Ana Paula homenageia Iris se ajudar MDB a vencer após 32 anos
A forma que Iris gostaria de ser homenageado é tirando da fila o único partido em que militou e que está há mais de três décadas sem conquistar o Governo de Goiás
Os três maiores líderes do MDB morreram em 2021, Iris Rezende (em novembro, aos 87 anos), Léo Mendanha (em abril, aos 66 anos) e Maguito Vilela (em janeiro, aos 71 anos). Dois anos depois, foi a vez de outra liderança tradicional, Dona Íris Araújo, viúva de Iris. Deixaram filhos na política: Ana Paula Rezende Craveiro, Gustavo Mendanha e Daniel Vilela, que para 2026 os dois primeiros pretendem ser candidatos ao Senado e o 3º é o atual vice e governadoriável.
É a 2ª vez seguida que tentam atrapalhar Daniel internamente: em 2022, Gustavo rompeu, foi para o Patriota e enfrentou Ronaldo Caiado, cujo vice era Daniel. Nesta quarta-feira, Ana Paula recebeu no Memorial Iris Rezende o senador Wilder Morais, adversário de Daniel no próximo ano, com quem trocou palavras de agradecimentos. A forma que Iris gostaria de ser homenageado é tirando da fila o único partido em que militou e que está há mais de três décadas sem conquistar o Governo de Goiás.
Em 1982, voto livre para governador
Estaria tudo bem se ainda estivessem de 1982 a 1994, quando o partido lançou todos os majoritários tirados de seus quadros e todos foram eleitos, contados vices e suplentes. Para dar ideia do perigo de uma briga interna, observem-se os fatos históricos ligados à sigla. Na volta das eleições diretas para governador, em 1982, Iris saiu com Onofre Quinan de vice e Mauro Borges para o Senado com o suplente Derval de Paiva (como havia sublegenda, era um suplente por titular). Todos cinco eleitos, todos do PMDB – que passou a ser MDB em 2017.
Iris renunciou em fevereiro de 1986 para ser ministro da Agricultura e Onofre ficou nos meses finais. Não havia reeleição e saíram Henrique Santillo governador, Joaquim Roriz vice, Iram Saraiva (suplentes Jacques Silva e Reovaldo Costa) e Irapuan Costa (Max Lânio Jaime e Antônio Alves de Queiroz). Todos os oito do PMDB, todos eleitos. Iris havia tentado ser candidato do partido a presidente da República em 1989, mas ficou em 3º lugar na convenção, que teve Ulysses Guimarães em 1º e Waldir Pires em 2º.
Iris volta para Goiás e ganha
Sem êxito em Brasília, Iris voltou a ser candidato a governador de Goiás em 1990, com Maguito vice e Onofre senador (com seus suplentes José Saad e José Batista Neto). Os cinco do PMDB, os cinco eleitos. Em 1994, Maguito governador e Naphtali Alves vice, com os candidatos ao Senado Iris (suplentes seu irmão Otoniel Machado e Ciro Miranda) e Mauro Miranda (suplentes Albino Boaventura, o fundador da Igreja Assembleia campo de Campinas, e Durval Milhomem). Os oito eleitos, sete do PMDB (Ciro era do PL). Foi a última vitória do partido para cargo majoritário em Goiás. Vão se completar 32 anos.
Iris peita com a panelinha e perde
Até que veio 1998, o ano que não terminou: Iris perdeu para governador com seu vice Romilton Moraes, Maguito ganhou para senador com seus suplentes Íris de Araújo e José Saad. A reeleição havia sido aprovada no ano anterior e Maguito era favoritaço a continuar no cargo, mas Iris dominava o Diretório Regional e decidiu encabeçar a chapa.
Começou com mais de 80% nas pesquisas, enquanto a oposição nem dispunha de candidato. Porém, apareceu o efeito da panelinha: ficaria Iris no governo, o irmão Otoniel herdaria em definitivo sua vaga no Senado e sua mulher de primeira-suplente de Maguito. Assim foi gestado Marconi Perillo, que seria governador por quatro mandatos e agora quer o 5º.
Caiado tira Iris da aposentadoria
Ana Paula era muito ligada ao pai, que a amava e respeitava incondicionalmente, o tempo todo. Suas opiniões eram levadas a sério por Iris. Em 2010, Iris era prefeito de Goiânia e renunciou para tentar pela 4ª vez o governo, pois teria recebido aviso de Deus (sim, Ele mesmo, nosso Senhor) de que Iris estaria eleito. Perdeu. Tentou de novo em 2014, 5ª vez. Perdeu novamente. Anunciou aposentadoria.
Estava afastado da política, descansando em sua fazenda no Mato Grosso, quando Ronaldo Caiado o buscou para tentar ser prefeito de Goiânia pela 4ª vez. Resistiu. Caiado insistiu. Conseguiu. Ganhou, mas em 2020 preferiu não tentar a reeleição, abrindo espaço para Maguito, que disputou e venceu.
Mulheres guerreiras tentaram, mas Ulysses ainda é o líder
Dona Íris morreu em 2023. Era natural da mesma Três Lagoas (MS) da ministra do Planejamento do Orçamento, Simone Tebet, que representou o partido na eleição de 2024 e foi decisiva para a vitória de Lula. Ficou em 3º com 4,16%. Em 1994, Orestes Quércia, com Dona Íris de vice, ficou em 4º, com 4,38%. Em 1998, o PMDB apoiou FHC (PSDB), mesmo fora da chapa. Em 2002, perdeu com Rita Camata como vice de José Serra (PSDB). Em 2006, dividiu-se entre Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2010 e 2014 colocou Michel Temer vice de Dilma Rousseff (PT).
Em 2018, outra chapa pura, com o goiano Henrique Meirelles de presidente e o gaúcho Germano Rigotto de vice: apesar da qualidade, os candidatos tiraram 1,2% em 7º lugar. Por pior que tenha sido a estreia, a melhor performance do partido ainda foi no retorno da votação direta para presidente da República, quando quem derrotou Iris Rezende na convenção, Ulysses Guimarães, ficou em 7º, com 4,79%, na chapa pura com Waldir Pires. Pouco? Sim, mas é o desempenho nº 1 do PMDB.
Ana Paula deseja disputar o Senado na chapa da primeira-dama Gracinha Caiado (União Brasil). Com as pesquisas apontando empate triplo entre Daniel, Marconi e Wilder, a estratégia correta é abrir espaço para os partidos aliados. A medida inteligente é o vice de Daniel e os quatro suplentes dos dois candidatos ao Senado representarem regiões do Estado, setores da economia ou agremiações significativas, inclusive as partidárias. Ana Paula não tem qualquer desses atributos, apesar das qualidades pessoais e do passado de ótimos serviços prestados a Goiás por seus pais.

Ronaldo Caiado, que se mostra supergrato a Iris apesar de tê-lo mais ajudado que o contrário, tentou fazer de Ana Paula prefeita de Goiânia em 2024. Ela refugou. Ele insistiu. Ela desistiu de vez. Teria enfrentado Adriana Accorsi, filha de Darci Accorsi, que com Iris e Nion forma o triunvirato dos melhores prefeitos de que a Capital já dispôs. Existem bons precedentes em Goiás. Adriana é deputada federal, cargo que seu pai tentou em 1982 e não conseguiu. Thiago Peixoto foi uma revelação como secretário de Educação, mantendo o nível e até superando o pai, ex-ministro Flávio Peixoto. Mauro Borges Teixeira foi melhor senador e governador que Pedro Ludovico Teixeira. Ronaldo Caiado está superando Leonino Caiado, seu tio, que também foi bom governador: mas o sobrinho foi eleito e reeleito em 1º turno, com aprovação na casa dos 90%.
Talvez Ana Paula se eleja e alcance o patamar da mãe no Senado (e Dona Íris surpreendeu com boa atuação) ou do pai nas gestões (era um tocador de obras). Desde que para checar essa vocação sua às aptidões do pai e da mãe não tenha de sacrificar o candidato do partido ao governo.