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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Operação nacional

Operação expõe colapso na frota do Samu e pressão por respostas em Goiânia

Irregularidades na manutenção das ambulâncias do Samu revelam fragilidade no atendimento de urgência, mobilizam o Sindsaúde e levam a Secretaria Municipal de Saúde a detalhar como funciona hoje a gestão do serviço

Letícia Leitepor Letícia Leite em 29 de novembro de 2025
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PF estima que apenas R$ 2,4 milhões dos R$ 8 milhões previstos em contratos da Saúde foram destinados à frota do Samu no período. Foto: Divulgação/Polícia Federal

A Operação Check-up 192, deflagrada na manhã desta sexta-feira (28) pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), revelou um cenário de desmonte, irregularidades operacionais e suspeitas de desvio milionário envolvendo a frota de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Goiânia. 

A ação cumpre nove mandados de busca e apreensão, sendo sete na Capital e dois em Aparecida de Goiânia, e apura fraudes ocorridas entre 2022 e 2024, período correspondente à gestão do ex-prefeito Rogério Cruz (SD).

As investigações apontam que as ambulâncias permaneceram longos períodos paradas e sucateadas, mas continuavam gerando despesas de manutenção como se estivessem em pleno funcionamento. A PF estima que ao menos R$ 2,4 milhões, dos R$ 8 milhões previstos em contratos da Saúde, foram destinados à frota do Samu no período — embora o valor exato do desvio ainda não esteja consolidado.

Segundo o delegado federal André Monteiro, o esquema simulava serviços mecânicos e utilizava oficinas clandestinas para justificar notas frias e superfaturadas. “Eram feitos serviços simulados, superfaturados. Uma ambulância que num mês comprou quatro vezes o freio pra ela. Difícil precisar de quatro vezes”, afirmou.

O delegado explicou ainda que o suposto grupo era composto por servidores municipais que atuavam “nas duas pontas”, como fiscais dos contratos e como operadores das manutenções fraudulentas. “A frota ficou por um bom tempo praticamente pela metade. Acredito que tem um prejuízo bem grande à população, porque as ambulâncias simplesmente não saíam para atender”, disse.

Irregularidades no Samu vieram à tona após relatório do DenaSUS

Samu
O delegado explicou ainda que o grupo era composto por servidores municipais que atuavam “nas duas pontas”, como fiscais dos contratos e como operadores das manutenções fraudulentas. Foto: Divulgação/Polícia Federal

Segundo a superintendente da CGU em Goiás, Suzana Kroehling, as irregularidades vieram à tona após auditorias do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (DenaSUS) e após denúncias feitas no ano passado.

“A CGU se debruçou sobre aqueles processos de pagamentos para constatar que estavam havendo pagamentos com evidências de que os serviços não foram realmente prestados”, explicou. Ela complementa que estavam sendo emitidas notas repetidas para a mesma ambulância, no mesmo período, e que isso são fortes indícios de que o serviço não foi prestado.

Kroehling destacou ainda que a auditoria analisou documentos entre janeiro de 2022 e abril de 2024, mas não avaliou a gestão atual, ela afirma que não se pode confirmar se o esquema continuou, mas que os contratos seguem vigentes, mas que não foram analisados os documentos recentes.

Sindsaúde diz ter denunciado irregularidades e relata mortes por falta de atendimento

Em entrevista ao jornal O HOJE, a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde/GO), Néia Vieira, afirmou que as revelações confirmam denúncias feitas anteriormente pelo sindicato.

“Nós avaliamos essas irregularidades sem nenhuma surpresa, até porque nós já havíamos feito essa denúncia do Samu, não sabemos se essa investigação foi a partir da denúncia que nós fizemos junto com o deputado Mauro Rubem. Nós informamos das ambulância paradas, a falta de manutenção e dissemos que isso estava afetando o atendimento às pessoas, relatamos, inclusive, casos de morte em função da falta de operação”, afirmou.

Para ela, o caso reforça a importância de servidores efetivos na gestão da frota. “Foi a partir dos servidores públicos que nós tivemos as informações de que as ambulâncias não estavam tendo manutenção e que estavam paradas no pátio. Então, a ideia de construir um consórcio, de privatizar, impede que a população, que os cidadãos, que a fiscalização seja realmente ativa e garanta o direito do atendimento à saúde da população”.

O colapso da frota ficou evidente em julho deste ano, quando apenas cinco ambulâncias estavam em funcionamento, enquanto a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informava sete. 

A CGU reconhece que o colapso do serviço motivou a investigação. “Se as ambulâncias não estão aptas a realizar o trabalho do Samu, impacta grandemente a população. É uma área muito sensível, de urgência e emergência”, afirmou Kroehling.

A prefeitura de Goiânia, por sua vez, afirmou em nota exclusiva enviada à reportagem que renovou a frota do Samu neste ano, com a locação de 22 ambulâncias, das quais 17 estão em operação e cinco compõem a reserva técnica. Além delas, três outras próprias, são utilizadas para o transporte intermunicipal de pacientes.

Segundo a pasta, a manutenção das viaturas alugadas é responsabilidade da empresa locadora, e não mais da prefeitura. Além disso, informou que cerca de 500 servidores — entre médicos, enfermeiros, técnicos, condutores e atendentes — atuam atualmente no Samu Goiânia. 

A Administração Municipal deve ser oficialmente notificada para prestar esclarecimentos e poderá responder administrativamente caso as irregularidades sejam confirmadas.

Celulares, computadores e documentos apreendidos na operação serão submetidos à perícia. Segundo a Polícia Federal, os desdobramentos podem alcançar novos nomes e contratos da atual gestão, dependendo do que for encontrado na análise do material. 

“Nosso objetivo é identificar toda a cadeia envolvida e assegurar que os recursos destinados ao Samu sejam devidamente aplicados”, afirmou o delegado. 

A CGU reforçou que o rombo pode alcançar cifras milionárias e que o impacto do desmonte do serviço foi direto na vida da população. A PF destacou que segue na apuração para responsabilizar todos os envolvidos no esquema que, durante anos, deixou o principal serviço de urgência da Capital em situação crítica.

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