USP propõe guia clínico para diagnóstico e tratamento da neurocisticercose
Doença causada pela Taenia solium é principal responsável por epilepsia adquirida em países de baixa e média renda; artigo sugere protocolos personalizados para pacientes
A neurocisticercose, infecção provocada pela larva da Taenia solium, permanece como a principal causa de epilepsia adquirida em regiões da América Latina, Ásia e África. Apesar dos avanços na medicina, ainda não há consenso sobre os métodos mais eficazes de diagnóstico e tratamento. Para enfrentar essa lacuna, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP publicaram um artigo de revisão que sugere protocolos clínicos baseados em evidências e aponta caminhos para a personalização da terapia.
A doença ocorre após a ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos do parasita. Em áreas endêmicas, a precariedade do saneamento básico e o consumo de carne de porco mal cozida são fatores centrais para a transmissão. Uma vez ingeridos, os embriões podem se disseminar pelo organismo e atingir o sistema nervoso central, onde se desenvolvem em cisticercos. Os sintomas incluem dores de cabeça, convulsões, confusão mental e, em casos graves, meningite ou hidrocefalia.
O diagnóstico depende de exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, embora os exames sorológicos ainda sejam amplamente usados. O estudo alerta, porém, para limitações desses testes, que têm boa sensibilidade em casos de múltiplas lesões, mas falham em identificar cistos únicos ou calcificados. Pesquisas em andamento testam o uso de antígenos recombinantes e proteínas sintéticas, mas esses recursos ainda não estão disponíveis na prática clínica da maioria dos centros.
O tratamento combina antiparasitários, anti-inflamatórios — especialmente corticosteroides — e medicamentos anticonvulsivantes. Em situações específicas, como casos graves ou lesões inacessíveis ao tratamento farmacológico, a cirurgia é considerada. O artigo destaca a necessidade de atenção especial a grupos vulneráveis: em crianças, a doença tende a ser mais branda, mas múltiplas lesões aumentam o risco de epilepsia recorrente; em gestantes, alterações imunológicas podem modificar a evolução da infecção, exigindo equilíbrio entre risco materno e fetal.
Os autores defendem ainda mudanças estruturais para o controle da neurocisticercose, incluindo investimentos em ensaios clínicos robustos e políticas públicas que reduzam a proliferação do parasita. Entre as medidas sugeridas estão a vacinação de suínos, o uso de vermífugos na criação, além da ampliação do saneamento básico e do acesso à água potável.