Panificação cresce e fatura R$ 153 bilhões com cafés, doces e novas experiências
Empreendimentos apostam em cafés da manhã, doces artesanais e kits de presente
O mercado de panificação atravessa um momento de visibilidade e dinamismo que vai muito além do balcão. Em 2024, o setor faturou R$ 153,36 bilhões, alta nominal de 10,9% em relação a 2023, segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento das Empresas de Alimentação (Ideal). O desempenho consolidou a panificação como uma das atividades mais resilientes da alimentação, com impacto direto no varejo de bairro e nas micro e pequenas empresas.
Expansão acelerada de novas padarias
O primeiro indício da força do segmento está no número de empreendimentos. Dados do Sebrae mostram que o Brasil vem registrando uma onda de abertura de padarias, com cerca de 130 novas unidades inauguradas por dia em 2024. Em 2025, o ritmo segue acelerado, com dezenas de milhares de novos CNPJs no setor. A expansão é impulsionada por modelos de negócio mais enxutos, produção artesanal, revenda de produtos complementares e parcerias com cafeterias e minimercados.
A panificação, tradicionalmente marcada por empresas familiares, passou a atrair microempreendedores e franquias, interessados em aproveitar o consumo recorrente e a versatilidade do produto. “O pão é um item democrático e cotidiano, que se adapta a todas as faixas de renda. Essa constância garante previsibilidade ao negócio, mesmo em períodos de instabilidade”, explica o consultor de negócios alimentares Vinícius Dantas.
Consumo por ocasião impulsiona o faturamento
O crescimento, no entanto, não é homogêneo. Duas forças definem o desempenho atual: de um lado, o aumento do consumo por ocasião — cafés da manhã, snacks matinais, encomendas para festas e a chamada “sexta de presentes”, quando itens de confeitaria e panificação são comprados como agrado; de outro, a alta nos custos de insumos, como farinha, óleo e embalagens, que pressiona as margens e obriga reajustes de preços.
A diversificação de produtos tornou-se essencial para a rentabilidade. Pães artesanais, opções integrais e funcionais, bolos por fatia, doces gourmets e cafés especiais vêm ampliando o tíquete médio nas padarias que oferecem experiência completa ao consumidor — mesas, cardápios de café da manhã e combos para consumo no local. Paralelamente, o mercado de panificação industrial e de produtos congelados cresce e abastece redes varejistas e restaurantes. Especialistas destacam que a convivência entre o artesanal e o industrial é uma das principais alavancas de faturamento.

Emprego, tecnologia e gestão eficiente
O impacto econômico da panificação é expressivo: o setor gera mais de um milhão de empregos diretos e indiretos e movimenta uma ampla cadeia produtiva que inclui moinhos, laticínios, confeiteiros, fabricantes de embalagens e serviços logísticos. Para novos empreendedores, o ponto de partida costuma ser o MEI, com evolução gradual para CNPJ e formatos mais estruturados, como padarias-conceito e dark kitchens voltadas à produção sob encomenda.
A gestão eficiente tem se mostrado determinante. O controle de desperdícios e o investimento em tecnologia são hoje pilares da sobrevivência. Sistemas de gestão (ERPs), controle de estoque e plataformas digitais de venda permitem reduzir perdas e aumentar o giro de produção. “Quem consegue equilibrar custo e produtividade abre espaço para investir em produtos de maior valor agregado”, avalia Dantas.
Além disso, o avanço dos pedidos por aplicativos e dos kits de café da manhã entregues em domicílio tem ajudado a manter o movimento, aproximando o consumidor do negócio pela conveniência.
Mudança de hábitos e novas oportunidades
Do ponto de vista do consumo, há uma clara tendência de indulgência controlada — porções menores, porém mais elaboradas, que conciliam prazer e bem-estar. O interesse por ingredientes selecionados e produtos prontos para o café da manhã em casa também fortalece o setor. Esses hábitos abrem espaço para linhas de doces finos, bolos artesanais e produtos voltados a presente, como panetones, pães decorados e caixas temáticas de café da manhã, que vêm ganhando espaço em datas comemorativas.
As perspectivas para 2025 e 2026 indicam crescimento nominal moderado, condicionado ao cenário macroeconômico. Inflação, juros e custo de energia ainda impactam o poder de compra e os investimentos. Mesmo assim, a tendência é de consolidação de nichos voltados à experiência no ponto de venda, encomendas corporativas, assinaturas mensais de produtos e parcerias com cafeterias e redes de varejo.
Panificação como termômetro da economia local
O setor de panificação continua a ser um termômetro do consumo doméstico e regional, refletindo a disposição das famílias em gastar com itens básicos e indulgentes. A combinação entre tradição e inovação sustenta um mercado que se reinventa diariamente — do pão francês da esquina aos produtos gourmet de alto valor agregado.
Para quem atua na área, o recado é claro: gestão eficiente, adaptação ao novo consumidor e digitalização são os ingredientes indispensáveis para manter o forno sempre aceso e transformar o pão nosso de cada dia em um negócio de futuro.