Com o enfraquecimento do PSD em Goiás, Kassab pode ter que intervir
Embora o PSD nacional tenha se tornado o partido com maior número de prefeitos no Brasil, em Goiás a sigla murchou: mantém apenas três administrações municipais e enfrenta um racha profundo sob o comando de Vanderlan Cardoso
Bruno Goulart
O PSD vive, em Goiás, um momento de enfraquecimento claro. A sigla, que nasceu grande em 2011 sob a articulação do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e que no Estado foi estruturada pelo ex-deputado Vilmar Rocha, seguiu caminho inverso ao do restante do País. Enquanto nacionalmente se consolidou como potência eleitoral, alcançando o maior número de prefeitos (885) nas últimas eleições municipais, em Goiás se isolou, encurtou bases e abriu flancos de crise interna.
Para entender o contraste, é necessário lembrar que o PSD foi criado como um partido pragmático, sem amarras ideológicas e capaz de dialogar com diferentes campos políticos. Essa, segundo o cientista político Lehninger Mota, ouvido pelo O HOJE, sempre foi a marca de Kassab: “O PSD foi criado para ser um partido pragmático, podendo andar com a direita ou com a esquerda, dependendo do interesse. É um partido sem campo ideológico definido. O Gilberto Kassab sempre foi um político muito habilidoso, com entrada e diálogo em todos os partidos, construindo esse partido ao longo do tempo”.
Foi essa habilidade que fez o PSD crescer nacionalmente. Em Goiás, contudo, o resultado é outro: a sigla elegeu apenas três prefeitos em 2024, um desempenho considerado fraco e destoante da estratégia nacional.
Lehninger Mota aponta a raiz do problema: a incapacidade de Vanderlan Cardoso, presidente estadual da legenda, de exercer um papel de articulação minimamente eficiente. De acordo com o analista, “Vanderlan sempre teve dificuldade de criar e manter um grupo”. “Não tem essa capacidade de aglutinação, de liderança, de estar sempre dialogando com algumas lideranças, fazendo basicamente o papel que o Kassab faz nacionalmente.”
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Além disso, a ascensão de Vanderlan ao Senado, em 2018, não veio acompanhada de construção política sólida. O parlamentar surfou no recall acumulado de sucessivas candidaturas. De 2004 até hoje, Vanderlan participou de todas as eleições. No entanto, ao chegar na reta final de seu mandato, encontra-se politicamente isolado.
Insatisfação generalizada no PSD
A insatisfação dentro do PSD goiano é generalizada. Aliados importantes, como o presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego), Francisco Jr., o deputado federal Ismael Alexandrino e o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, têm dado sinais claros de desconforto e críticas à condução do partido. Muitos já cogitam saída. Alexandrino, por exemplo, “pelo jeito vai para o PL”, avalia Lehninger. Mendanha, que chegou a ser apontado como aposta para o Senado com supostas garantias de Kassab, já analisa outras siglas após perceber que o acordo não se sustentava. A questão que fica é: o que vai restar do PSD com a saída de seus maiores nomes?
A chegada de Mendanha ao PSD, inclusive, foi um dos pontos que acirraram a crise. O movimento foi interpretado por parte da classe política como o fim da candidatura de Vanderlan à reeleição. Entretanto, sem alinhamento interno e com promessas contraditórias, o episódio evidenciou um partido desorganizado. “Isso mostra um despreparo e um desacordo dentro de um partido que já é pequeno em Goiás”, conclui Lehninger Mota.
Diante desse quadro, cresce a dúvida: Kassab manterá Vanderlan no comando? A pressão interna aumenta e o contraste com o desempenho nacional torna-se cada vez mais difícil de justificar. Para o estrategista político Marcos Marinho, “se o partido não entregar resultados a Kassab nas próximas eleições, é provável que haja mudanças no comando estadual”.
Reestruturação
Aliados de Vanderlan Cardoso admitem o desempenho fraco do PSD nas eleições municipais, mas afirmam que o resultado faz parte de um processo maior de reorganização interna. Eles destacam que, desde que o senador assumiu o comando do partido em 2023, o número de comissões provisórias saltou de cerca de 25 para aproximadamente 170, todas regularizadas, o que aponta para uma possível estruturação. Segundo dirigentes próximos a Vanderlan, a prioridade agora é formar chapas competitivas para deputado estadual, federal e para o Senado. (Especial para O HOJE)