Alta das commodities injeta fôlego no Centro-Oeste e Norte

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de setembro de 2022

A atividade econômica Centro-Oeste corre o risco de experimentar alguma desaceleração na passagem de 2021 para 2022, embora os indicadores até aqui disponíveis sugiram que a economia regional tenderá preservar um ritmo ainda mais intenso do que a média esperada para o restante do País. O ciclo de alta das commodities agrícolas, em curso desde 2021 e impulsionado a partir do início deste ano pela guerra entre Rússia e Ucrânia, tem contribuído para dar sustentação ao nível de atividade, considerando-se o papel central desempenhado pelo agronegócio no Centro-Oeste, conforme anotam as economistas Camila Saito, do setor de análise setorial da Tendências Consultoria Integrada, e Cláudia Bruschi Martins, do Itaú Unibanco.

A depender das referências de quem analisa números e projeções, o crescimento poderá vir mais modesto, reforça Gabriel Couto, economista do Santander. Nas suas contas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Centro-Oeste sairia de alta de 4,3% no ano passado para 3,7% neste ano. Ainda assim, se o crescimento registrado em 2021 havia sido inferior ao avanço de 4,6% anotado pelo PIB em todo o País, os prognósticos para este ano sugerem taxas mais alentadas do que a média brasileira, que deverá se contentar com algo entre 1,7% e 1,9% nas previsões da Tendências e também do Santander, alcançando 2,2% nas planilhas do Itaú Unibanco.

As estimativas mais recentes da Tendências e do Itaú Unibanco, mostram Camila e Cláudia, sugerem maior resiliência no Centro-Oeste ao longo deste ano, indicando uma atividade econômica mais robusta do que apontam as previsões do Santander. A consultoria trabalha com a perspectiva de elevação de 3,2% no Centro-Oeste, que deve reeditar, conforme Camila, o desempenho do ano passado.

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Maior peso

Na sequência da forte estiagem ocorrida em 2021, observa a economista, a agropecuária tende a apresentar recuperação, saindo de uma redução de 3,4% em 2021 para alta de 6,9%, suportada pela produção histórica de soja e milho e pelo desempenho no abate de bovinos, com apoio ainda de um cenário favorável para celulose e etanol. Camila lembra que a agropecuária responde por 10,1% do PIB do Centro-Oeste, participação mais elevada entre as regiões e mais do que o dobro da média brasileira, que reserva uma fatia de 4,9% para o setor na formação do PIB. “Há uma grande interdependência setorial em torno da agropecuária e uma participação intensa de commodities como carnes e óleo de soja na indústria de transformação local”, acrescenta Cláudia. A produção da indústria de alimentos, reforça Camila, deve avançar em torno de 5,3% neste ano no Centro-Oeste, depois de sofrer baixa de 2,4% em 2021, ajudando a consolidar uma elevação de 4,8% para o setor industrial como um todo na região.

Balanço

  • Couto, do Santander, lembra ainda que a economia no Centro-Oeste sofreu menos com a pandemia, justamente por influência do agronegócio em seu conceito mais amplo, que inclui a indústria de insumos, a agroindústria, setores de distribuição e de serviços prestados à agropecuária. O banco estima queda de 1,1% para o PIB do Centro-Oeste em 2020, o que se compara com a retração de 3,9% anotada pela economia brasileira em seu conjunto.
  • Com nove projetos em fase de maturação e outros apenas anunciados, segundo a Tendências, o Centro-Oeste deverá receber investimentos estimados em praticamente US$ 8,930 bilhões, com prazo de conclusão entre 2022 e 2025. O setor de celulose e papel surge como destaque na região central do País, com investimentos projetados em US$ 7,607 bilhões concentrados em Mato Grosso do Sul.
  • No levantamento da consultoria, apenas a Suzano planeja investir em torno de US$ 2,9 bilhões em uma nova planta para a produção de papel em Ribas do Rio Claro, na região centro-oeste do Estado, enquanto a chilena Arauco, do setor madeireiro, prevê desembolsar US$ 2,7 bilhões na construção de uma nova fábrica de celulose.
  • Ainda envolta em conflitos judiciais com a J&F Investimentos, a consolidação da transferência do controle da Eldorado Brasil para a Paper Excellence poderá mobilizar investimentos de quase US$ 2,0 bilhões para expansão da unidade de celulose instalada em Três Lagoas (MS).
  • Na região Norte, aponta Couto, o crescimento poderá vir bem mais modesto, com variação estimada em apenas 0,6% nos 12 meses deste ano, diante de elevação de 3,0% em 2021. As estimativas trazidas por Camila e Cláudia igualmente sugerem desaquecimento. A consultoria trabalha com a perspectiva de elevação de 2,1% para o PIB da região, saindo de 4,0% em 2021.
  • O desempenho mais modesto no Norte guarda relação com uma produção industrial mais fraca, estimando-se perda de 4,8% neste ano, refletindo principalmente a queda antecipada de 11,2% para o setor de mineração e petróleo. Aqui, observa Camila, o impacto deve ser lançado na conta da frustração na produção de minério de ferro no começo deste ano, decorrente das paradas para manutenção das plantas instaladas na região. Na visão de Couto, essa retração pode estar ligada à crise no setor imobiliário na China, afetando a demanda por minério de ferro. Olhando a indústria como um todo, o economista acrescenta que a descontinuidade nas cadeias globais de suprimento ainda estaria afetando o setor de bens duráveis, que tem peso elevado na região por conta do parque de bens duráveis na Zona Franca de Manaus.
  • “A expectativa, de todo modo, é de alguma retomada da produção do setor extrativo no restante do ano, sob influência da expansão da capacidade de produção do complexo S11D, da Vale, que deve receber um aporte estimado em US$ 1,5 bilhão”, pondera. A normalização das atividades no setor de serviços, retoma Cláudia, deve contribuir para dar alguma sustentação para a economia nortista. A expectativa de preços de commodities ainda elevados, prossegue ela, deve puxar setores de alguma forma associados a produtos metálicos, petróleo e grãos, “o que gera maior crescimento”.