Goiânia tem segunda maior densidade de radares do País, mas sistema é suspenso por crise de pagamentos
Capital lidera ranking nacional de fiscalização em vias urbanas, mas enfrenta novo apagão nos equipamentos após dívida de R$ 7,9 milhões
Goiânia conquistou uma posição incômoda no cenário da segurança viária: é a segunda Capital brasileira com maior número de radares de velocidade em relação à quantidade de veículos, conforme revela o estudo mais recente do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV).
O levantamento, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), levou em conta dados do Inmetro e reforça aquilo que o motorista goianiense percebe na rotina: a cidade se transformou em um território cercado por equipamentos de fiscalização.
Segundo o estudo, Goiânia apresenta 5,83 radares para cada 10 mil veículos, número muito acima da média nacional, fixada em 2,9. Considerando a frota local de mais de 1,4 milhão de veículos registrada pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-GO), a Capital opera aproximadamente 140 equipamentos de controle de velocidade.
Desse total, a grande maioria está instalada nas vias urbanas, o que contribuiu para que a capital alcançasse o 1º lugar do ranking nacional nesse recorte. Já nas rodovias, aparece na 5ª posição.
O contraste chama atenção quando comparado a outras Capitais. Brasília, por exemplo, ocupa o topo do ranking geral, com 7,5 câmeras para cada 10 mil veículos, enquanto cidades como Florianópolis praticamente não possuem equipamentos ativos. Apesar disso, Goiânia segue muito acima das medianas, o que reacende discussões sobre eficiência, necessidade e transparência na política de fiscalização.
Apagão nos radares expõe crise contratual e inadimplência da gestão
Em meio a essa realidade de intensa vigilância eletrônica, a cidade enfrenta um episódio que colocou o sistema de fiscalização em xeque. Desde sexta-feira, 28 de novembro, às 18h, os radares foram desligados.
A responsável pelo serviço, a empresa Anhanguera Segurança, parte do consórcio contratado, suspendeu as atividades após acumular R$ 7,9 milhões em pagamentos atrasados. Em nota, a empresa afirmou que tentou negociar com o município, mas sem sucesso, e que a interrupção foi “inevitável diante da instabilidade econômica gerada pela inadimplência”.
“Lamentamos profundamente o desfecho, ocorrido após exaustivas tentativas de composição para manter a segurança viária, e asseguramos que a retomada das atividades será imediata tão logo ocorra a quitação integral dos débitos”, comunicou a empresa.
A Anhanguera é responsável pela gestão do Centro de Controle Operacional (CCO), estrutura que concentra sistemas de processamento de dados e imagens, além da emissão de relatórios gerenciais e estatísticos ligados à fiscalização de trânsito na Capital.
Já a Secretaria Municipal de Engenharia de Tráfego (SET) confirmou que realmente existem valores pendentes, mas afirmou que os pagamentos já estão programados para serem realizados na próxima semana. Segundo a pasta, a suspensão do serviço não deveria ter ocorrido, e a gestão garante que “não há risco para a continuidade da fiscalização eletrônica”.
A atual suspensão acende um alerta ainda mais forte porque a Capital goiana já havia enfrentado um longo período sem fiscalização eletrônica em 2024. Embora o episódio tenha ocorrido na gestão anterior, ele deixou marcas profundas na segurança.
Em 14 de junho de 2024, todos os radares semafóricos foram desligados após um impasse com a empresa Eliseu Kopp, que operava os equipamentos desde 2017. A suspensão ocorreu porque a prefeitura atrasou pagamentos e rompeu o contrato dois dias antes de sua data final oficial. O resultado foi imediato, avanço de sinal vermelho, excesso de velocidade, aumento de colisões e queda no respeito às normas de trânsito.
Esse apagão durou mais de oito meses, período no qual a cidade ficou sem qualquer forma de fiscalização eletrônica. Agora, com o novo desligamento provocado pela inadimplência, a situação preocupa especialistas e motoristas, que temem que 2025 comece com o mesmo clima de insegurança.
A combinação entre um sistema de fiscalização robusto e um impasse financeiro gera um contraste curioso: Goiânia tem uma das maiores densidades de radares do País, mas, momentaneamente, nenhum deles está funcionando.
Especialistas apontam que a interrupção pode comprometer indicadores de segurança viária e dificultar o registro de infrações que contribuem para a tomada de decisões no trânsito.