Geração solar experimenta “boom” nos últimos cinco anos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de outubro de 2022

A geração de energia solar passou a experimentar um “grande boom” nos últimos cinco anos, principalmente na geração distribuída, na expressão escolhida por Cláudio Gonçalves, sócio da Kearney, para descrever o desempenho do setor. Na sua visão, o mercado de fato deslanchou e tem avançado igualmente na geração centralizada, atraindo investimentos de grandes players interessados em reduzir custos da energia e garantir acesso a energia sustentável. “Quem estiver melhor posicionado nesta área, terá maiores condições de acumular economia de escala e sair na frente da concorrência”, acrescenta ele.

As projeções da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), segundo Carlos Dornellas, seu diretor técnico e regulatório, incorporam um crescimento de praticamente 80% na capacidade instalada na saída de 2021 para 2022, elevando a potência disponível para algo próximo a 24,9 gigawatts frente a pouco mais de 13,8 GW no ano passado. No início de outubro, o setor já somava perto de 20,0 GW na geração centralizada e distribuída, com participação próxima de 9,6% na matriz energética, atrás apenas das hidrelétricas e da fonte eólica. O setor investiu ao redor de R$ 103,0 bilhões 2012, gerando em torno de 600,0 mil empregos no período. Nos próximos cinco anos, prossegue Dornellas, são esperados investimentos de R$ 252,3 bilhões na instalação de mais 68,3 GW de potência. “Pretendemos atingir uma participação de 30% na matriz energética brasileira até 2050”, acrescenta ele.

Novo marco

Continua após a publicidade

A entrada em vigor da Lei 14.300, que definiu novo marco legal para a geração distribuída, aposta Dornellas, não deverá alterar o cenário de crescimento antecipado para o setor. Na avaliação de Guilherme Chrispim, presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), o setor deixa de depender de resoluções e passa a contar com uma lei, o que “trouxe mais segurança para o sistema de geração distribuída e garantiu mais previsibilidade para o setor em um horizonte de tempo até 2045”. O fator principal, diz ele, é que a nova legislação mantém o sistema de compensação com o setor de distribuição para quem gera a própria energia. Gonçalves, da Kearney, acredita que a medida trará algum impacto sobre a rentabilidade dos projetos, “mas ainda assim o setor preserva potencial para um crescimento muito forte no futuro” – especialmente porque os custos do setor, acompanhando a curva de aprendizagem tecnológica, devem retomar a tendência de queda interrompida pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Entre 2008 e 2021, os custos das placas fotovoltaicas, comenta Walter Fróes, diretor geral da CMU Comercializadora de Energia, experimentaram queda de 93%.

Balanço

  • Em parceria com a Solatio Energia Livre, a CMU terá 48 meses para colocar de pé 29 novas plantas de geração solar, que vão acrescentar perto de 19,0 gigawatts/pico (GWp) à capacidade ofertada ao mercado de autoprodução, atualmente na faixa de 1,3 GWp, elevando-a para quase 21 GWp. Com recursos de fundos de mercado também parceiros do negócio, Fróes estima que o investimento total possa se aproximar de R$ 60,0 bilhões a R$ 65,0 bilhões, em grandes números.
  • No setor de minigeração distribuída, que dispensa o consumidor final de investir na instalação de placas e opera em um regime próximo ao de assinatura, a CMU vai injetar perto de R$ 600 milhões, dobrando para 140 o número atual de usinas solares, também com recursos de fundos de investimento. A expansão vai assegurar uma capacidade adicional de 2,0 GWp de forma a dar sustentação ao crescimento da base de consumidores, que já havia saltado de 6,0 mil em dezembro do ano passado para 93,0 mil em setembro. A comercializadora espera atingir a marca de 200 mil cientes até o final deste ano.
  • A Shell Brasil trabalha, no momento, com um portfólio de projetos com potência somada de 4 GW de energia solar, envolvendo sete projetos ainda em fase de desenvolvimento para instalação de usinas em Minas Gerais, Goiás e Paraíba. Anunciada em fevereiro e referendada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a joint-venture com a Gerdau prevê a instalação de um parque solar em Minas Gerais, com capacidade para 260 megawatts/pico (MWp), com início das obras previsto para 2023.
  • A decisão final sobre o investimento, segundo a Shell, será tomada apenas depois de concluídas as etapas de licenciamento ambiental e de “outros trâmites relacionados ao setor elétrico”. Segundo a multinacional, a parceria com a Gerdau viabiliza em torno de um terço da capacidade do parque, o que “reforça sua importância para a estratégia de descarbonização de grandes consumidores”.
  • Braço de geração fotovoltaica do Grupo Safira, a Safira Solar vai dobrar sua capacidade até o primeiro semestre de 2023, passando de 6,0 MWp hoje já conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN), fornecidos pelos parques de Montes Carlos e Porteirinha, em Minas Gerais, algo em torno de 13,5 MWp. A usina de Rio do Prado, empreendimento mais recente da empresa, segundo Vinícius Marini Ferreira, CEO da Safira Solar, começará entregando 2,5 MWp em dezembro desde ano, atingindo capacidade total de 7,5 MWp ao longo da primeira de metade do próximo ano.
  • Atuando na geração distribuída compartilhada, acrescenta Ferreira, a empresa decidiu alavancar sua operação, “inclusive por meio de financiamentos, de forma a acelerar a implantação” do novo parque. A empresa esperava atingir 30 MWp até o final deste ano, mas decidiu reestruturar os projetos e adiou a meta para “2023 em diante”, conforme o CEO. “Entendemos que, no final, o setor passará por uma consolidação e queremos ter tamanho para sermos consolidadores, o que só acontecerá se alcançarmos uma escala mínima”, adianta Ferreira.