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sábado, 6 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Escolha de Bolsonaro pelo filho não afasta candidaturas de governadores

Aliados não questionam a ordem do líder nem dizem que o senador Flávio (PL-RJ) está blefando, porém Ronaldo Caiado (GO), Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (Novo), Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS) são de outros partidos e têm outros grupos

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 6 de dezembro de 2025
Bolsonaro
Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

O senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio de Janeiro, diz que seu pai o escolheu candidato ao cargo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026. Políticos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acreditaram no recado e receberam bem a indicação. Como as convenções serão em agosto e as eleições em outubro, os demais pré-candidatos ao Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo federal, vão dizer que tudo bem, mas o tempo vai definir mais que as pessoas.

O que pode acontecer de pior, na previsão de alguns bolsonaristas, é a direita se dividir. O governador de Goiás e único até agora a se lançar à chefia do Executivo federal, Ronaldo Caiado (União Brasil), tem avaliação divergente. Para ele, esse campo deve lançar diversos candidatos no 1º turno e, no 2º, se unem contra Lula, que por força da máquina e por ser o único de esquerda seria um dos dois mais votados.

A meia dúzia da direita

Além de Caiado, todos os pré-candidatos a presidente pelo campo ideológico mais próximo do bolsonarismo são governadores: Tarcísio de Freitas, do Republicanos de São Paulo; Romeu Zema, do Novo de Minas Gerais; Ratinho Jr., do PSD do Paraná; Eduardo Leite, do PSD do Rio Grande do Sul; Cláudio Castro, do Rio de Janeiro. O principal deles, Tarcísio, participou do governo de Bolsonaro como ministro da Infraestrutura. Teve como opção tentar o Senado por Goiás, mas era apenas uma vaga, já tinha como concorrente pelo bolsonarismo seu amigo Wilder Morais (PL), que acabou eleito. Seu então chefe o convenceu ao alto voo de concorrer ao governo paulista. Os demais governadores são fiéis a Bolsonaro, porém tiveram carreiras independentes.

Até a noite de sexta-feira (5), Tarcísio não havia desistido do Palácio do Planalto em favor de Flávio, que está se revelando bom articulador, pacificou a família, que dispunha de outros dois nomes testados em pesquisas, seu irmão, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e sua madrasta, Michelle de Paula (PL-DF). Eduardo foi para os Estados Unidos buscar socorro para a situação do pai e nos últimos dias apareceu em Israel, tanto rezando no Muro das Lamentações em favor de Jair Bolsonaro quanto ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A permanência no exterior e os supostos pedidos ao presidente americano Donald Trump para retaliar o governo brasileiro com taxas colocaram o deputado na mira do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Se Moraes não deixá-lo inelegível, Eduardo pode ganhar para senador, pois lidera as pesquisas.

Michelle vai de senadora junto com Ibaneis e Celina

Por esse cenário, Michelle deve cumprir o esperado, com a candidatura a senadora pelo Distrito Federal, em dobradinha com o governador Ibaneis Rocha (MDB) e sua vice Celina Leão (PP), que vai disputar o GDF. Eleitos, Michelle e Eduardo se uniriam a Carlos Bolsonaro, o vereador no Rio de Janeiro que mudou o endereço para Santa Catarina no mesmo propósito, o de engrossar a bancada de senadores aliados de Jair Bolsonaro. A meta de fazer maioria no Senado para votar o impeachment de componentes do STF pode ter ficado anacrônica com a decisão de um colega de Moraes, Gilmar Mendes, de atribuir essa função exclusivamente ao procurador-geral de Justiça, o PGR, comandante do Ministério Público Federal – o atual é Paulo Gonet, indicado e reconduzido por Lula.

Os chefes das duas Casas do Congresso, Hugo Motta (Câmara dos Deputados) e Davi Alcolumbre (Senado), reagiram de modo pífio à medida tomada por Gilmar. Portanto, restaria à direita uma única possibilidade de livrar os punidos por Moraes: ganhar de qualquer forma a Presidência da República. Os governadores já se comprometeram a anistiar, inclusive, Jair Bolsonaro. Existe um precedente contrário a essa tática, mais uma vez a cargo do STF: a Suprema Corte anulou o perdão do à época presidente Jair Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado por Moraes a 8 anos de 9 meses de cadeia por falar mal de integrantes do STF. Estava no exercício da função de congressista, mas os ministros superaram a imunidade parlamentar. Bolsonaro o livrou. Depois que Lula ganhou, o STF cassou a liberdade de Daniel, que voltou para o regime fechado.

Estratégia de Caiado ganha oportunidade de ser testada

O raciocínio do governador Ronaldo Caiado é o de quem passou décadas no Congresso Nacional e está há quase sete anos à frente do Executivo estadual: ir contra Lula na base do um contra um, polarizado desde o 1º turno, é ingenuidade. Afinal, o presidente da República no 3º mandato tem a máquina estatal e sabe usá-la à exaustão, tem a quase unanimidade da imprensa, está num bom momento junto com a economia global. A escolha por Jair Bolsonaro de seu filho zero um, o senador fluminense Flávio, é um teste para esse pensamento.

Bolsonaro
Foto: Rômullo Carvalho

Se Flávio enfrentar Lula desde o início, brotarão dificuldades de todos os lados. Caso os governadores da direita, o que inclui até Cláudio Castro (PL) do Rio de Janeiro como vice, tentem também cada um no seu quadrado, ficará mais fácil chegar ao quadradinho – como o quadrilátero que Goiás deu para se construir Brasília é chamado pelos candangos. 

De acordo com tal estratégia, Romeu Zema pode ter desempenho ruim em outros Estados, mas em Minas e em alguns trechos da Bahia, vai ganhar de Lula e dos demais. Ratinho Jr., que é filho de você sabe quem, teria a companhia do pai para rodar o Brasil lembrando as ótimas gestões no Paraná. Eduardo Leite granjearia apoios pelos partidários da diversidade, mas sobretudo porque o Sul do País conhece de perto os êxitos das duas administrações no Rio Grande e o País todo sofreu junto com ele na reconstrução do Estado após as cheias catastróficas. Cláudio Castro vive um bom momento após jogar duro com a criminalidade faccionada, mesmo a resposta governista chegando em seguida com o Gabinete do Ódio ressaltando sua proximidade com o presidente da Assembleia fluminense, Rodrigo Bacellar, preso pela (adivinhe!) Polícia Federal.

De todos, os principais são Caiado e Tarcísio de Freitas, um porque tem os trunfos da segurança pública e do agro, o outro pelo tamanho e importância do Estado de São Paulo e da excelente gestão. O discurso do goiano no combate ao crime está começando a permear as zonas metropolitanas que mais sofrem com a violência, como o Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus. Pioneiro na defesa do produtor rural, Caiado recebe tratamento de estrela do setor em vastas regiões de MG e SP. Chega a liderar, ainda antes de qualquer campanha, nos três Estados do Sul. É tratado como conterrâneo em quatro unidades da federação, GO, TO, os dois Mato Grosso e a Bahia, terra de sua mulher, Gracinha Carvalho.

Com esses eleitorados divididos pela imensidão do continente chamado Brasil, os seis governadores os uniriam e teriam grande votação. Se for um só (ou até nenhum deles, caso desistam em favor de Flávio Bolsonaro), vai peitar Lula com apenas santinho, saliva, suor e sola de sapato. E sem $. 

 

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