Quinta-feira, 28 de março de 2024

A despeito de incertezas climáticas, preços altos sinalizam safra recorde

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 08 de outubro de 2021

A despeito das incertezas que rondam o campo, alimentadas por expectativas ainda pouco definidas em relação ao comportamento das chuvas nos próximos meses e da gravidade da crise hídrica, as primeiras estimativas para a safra de grãos no ciclo 2021/22 vieram até otimistas. Com preços historicamente ainda muito favoráveis, aqui dentro, sustentadas pelo dólar mais desvalorizado, os produtores demonstram inicialmente disposição para ampliar as áreas de plantio de soja e de milho e esperam contar com produtividades mais generosas, no segundo caso, ou pelo menos nos mesmos níveis daquelas observadas na safra passada, no caso da oleaginosa.

Os dados bastante preliminares do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), instalado no centro da principal região produtora de grãos do País, sugerem resultados bastante favoráveis para a safra iniciada em julho, na cronologia oficial. Oficialmente, os trabalhos de semeadura só foram iniciados, por lá, depois das primeiras chuvas, que vieram no momento esperado. Tanto parece ter sido assim que perto de 6,16% da área prevista para a soja na safra em curso já haviam sido semeados até o começo deste mês. Para comparar, em igual período do ano passado, as plantadeiras haviam avançado em apenas 1,70% da área reservada para a oleaginosa.

Mantido o ritmo atual, há chances de que o plantio do milho no Estado ocorra dentro da janela idealmente recomendada pelos manuais agronômicos, o que ajudaria as plantas a expressarem mais apropriadamente seu potencial produtivo. No ano passado, como se sabe, isso não ocorreu. A falta de chuvas retardou o cultivo da soja, atrasando, num efeito em cadeia, a semeadura do milho, colhido fora da época mais propícia, o que derrubou o rendimento médio das lavouras e enxugou a produção.

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Chove chuva

De acordo com o Imea, o ritmo atual do plantio e “os volumes favoráveis de precipitações registrados nas regiões do Estado em setembro” permitiram manter positivas as perspectivas para a safra 2021/22 de soja, “sustentada também pelos preços em altos patamares e a demanda mundial consistente pelo grão”. As previsões para outubro antecipam, sempre conforme o instituto, um volume acumulado de chuvas em torno de 200 milímetros em Mato Grosso, “o que pode favorecer o acúmulo de umidade no solo e um bom desenvolvimento para a safra da oleaginosa neste ano”. Diante desse cenário, o Imea decidiu manter, em seu sexto levantamento de campo, a previsão de exploração de uma área de 10,840 milhões de hectares apenas para a soja em 2021/22, diante de quase 10,465 milhões de hectares no ciclo passado, apontando uma elevação de 3,6%. A se confirmar, será a maior área plantada na série histórica do instituto.

Balanço

  • A produtividade foi mantida praticamente nos mesmos níveis do ano passado, repetindo os números de 2017/18. Isso significa uma expectativa de colheita de 3.451 quilos por hectare (57,52 sacas), frente a 3.445 quilos em 2020/21 (57,42 sacas, no dado do Imea). Mantidas as previsões, até o final do ciclo os produtores mato-grossenses terão colhido qualquer coisa ao redor de 37,409 milhões de toneladas, perto de 1,357 milhão de toneladas a mais do que na safra passada, em alta de 3,8%, demarcando um novo recorde para o setor.
  • Com os preços rondando a casa de R$ 72,30 no começo de outubro, no mercado disponível, num salto de 123% em relação aos R$ 32,40 registrados no mesmo período do ano passado, os produtores decidiram assumir mais riscos nesta safra, reservando um recorde de 6,217 milhões de hectares para o plantio de milho. Comparada à área de 5,841 milhões de hectares cultivada no ano passado, o levantamento do Imea e de seus especialistas sugere alta de 6,4% para o espaço a ser cultivado por volta de fevereiro e março do próximo ano.
  • Com ajuda de São Pedro, o resultado poderá ser a colheita, igualmente histórica, de 39,575 milhões de toneladas de milho, pouco mais de 7,0 milhões de toneladas mais do que no ciclo anterior, quando haviam sido colhidas 32,565 milhões de toneladas. Proporcionalmente, um salto de 21,5% entre um ciclo e o seguinte. O forte avanço projetado pelo Imeatenderia a recuperar com folga a perda realizada na safra passada, com a produção caindo 8,14% diante do ciclo 2019/20, numa quebra de 2,886 milhões de toneladas.
  • A produtividade, na avaliação do Imea, deverá se comportar melhor, considerando o estágio mais avançado do cultivo da soja neste ano, “o que pode afetar positivamente a semeadura do milho no Estado, dentro da janela ideal de plantio”. Em sua segunda estimativa para a safra do grão, o instituto decidiu manter a previsão de um rendimento médio em torno de 6.365 quilos por hectare (106,09 sacas), cerca de 14,5% maior do que em 2020/21 (5.559 quilos ou 92,65 sacas por hectare, em torno de 15,0% abaixo dos níveis registrados em 2019/20).
  • A safra recém-iniciada, como toda safra, não está isenta de riscos. Mudanças na demanda e nos humores do mercado não teriam, a esta altura, força suficiente para interferir em decisões de plantio tomadas lá atrás. Os dados mais recentes da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) mostram um incremento de 16,8% nas vendas de fertilizantes nos primeiros sete meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, saindo de 20,455 milhões para 23,894 milhões de toneladas e prenunciando um novo ano de recordes para a indústria do setor.
  • O risco está na grande diferença entre os preços recebidos aqui dentro pelos produtores e a paridade de exportação (ou seja, os preços praticados nas vendas externas, já convertidos de dólar para reais). No caso da soja, a diferença em favor dos preços internos estava em 16,3% no começo de outubro, atingindo 26,6% no caso do milho. Ou seja, soja e milho estão com preços muito mais altos aqui dentro do que no exterior.
  • Temorosos, os produtores têm sido mais parcimoniosos nas negociações. Neste ano, até o início deste mês, apenas 39,50% da produção de soja já haviam sido comercializados, diante de 55,91% em 2020. Para o milho, o percentual é ainda mais baixo, chegando a 30,87% (frente a 50,92% em outubro de 2020).