Padre Júlio Lancellotti é impedido de transmitir missas e pode deixar paróquia em São Paulo
Decisão da Arquidiocese suspende transmissões ao vivo e uso de redes sociais; medida gera repercussão entre fiéis e movimentos sociais
Conhecido nacionalmente pelo trabalho pastoral e pela defesa da população em situação de rua, o padre Júlio Lancellotti foi impedido de transmitir missas ao vivo e orientado a suspender o uso de redes sociais, decisão comunicada pela Arquidiocese de São Paulo. A medida também abriu a possibilidade de que o religioso deixe a Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, onde atua há mais de quatro décadas.
A determinação foi repassada ao padre pelo cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo. No último domingo (14), durante uma celebração, o padre Júlio Lancellotti informou aos fiéis que aquela seria uma das últimas missas transmitidas publicamente, o que gerou comoção e manifestações de apoio. Até então, as celebrações eram exibidas ao vivo pela Rede TVT e por plataformas digitais, alcançando milhares de pessoas que acompanhavam as missas de forma remota.
Segundo relatos do próprio padre, a orientação da Arquidiocese foi para que ele “desse um tempo”, em um período de recolhimento. Questionado sobre a decisão, Lancellotti afirmou que apenas cumpre a determinação da hierarquia da Igreja, sem entrar em confronto público. O religioso também foi orientado a se afastar das redes sociais, onde possui grande visibilidade e costuma se posicionar sobre temas sociais, políticos e humanitários.
A suspensão das transmissões provocou forte repercussão entre fiéis, lideranças religiosas e movimentos sociais, especialmente por causa do alcance que as missas tinham entre pessoas idosas, doentes ou que vivem fora da capital paulista. Nas redes, muitos manifestaram preocupação com o que classificaram como uma tentativa de silenciamento de uma das vozes mais ativas da Igreja Católica brasileira na defesa dos direitos humanos.
Padre Júlio Lancellotti

Aos 76 anos, padre Júlio Lancellotti é uma figura central da Pastoral do Povo da Rua, trabalho que desenvolve há décadas e que lhe rendeu reconhecimento nacional e internacional. Sua atuação frequentemente extrapola o espaço religioso e dialoga com questões sociais sensíveis, como pobreza, violência, políticas públicas e dignidade humana — o que, ao longo dos anos, também o colocou no centro de debates e críticas.
Ainda não há uma decisão oficial anunciada sobre a saída definitiva de Lancellotti da paróquia, nem sobre seu futuro dentro da Arquidiocese. Pelas normas da Igreja Católica, padres podem ser aposentados ao atingir determinada idade, mas a permanência ou não em uma paróquia depende de decisões administrativas internas.
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