Onda de calor expõe limites do corpo e pressiona serviços de saúde
Aviso vermelho do Inmet indica perigo prolongado e ameaça real à vida
A onda de calor que marcou a semana do Natal em parte do Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país não deve dar trégua nos próximos dias. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fenômeno deve persistir ao menos até a próxima segunda-feira (29), com temperaturas até 5 °C acima da média por mais de cinco dias consecutivos. O órgão emitiu alerta vermelho para áreas que incluem Rio de Janeiro, São Paulo e outros seis estados, classificação reservada a situações de grande perigo, com risco elevado à vida, danos e acidentes.
O avanço da onda de calor está associado ao aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos, fenômeno amplamente relacionado às mudanças climáticas induzidas pela ação humana. Mais do que desconforto, o calor excessivo impõe sobrecarga direta ao organismo e amplia a incidência de emergências médicas, sobretudo entre idosos e pessoas com doenças crônicas.
Onda de calor e falência térmica
Profissionais de saúde alertam que a onda de calor pode levar à chamada falência térmica, quadro considerado uma emergência médica. Trata-se de uma condição caracterizada por confusão mental, pele quente e seca e temperatura corporal acima de 40 °C, exigindo atendimento imediato. O organismo tenta compensar o calor com sudorese intensa, aceleração dos batimentos cardíacos e dilatação dos vasos sanguíneos, mas esses mecanismos têm limite.
Quando a compensação falha, o risco aumenta de forma abrupta. Pessoas com hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca, doença renal crônica ou doença pulmonar estão entre as mais vulneráveis. O uso de medicamentos como diuréticos, anti-hipertensivos, antidepressivos e antipsicóticos também pode interferir na regulação térmica, ampliando o perigo durante uma onda de calor prolongada.
Além dos efeitos imediatos, o calor extremo compromete o sono, prejudica o humor, reduz a capacidade de concentração e afeta a produtividade. Em trabalhadores expostos ao sol, como profissionais da construção civil, entregadores e garis, o risco é ainda maior, exigindo pausas frequentes e redução da atividade física nos horários mais quentes.
Dados reforçam a gravidade do cenário. Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada em fevereiro de 2025, identificou associação direta entre altas temperaturas e aumento da mortalidade no Rio de Janeiro. O estudo analisou mais de 800 mil óbitos entre 2012 e 2024 e apontou risco elevado entre idosos e pessoas com doenças como diabetes, hipertensão, Alzheimer e insuficiência renal.
Diante desse quadro, especialistas ressaltam que não existe adaptação plena a uma onda de calor extrema e recorrente. A recomendação central é evitar exposição entre 10h e 16h, priorizar ambientes ventilados, manter hidratação constante e reconhecer sinais precoces de colapso térmico. Em temperaturas elevadas e alta umidade, o corpo humano opera no limite — e ignorar os sinais pode transformar o calor em ameaça concreta à vida.

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