théo de Barros e Heraldo do Monte. O grupo acompanhou Edu Lobo na canção “Ponteio”, vencedora do 3º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, marco que abriu portas para a consagração.

Pouco depois, Hermeto acompanhou Geraldo Vandré em turnê e seguiu para os Estados Unidos, onde gravou ao lado de Miles Davis. O jazzista o apresentou ao mundo como “o músico mais impressionante do planeta”. Daí em diante, sua música ultrapassou fronteiras. Vieram discos como A Música Livre de Hermeto Pascoal (1973), Slaves Mass (1977) e Lagoa da Canoa, Município de Arapiraca (1985), além da histórica apresentação no Festival de Montreux, em 1979.

Sua produção era marcada por invenções: fez música com vozes de narradores esportivos, sons de animais, chaleiras e garrafas. Lançou projetos ousados, como o Calendário do Som, no qual escreveu uma música por dia durante um ano inteiro, resultado que virou livro com 444 páginas.

Premiado três vezes com o Grammy Latino, Hermeto recebeu títulos de doutor honoris causa da Juilliard School, em Nova York, e de universidades brasileiras como UFPB e UFAL. No exterior, ganhou homenagens inusitadas: virou nome de rosa e até de uma árvore recém-descoberta. Em 2023, ao ser reconhecido pela Juilliard, foi reverenciado pelo trompetista Wynton Marsalis, que destacou a capacidade do alagoano de tirar músicas até de uma xícara de chá.

Viúvo desde 2000, quando perdeu a companheira Ilza após 46 anos de casamento, Hermeto deixou seis filhos: Jorge, Fábio, Flávia, Fátima, Fabiula e Flávio Pascoal, percussionista que seguiu seus passos. Seu último álbum, Pra Você, Ilza (2024), foi um tributo íntimo à mulher, composto a partir de canções guardadas desde a morte dela.

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