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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
ECONOMIA

Pressão sobre o boi gordo leva Estado goiano a reduzir matrizes para equilibrar mercado

Enquanto o Brasil aumenta seu rebanho, produtores retêm matrizes para garantir bezerros valorizados nos próximos anos

Caroline Gonçalvespor Caroline Gonçalves em 15 de setembro de 2025
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Especialista alerta para a necessidade de planejamento na reposição de animais, diante de custos crescentes e mercados interno e externo ainda instáveis Foto: Reprodução/ JMMatos

O mercado de carne bovina atravessa um momento estratégico em relação às matrizes, e os pecuaristas estão ajustando o manejo de fêmeas pensando no futuro da pecuária. Diferente do que ocorre nos Estados Unidos, onde há redução de rebanho, o Brasil mantém o aumento do número de animais, com destaque para Goiás, onde os produtores estão retendo vacas para gerar bezerros mais valorizados nos próximos anos.

Segundo Marcelo Penha, analista do Mercado Ifag, Instituto para Fortalecimento da Agropecuária em Goiás, “fazendo um comparativo de abate de fêmeas de vacas, de 2023 e 2024, no Brasil tivemos aumento de 25% no primeiro trimestre e 19,7% no segundo. Em 2024 e 2025 também houve aumento: 28% no primeiro trimestre, caindo para 13,2% no segundo. Em Goiás, houve aumento de 10,4% e 8% entre 2023 e 2024, mas em 2024 e 2025 já houve queda de 3,3% no primeiro trimestre e aumento de 3,9% no segundo trimestre. Isso mostra que Goiás reduziu bem o abate de fêmeas em relação ao Brasil, indicando que o pecuarista aposta na produção de bezerro a partir de 2025 e 2026”.

Penha ressalta que, na prática, “não está havendo redução de matriz no Brasil, mas sim aumento do rebanho. Com a virada do ciclo pecuário e o bezerro valorizando, o pecuarista segura a vaca para produzir bezerro e vender acima de R$ 3 mil a partir de 2026. O que ocorre é uma inversão do ciclo pecuário, com retenção de fêmeas, mais evidente em Goiás, menos no resto do país”.

Essa estratégia tem impacto direto no mercado de reposição de animais. “Como o ciclo de pecuária inverteu, haverá retenção de fêmeas agora, o que significa que vai faltar bezerro no mercado. A demanda por bezerros vai superar a oferta, aumentando o preço da reposição, seja bezerro, garrote ou boi. O preço da reposição tende a subir daqui para frente”, explica.

O analista também relaciona a dinâmica das matrizes com o preço do boi gordo. “O que pode estar fazendo o preço do boi gordo cair é que os maiores confinamentos agendam seus animais nos principais frigoríficos, como JBS, Plena e Minerva. Gado de terceiros não entra. Além disso, contratos a termo pelos pecuaristas mantêm o preço entre R$ 280 e R$ 290/@. Isso mantém o boi gordo estável, mas preocupa os produtores que esperavam preços maiores”, detalha Penha.

Apesar do consumo interno mais lento, o mercado externo continua aquecido, o que ajuda a sustentar os preços. “As exportações estão em crescimento, com aumento de 15% em relação ao ano passado. China e Estados Unidos puxam a demanda, e isso é essencial para que o setor continue firme”, acrescenta o especialista.

Enquanto o Brasil mantém seu rebanho crescente, os Estados Unidos já adotaram a redução de animais, evidenciando diferenças na condução da pecuária. “Nos EUA, a redução de rebanho mostra que não há sucessão como no Brasil. Aqui, o país aumenta o rebanho e, a partir do ano que vem, deve se tornar o maior produtor de bovinos em termos de carcaça, ultrapassando os Estados Unidos. Logo, o Brasil será o maior exportador e produtor de carne bovina do mundo”, afirma Penha.

A retenção de matrizes em Goiás também reflete na valorização futura da carne. Com menos bezerros disponíveis nos próximos ciclos, o equilíbrio entre oferta e demanda tende a beneficiar a arroba, impactando positivamente o setor. Para os pecuaristas, isso significa planejamento cuidadoso, observando custos de produção, reposição e demanda internacional.

O movimento atual não só altera a dinâmica da oferta de animais, mas também aponta para o fortalecimento do Brasil como protagonista global da pecuária. Enquanto o País amplia seu rebanho e aposta na retenção estratégica de matrizes, os produtores precisam alinhar manejo, custos e planejamento para aproveitar a valorização esperada dos bezerros e da carne no médio prazo, evitando surpresas no preço do boi gordo e garantindo sustentabilidade econômica para os próximos ciclos.

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