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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
persistência de violências

Racismo no trabalho expõe falhas estruturais nas relações profissionais

Levantamento aponta que um terço das decisões judiciais por discriminação racial em 2025 teve origem em ambientes profissionais, revelando a persistência de violências onde deveriam vigorar normas de proteção

Luana Avelarpor Luana Avelar em 26 de novembro de 2025
racismo no trabalho
Foto: FreePik

Uma análise de 4.838 decisões judiciais publicadas entre janeiro e outubro de 2025 coloca o racismo no trabalho no centro das denúncias de discriminação racial no Brasil. Segundo o estudo da plataforma Jusbrasil, 30% dos casos analisados — 1.407 registros — tiveram origem em relações profissionais, revelando a força de práticas discriminatórias em ambientes regidos por normas internas e códigos de conduta.

Desse total, 1.113 episódios envolveram diretamente empregadores e empregados, atrás apenas das agressões cometidas por desconhecidos, que somaram 1.291. Os dados apontam que, mesmo em espaços formalmente regulados, a violência racial continua estruturando dinâmicas hierárquicas e afetando de maneira desigual trabalhadores que convivem diariamente com situações de humilhação, isolamento ou hostilidade.

Dinâmicas que sustentam o racismo no trabalho

O estudo mostra que o ambiente profissional supera espaços públicos, responsáveis por 974 decisões no período, e estabelecimentos comerciais, que reuniram 805 registros. A distribuição evidencia que o racismo atravessa deslocamentos cotidianos, relações de consumo e vínculos de serviço, produzindo efeitos duradouros sobre trabalhadores e consumidores.

Outro dado relevante aponta que 39,5% das decisões resultaram em condenações criminais, alcançando 1.910 casos. A proporção indica que parte significativa das denúncias encontra respaldo jurídico quando chega ao Judiciário, ainda que o volume de ocorrências supere a capacidade institucional de prevenção e resposta.

O levantamento foi produzido com apoio de ferramentas de inteligência artificial para identificar palavras-chave e classificar ocorrências, sob supervisão técnica de especialistas em informação jurídica. A base documental utilizada reúne cerca de 7 bilhões de registros públicos, o que permitiu mapear tendências e recortes essenciais ao debate público.

racismo no trabalho
Entre os episódios registrados nos locais de trabalho, 1.113 envolveram vínculo direto entre empregadores e empregados. Foto: FreePik

Desigualdade de gênero

Os dados conversam com estatísticas nacionais recentes. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 registra 18,2 mil casos de injúria racial e 18.923 episódios de racismo em 2024. No recorte profissional, a sobreposição entre raça e gênero é evidente: entre as 1.407 ocorrências identificadas, 554 vítimas são mulheres, 239 são homens e, em 613 decisões, o gênero não pôde ser verificado.

No campo legislativo, a Câmara dos Deputados aprovou, em abril de 2025, um projeto que amplia penas para injúria racial quando o crime é cometido contra mulheres ou idosos. O texto prevê aumento de um a dois terços sobre a pena atual, que varia de dois a cinco anos de reclusão, além de multa.

Para especialistas consultados no estudo, os números revelam a urgência de ações específicas para ambientes profissionais, considerados zonas de vulnerabilidade acentuada devido às relações de poder entre empregadores e empregados. Mapear os locais de maior incidência é entendido como passo fundamental para formular políticas públicas de prevenção e enfrentamento do racismo no trabalho.

racismo no trabalho
Decisões judiciais expõem como o racismo no trabalho permanece ativo em estruturas hierárquicas do país. Foto: FreePik

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