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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
encerramento do ano

Dezembrite expõe cansaço emocional no Brasil

Fenômeno intensifica tristeza, pressão social e estresse no encerramento do ano

Luana Avelarpor Luana Avelar em 5 de dezembro de 2025
Dezembrite
Sensações de tristeza e sobrecarga aumentam no fim do ano, segundo especialistas. Foto: FreePik

O Brasil encerra o ano sob uma coreografia repetida: agendas lotadas, confraternizações sucessivas e a expectativa de celebrar, mesmo quando o corpo não acompanha o roteiro. É nesse cenário que a chamada Dezembrite ganha força, um conjunto de sensações que vai da melancolia ao esgotamento e atinge quem chega ao último mês sem fôlego emocional.

A pressão não nasce apenas do acúmulo de tarefas. Vem também das ausências que se tornam mais nítidas quando o calendário se fecha. O psicólogo Filipe Colombini afirma que este período mobiliza lembranças que nem sempre encontram espaço para elaboração. “Para quem perdeu entes queridos ou vive questões emocionais não superadas, as festividades podem trazer à tona lembranças dolorosas e a sensação de fechamento de ciclos”. Ele observa ainda que o uso intenso das redes digitais altera a forma como as pessoas percebem a própria vida. “Além disso, o uso excessivo das redes sociais aumenta as comparações com a vida alheia, o que tende a agravar a tristeza sazonal”.

Os números reforçam a experiência vivida por grande parte da população. De acordo com a International Stress Management Association, 80% das pessoas relatam estresse elevado no fim do ano. A estatística traduz o ritmo acelerado dos escritórios, o esforço para concluir pendências e o planejamento que se acumula às portas de janeiro.

Há também um elemento cultural que molda o humor dessa época. A lógica de comemoração contínua e consumo cria uma expectativa de felicidade permanente, incompatível com quem atravessa dezembro exausto. Colombini alerta para esse descompasso entre o ambiente externo e a vida interna. “Há uma imposição social de felicidade que, quando não corresponde ao que a pessoa sente, gera ainda mais desconforto. A tentativa de manter positividade o tempo todo pode impedir que emoções legítimas sejam elaboradas”. 

Para lidar com essa sobrecarga, o psicólogo recomenda três eixos de cuidado. O primeiro envolve autoconhecimento, etapa essencial para identificar gatilhos e reconhecer por que o mês costuma ser mais sensível. “Quando a pessoa se conhece, consegue desenvolver estratégias personalizadas para lidar com as dificuldades”. O segundo ponto é o autocontrole, entendido como a capacidade de administrar reações diante das pressões sociais e familiares. O terceiro passo exige escolhas coerentes com os próprios limites, reduzindo compromissos e recusando imposições externas. “Isso inclui dizer ‘não’ quando necessário, preservando o bem-estar”.

A Dezembrite não descreve rejeição ao fim do ano. Ela revela, antes, o modo como o período faz emergir tensões acumuladas, intensificadas pela comparação social e pelo ideal de felicidade constante. Reconhecer esses sinais permite que dezembro seja vivido com menos exigência e mais honestidade emocional.

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