A inflação, de volta (mais uma vez). E a economia, em baixa

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de outubro de 2022

As notícias sobre a “morte da inflação” foram “manifestadamente exageradas”, parafraseando o grande escritor Mark Twain, que se referia àqueles que haviam prematuramente antecipado a sua própria morte. A virada, no caso da inflação brasileira, era já esperada, considerando que o curto período de deflação estava baseado quase exclusivamente na redução de impostos sobre combustíveis, energia e comunicação, com efeitos apenas temporários sobre os preços naqueles setores. Esgotado aqueles impactos “deflacionários”, a inflação retorna e volta a registrar tendência à elevação em outubro, como mostram os preços acompanhados semanalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), responsável pelo cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S).

Ainda com alguma defasagem, os indicadores que tentam capturar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma das riquezas geradas pelo País – mostraram debilidade em agosto, no caso do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), e também em setembro e nos primeiros dias de outubro, conforme registra o Índice Diário de Atividade Econômica (Idat-Atividade), do Itaú BBA. A realidade antecipada por esses indicadores, caso venham a ser confirmados pelo lado real da economia, desmente a retórica distorcida sustentada pelo desgoverno de Brasília e sua equipe econômica.

O IPC-S chegou a registrar queda de 1,28% nas quatro semanas terminadas em 15 de agosto, com tombos de quase 5,0% na área de transportes e de educação e recreação e ainda redução de 0,41% nos preços médios no grupo habitação. Neste último setor, a queda havia sido mais intensa nas semanas anteriores, chegando a 0,70% nas quatro semanas de julho em decorrência principalmente de uma diminuição de 5,13% nas tarifas de energia, refletindo o fim da bandeira tarifária de escassez hídrica.

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Virada

A queda dos preços no grupo transportes ao longo de julho, por sua vez, vinha sob influência da redução de 16,45% nos preços da gasolina e de 10,63% nos preços médios do etanol. A principal contribuição negativa no grupo de despesas com educação, leitura e recreação veio da tarifa média das passagens aéreas, com retração de 29,33%, item que sempre apresenta grande volatilidade, para cima e para baixo. Nos 30 dias concluídos no sábado passado, o IPC-S registrou variação de 0,42%, o que correspondeu a uma “virada” de 1,7 ponto percentual em dois meses. Nitidamente, a mudança na cobrança de impostos sobre gasolina, etanol, energia, telefonia fixa e celular esgotou-se e seu impacto sobre a inflação já não compensa altas em outras áreas, que continuam a pressionar o custo de vida e tendem a reverter os impactos inicialmente positivos da “deflação” sobre a renda dos trabalhadores e de suas famílias – uma “deflação” que ficou concentrada em poucos grupos de despesas.

Balanço

  • A habitação, que havia anotado inflação negativa de 0,70% em julho, como visto, passou a registrar elevação de 0,65% em quatro semanas até o dia 15 de outubro, com altas de 1,87% nos custos do condomínio residencial e de 1,11% para o aluguel.
  • A queda nos custos médios dos transportes ficou limitada a 1,59% (3,4 pontos percentuais de diferença em relação à taxa de -4,99% acumulada em quatro semanas até o dia 15 de agosto). Ainda em baixa, os preços da gasolina e do etanol registraram quedas de 5,68% e de 8,59% na quadrissemana encerrada na primeira quinzena de outubro. O ritmo de redução daqueles preços, como se percebe, perdeu muito de sua intensidade inicial e tende a reduzir seu ímpeto nas semanas seguintes, até por um efeito estatístico.
  • Os preços do grupo comunicação, que haviam baixado 0,52% até a primeira semana de outubro, engatilhou baixa de 0,65% em 30 dias até 15 de outubro, o que se compara com a redução de 1,03% acumulada nas quatro semanas de agosto.
  • As passagens aéreas passaram a subir em um ritmo de 17,19% nos 30 dias terminados no sábado passado, o que ajudou a gerar uma taxa de “inflação” de 3,75% no setor de educação e recreação. Até 15 de agosto, o grupo apontava queda de 4,99%. De toda forma, as passagens sofreram alguma inflexão em relação à quadrissemana finalizada no dia 7 deste mês, quando haviam subido 19,86%, contribuindo para a elevação de 4,31% registrada pelo setor de educação e recreação.
  • Mas outros grupos de despesa passaram a pressionar o IPC-S, a exemplo da alimentação, que ficou 0,44% mais cara ao final da primeira quinzena de outubro, depois de variar apenas 0,13% na quadrissemana finalizada no dia 7 passado. O vestuário subiu 0,56% (levemente acima da taxa de 0,52% acumulada até o final da primeira semana de outubro, mas em alta mais firme na comparação com os 30 dias de agosto, quando o grupo havia anotado elevação de 0,38%). As despesas com saúde e cuidados pessoais sofreram aumento de 0,74% até 15 de outubro, saindo de 0,59% no final de setembro e de 0,65% até o final da primeira semana de outubro.
  • O índice da atividade econômica, na estimativa do BC, recuou 1,13% em agosto na comparação com julho, devolvendo quase toda a alta de 1,67% registrada na saída de junho para o mês seguinte. No acumulado em 12 meses até agosto, o indicador, que em teoria deveria antecipar o comportamento do PIB, registra incremento de 2,08%.
  • O declínio em agosto, avalia o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), veio “a despeito de todas as ações que o governo vem tomando para estimular o consumo das famílias em 2022, como saque extraordinário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), antecipação de 13º salário de aposentados e pensionistas, e mais recentemente, aumento para R$ 600 reais do valor do Auxílio Brasil, vale gás, vale caminhoneiro e vale taxista, bem como os cortes no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)”.
  • Na média móvel de 28 dias, o Idat-Atividade do Itaú BBA apontou variação de apenas 0,18% entre setembro e outubro, mas acumula baixa de 5,0% em relação a julho.