Acordo histórico com Mercosul–UE trava na hora decisiva
Negociado há mais de duas décadas, o tratado entre Mercosul e União Europeia foi retirado da agenda da cúpula em Foz do Iguaçu após pedido da Itália
Em meio a expectativas frustradas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conduz, neste sábado (20), em Foz do Iguaçu (PR), a 67ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados. O encontro reúne os presidentes Javier Milei (Argentina), Santiago Peña (Paraguai) e Yamandú Orsi (Uruguai), mas perdeu protagonismo político após o adiamento da assinatura do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, prevista inicialmente para esta data. Lula diz ter recebido garantia de que o acordo será fechado na segunda quinzena de janeiro.
Negociado há 26 anos e dado como certo, o tratado foi postergado a pedido da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que enfrenta resistência do setor agropecuário em seu país. Com a Itália alinhada à oposição histórica da França, a UE ficou sem votos para avançar. O presidente Lula afirma que o compromisso foi mantido para janeiro, após conversa direta com Meloni. Sem o aval de Roma e diante da oposição histórica da França, a Comissão Europeia ficou impedida de avançar na assinatura do acordo, já que ambos os países exercem peso decisivo no Conselho Europeu.
Segundo Lula, a data de assinatura havia sido, inclusive, sugerida pela própria União Europeia, após meses de negociações finais que indicavam consenso iminente. O presidente relatou ainda que conversou por telefone com Meloni nesta semana, quando a premiê reafirmou o compromisso de estar pronta para assinar o tratado em janeiro, após dialogar com produtores rurais preocupados com a concorrência de produtos sul-americanos.
Nos últimos meses, diplomatas dos dois blocos trabalhavam com a expectativa de desfecho definitivo, o que motivou a montagem de uma cúpula focada no anúncio do pacto. A entrada da Itália no grupo de países reticentes, ao lado da França, alterou o equilíbrio político e inviabilizou a decisão neste momento.
Além dos chefes de Estado dos países fundadores do Mercosul, participam da reunião representantes da Bolívia, que se tornou Estado Parte em 2024, com a presença do chanceler Fernando Aramayo Carrasco e de cinco Estados Associados: Chile, Colômbia, Equador, Panamá e Peru. Guiana e Suriname não confirmaram participação.
Com o acordo novamente adiado, a cúpula expõe as limitações políticas externas que ainda cercam o maior tratado comercial já negociado pelo Mercosul e reforça o desafio diplomático do governo brasileiro para destravar o processo no início de 2026.