Federal 202 mil votos; estadual 84 mil. Não tem? Caia fora
Novatos que desejam ser deputados precisam tomar cuidado com as contas apresentadas por presidentes de partidos pequenos, pois no final quem vai ter de pagar as contas é o iludido
Em 2022, e as proporções devem se manter no próximo ano, foram 3.447.199 votos válidos para as 17 vagas de deputado federal por Goiás. Para a Assembleia, foram 3.443.407 válidos rumo às 41 vagas. Portanto, para ficar com uma cadeira, o partido teve de obter 202.776 votos para federal e 83.985 para estadual.
Se você acha que é pouco, imagine todas pessoas de Caldas Novas saindo de casa num domingo para digitar o seu número e apenas o seu número para você se eleger deputado estadual. Acha impossível? Então, dê o fora dessa armadilha enquanto há tempo.
Entendeu por que é tão difícil fazer as tais nominatas, as listas de pré-candidatos aos dois cargos? Proibidas as coligações, os partidos têm de se virar sozinhos ou em federações – e a maior delas, do União Brasil com o PP, pode ter ficado na conversa.
Federação UB-PP ainda não está no TSE
Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral, atualizado às 19h43 de 29 de dezembro de 2025, ainda não foi registrada a União Progressista, que reuniu as siglas presididas em Goiás pelo governador Ronaldo Caiado (UB) e pelo ex-ministro Alexandre Baldy (PP).
Oficializada em agosto, com entrada no TSE no início deste mês, a UPr é bastante dividida, principalmente porque uma parte insiste em ficar no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mesmo tendo Caiado como pré-candidato ao cargo do petista. O sítio do Tribunal confirma quatro federações, a Brasil da Esperança, com PT, PCdoB e PV; a PSDB Cidadania, com esses dois; a PSol Rede, com esses outros dois; e a Renovação Solidária, de PRD e Solidariedade. As demais siglas terão de fazer elas mesmas o próprio quociente – ou seja, os 202.776 para federal e os 83.985 para estadual.
Veja o que aconteceu com Vergílio
Do que você já viu em tela de celular por aí, qual partido pequeno vai conseguir essa montoeira de votos? Na próxima eleição, pode sair um candidato a mais que o número de vagas. No caso de Goiás, 42 para estadual, 18 para federal. Em 2022, apenas 22 candidatos à Câmara dos Deputados tiveram mais de 50 mil votos – e cinco deles não foram eleitos. O melhor exemplo é o do então deputado federal cumprindo mandato e hoje vereador em Goiânia Lucas Vergílio. Estava em um partido pequeno, o Solidariedade, que comandava.
Mesmo obtendo estupendos 76.283 votos, não se reelegeu. A chapa não ajudou: o 2º mais votado pelo SD, Luiz Carlos Pimentinha, só obteve 13.274; 3º, Bill Guerra, 9.073; 4º, Giva Felipe, 5.809; 5º, uma glória do esporte nacional, Dante do Vôlei, 5.792; 6º, Dra Gizelda, 5.062; 7º, Mateus Antônio, 3.618; 8º, Delegado Rafael, 2.844; 9ª, Luceleia Perpetuo, 2.279; 10º, o vereador em Goianira Diretor do Triunfo, 2.157; 11ª, Ismarla Borges, 1.627.
Viu a pedreira que é? Essa chapa do Solidariedade foi feita por dois grandes articuladores da política estadual, Lucas e seu pai, Armando Vergílio, ambos com mandatos federais e cargos no 1º escalão estadual. Ambos foram municipalistas de verdade, Lucas perdeu tendo atendido com fervor, atenção e dedicação mais de cem prefeitos. Ou seja, fácil não é.
Não pode vender ilusão a novato
Em geral, os presidentes de partidos pequenos precisam explicar ao novato que sonhar ir ao Congresso como deputado que, mesmo com um grande campeão de votos puxando a fila, dez nomes depois já está em 1.627.
Depois do caso de federal, observem-se alguns exemplos de lideranças que ficaram sem vaga na Assembleia nas urnas de 2022. Dois deputados de excelente desempenho, sobretudo nos municípios que formam as suas bases, Rubens Marques e Claudio Meirelles, foram vítimas de outra síndrome, a do partido grande, ao contrário do Solidariedade, a que os Vergílio estavam filiados à época (dois anos depois, Lucas se elegeria vereador em Goiânia no MDB).
O drama dos partidos grandes
Se os nanicos são ruins porque ficam na loteria de fazer deputado com pouco voto ou todos perderem exatamente por terem obtido pouco voto, há entraves também com os graúdos. Rubão da Saneago teve dois problemas, um foi a candidatura do então vice-governador Lincoln Tejota a deputado estadual. Se Lincoln é filho natural, Rubens é filho político do conselheiro Sebastião Tejota. Como Lincoln saiu ao mesmo cargo, alguns esperavam que o filho adotado desistisse. Rubão foi corajoso e enfrentou. Conseguiu mais votos (31.903 a 27.763) que quando foi apoiado por Tião e mesmo assim perdeu. Ocorreu o mesmo na oposição. Claudio Meirelles, liberal antigo, foi superado pelos neofiliados ao PL e ficou na suplência com 31.828 votos. O União Brasil de Rubão fez prefeito e ele voltou ao cargo. O PL de Meirelles não conseguiu, ele continua no banco de reservas.
Além de Rubens Marques, o excesso de votos do UB deixou sem mandato concorrentes com ótimas votações: Álvaro Guimarães, 30.740 (Gugu Nader, seu concorrente em Itumbiara, ganhou com 21.743 no Agir); Dr. Antônio de Trindade, 28.513; Chico KGL teve 27.359, mesmo com a base do então prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale, se dividindo para apoiar seu filho Lucas do Vale, 2º colocado geral com 55.747.
Melhor receita é fazer a sua parte e ajudar o colega
Do momento em que você se filia a um partido até a hora da apuração, é torcer para nada acontecer de errado. Tem de ficar com um olho no peixe e outro no gato: seus companheiros de sigla não podem ter pouco voto demais a ponto de não eleger ao menos um, nem podem ser bons de votos para o ultrapassar. Como descobrir isso se urna é igual a galinha, ninguém sabe o que vai sair dela, se omelete ou esterco? Faça a sua parte.
Observe a última votação. Nem todo mundo é Fred Rodrigues, que multiplicou seus sufrágios por dezenas de vezes depois de se irmanar com Gustavo Gayer. Quem ganha muito voto costuma ser muito rico. Portanto, a menos que o sujeito seja um fenômeno em redes sociais, a possibilidade de ele derrotar você está no cofre. Confira se o sogro é prefeito ou líder de alguma seita.
Também não se pode demonizar o colega, sobretudo se for mulher. Ao se observar a lista das últimas quatro eleições, constata-se que a maioria dos candidatos tirou menos de mil votos. Mil. Milin. Daria nem para se eleger vereador em Inhumas ou Goianésia. Se forem candidatas, o partido tem a obrigação de repassar o mínimo exigido e ainda conferir se estão fazendo campanha, tudo documento em vídeo.
Olho vivo também com as redes sociais. Até agora, apenas dois candidatos conseguiram chegar à Câmara dos Deputados graças ao Instagram, o delegado Waldir Soares em 2014 e 2018 e o empresário Gustavo Gayer em 2022.