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sábado, 27 de dezembro de 2025
Família dividida

Michelle x Flávio: briga dos Bolsonaro abre espaço na direita fora do bolsonarismo

Confirmação do senador como sucessor do ex-presidente não encerra conflito familiar. Postura da ex-primeira-dama amplia instabilidade e mostra campo dividido às vésperas do ano eleitoral

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 27 de dezembro de 2025
Michelle x Flávio: briga dos Bolsonaro abre espaço na direita fora do bolsonarismo
Ao confirmar Flávio como pré-candidato, ex-presidente buscou transmitir controle do legado político. Fotos: Carlos Moura/Agência Senado e Beto Barata/PL

Bruno Goulart

A leitura, na porta de um hospital em Brasília, da carta escrita por Jair Bolsonaro (PL) no dia de Natal, antes de ser submetido a uma cirurgia, parecia ter um objetivo: colocar um ponto final na indefinição sobre quem seria o nome da família Bolsonaro para disputar a Presidência da República em 2026. Ao confirmar oficialmente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato, o ex-presidente buscou transmitir unidade, continuidade e controle do próprio legado político. No entanto, o gesto, longe de pacificar o clã, escancarou um conflito que era tratado nos bastidores e que agora ganha contornos públicos: a disputa silenciosa, mas cada vez mais evidente, entre Flávio e Michelle Bolsonaro.

Nesse contexto, chama atenção o momento dos movimentos. Na véspera de Natal, quase simultaneamente ao pronunciamento em cadeia nacional do presidente Lula da Silva (PT), Michelle divulgou um vídeo de mais de cinco minutos pelas redes do PL Mulher. A estética cuidadosamente montada, o discurso carregado de simbologia religiosa, referências a “renascimento”, “novo ciclo” e a menção direta a 2026 não deixaram dúvidas: tratou-se de uma mensagem pensada para o Brasil, não para um eleitorado local ou para um papel secundário na política.

Assim, enquanto Jair Bolsonaro tenta conduzir a sucessão dentro da família, Michelle se comporta como uma liderança nacional em construção. O contraste expõe a fratura. O próprio ex-presidente já afirmou publicamente que a ex-primeira-dama “precisaria de um caminho mais longo na política” e que, num primeiro momento, seria uma “excelente senadora”. Michelle, contudo, não tem dado sinais de disposição para aceitar um papel regional (senadora pelo DF) ou de bastidor. Ao contrário, sua comunicação reforça a imagem de alguém que se vê como alternativa presidencial viável, especialmente junto ao eleitorado evangélico e feminino.

Leia mais: Relação entre Lula e Congresso teve avanços, mas vive de crises que podem crescer em 2026

Nesse cenário, fica evidente que Flávio Bolsonaro, mesmo ungido pelo pai, enfrenta resistência dentro do próprio núcleo familiar e dificuldades para se consolidar fora dele. Parte do Centrão, setores do empresariado e até segmentos do eleitorado conservador veem sua candidatura como frágil, excessivamente dependente do sobrenome e pouco competitiva nacionalmente. A disputa velada com Michelle apenas amplia essa percepção de instabilidade.

Levantamento da Genial/Quaest, divulgado em novembro, aponta que 24% dos brasileiros preferem, em 2026, um presidente que não seja nem Lula nem alguém ligado a Jair Bolsonaro. Trata-se de um contingente expressivo, que cresce justamente quando a direita se mostra incapaz de construir unidade. Já a Paraná Pesquisas, divulgada nesta sexta-feira (26), mostra Lula na liderança do primeiro turno contra todos os nomes testados da direita, inclusive Flávio Bolsonaro, que aparece com 27,8% contra 37,6% do petista. O desempenho de Michelle é ainda mais fraco: Lula tem 37,2%, contra 24,4% da ex-primeira-dama.

Verdadeira ameaça está fora da família Bolsonaro

Por outro lado, os dados também revelam onde está a principal ameaça ao lulismo. No segundo turno, Lula aparece tecnicamente empatado com quase todos, mas é diante de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que a diferença é menor: 44% a 42,5%. Não por acaso, Tarcísio, assim como Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná, surge como opção viável para uma nova via na direita, menos ideológica, mais institucional e distante das crises familiares do bolsonarismo.

Diante do alto grau de instabilidade do clã Bolsonaro, cresce entre Faria Lima, lideranças do Centrão e outros players políticos a avaliação de que apostar em um nome da família é um risco elevado.  Especialistas já dizem que Flávio Bolsonaro é só um jogo de cena. Quando chegar abril, o nome será Tarcísio. (Especial para O HOJE)

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