Especial de Roberto Carlos completa mais de 50 anos e reúne histórias curiosas, silêncios e encontros improváveis
Desde 1974 no ar, programa de fim de ano do Rei passou por mudanças de formato, interrupções históricas e abriu espaço, aos poucos, para novos ritmos e convidados internacionais
Foram muitas as emoções desde 1974, quando foi ao ar a primeira edição do especial de fim de ano de Roberto Carlos. Ao longo de mais de cinco décadas, a tradição televisiva atravessou mudanças de formato, recebeu convidados inusitados e enfrentou interrupções motivadas por circunstâncias excepcionais.
Neste ano, o especial segue vivo com gravações em Gramado (RS) e participações de Sophie Charlotte, Fafá de Belém, Jorge Ben, João Gomes e Supla. A seguir, cinco curiosidades que ajudam a entender a força simbólica e cultural do programa.
1. “A mamãe de mamãe”
Entre 1974 e 1979, o especial do Rei ia muito além do formato de show. O programa incorporava esquetes, convidados de outros programas da TV Globo e recursos dramatúrgicos. Já na primeira edição, o ator Paulo Gracindo declamou a letra de Não quero ver você triste enquanto Roberto o acompanhava ao violão, transformando a canção em texto teatral.
Em 1976, o cantor encenou uma ceia de Natal com nomes da velha guarda da música brasileira. Três anos depois, em 1979, Os Trapalhões apresentaram a paródia A mamãe de mamãe, versão bem-humorada de Amanhã de manhã.
Na mesma edição, Roberto contracenou com Christiane Torloni e recitou poemas de Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira, consolidando o especial como uma espécie de teatro popular televisivo.
2. O Rei ao ar livre
Em mais de 50 anos, Roberto Carlos levou o especial para fora de estúdios e teatros fechados apenas quatro vezes. Em 1977, o programa foi gravado na Concha Acústica da Uerj, no Rio, diante de mais de 12 mil pessoas, incluindo uma homenagem a Elvis Presley, ao lado de Erasmo Carlos.

Em 2010, o especial foi transmitido ao vivo da praia de Copacabana, com estrutura de megashow. No ano seguinte, 2011, Roberto gravou um programa em Jerusalém, no Sultan’s Pool — exibido posteriormente como reprise.
Já em 2024, o especial comemorativo de 50 anos foi gravado no Allianz Parque, em São Paulo, com linguagem de show de estádio.
3. Silêncios
Desde 1974, houve apenas dois anos sem especial inédito. O primeiro foi em 1999, quando o programa não foi exibido devido ao grave estado de saúde de Maria Rita, então mulher do cantor.
O segundo ocorreu em 2020, durante a pandemia de covid-19. Por sugestão do próprio Roberto, a Globo optou por reprisar o show gravado em Jerusalém, evitando grandes produções em meio à crise sanitária.
Esses dois silêncios reforçaram o caráter ritual e familiar do programa, diretamente ligado à trajetória pessoal do artista.
4. Participações internacionais
As participações estrangeiras sempre foram exceção no especial. A primeira ocorreu em 1978, com o americano Freddy Cole. Décadas depois, em 2016, Roberto cantou com Jennifer Lopez. Em 2017, recebeu Erika Ender, autora de Despacito.
Em 2018, foi a vez de Alejandro Sanz. Já em 2024, o convidado internacional foi o tenor Andrea Bocelli.

Curiosamente, nomes como Julio Iglesias nunca participaram do especial, reforçando que o internacional sempre foi exceção, não regra.
5. Se o Rei dança, eu danço
O funk demorou a chegar ao palco do especial. A estreia aconteceu em 2006, com MC Leozinho. Em 2012, Roberto lançou Furdúncio, parceria com Erasmo Carlos classificada como funk melody.
No ano seguinte, o gênero voltou com Anitta, e em 2015, com Ludmilla, consolidando a abertura do programa a novos ritmos populares.

Ao longo dos anos, o especial de Roberto Carlos deixou de ser apenas um show musical para se transformar em um marco cultural do fim de ano brasileiro, refletindo mudanças de linguagem, de público e do próprio país.