BNDES desembolsa menos em Goiás, mas triplica empréstimos na indústria

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 08 de março de 2022

Os desembolsos totais realizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)em Goiás mais do que triplicaram na indústria, embora tenham sofrido queda acentuada nas áreas de infraestrutura e de comércio e serviços, levando a uma estagnação virtual para o total dos empréstimos e financiamentos da instituição no Estado. Os dados do banco para o Estado mostram um total de desembolsos próximo a R$ 1,777 bilhão ao longo dos 12 meses de 2021, frente a R$ 1,790 bilhão um ano antes, num recuo de 0,71%. Se atualizados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os desembolsos gerais sofreram queda muito próxima de 8,7%.

O setor industrial contratou e recebeu R$ 305,063 milhões no ano passado, num salto de 234,43% em relação ao ano anterior, quando os desembolsos para o setor haviam alcançado apenas R$ 91,218 milhões, em valores nominais (quer dizer, sem levar em conta a variação da inflação). Mesmo em termos reais, descontado o IPCA, aqueles números sugerem uma alta de 208%. Ou seja, mesmo depois de descontada a desvalorização causada pela ata dos preços, os desembolsos para a indústria em geral, incluindo os setores de transformação e de extração mineral, triplicaram. Não deixa de ser um feito, num momento de nítido desaquecimento da atividade industrial em Goiás (e no restante do País, apenas para dar um contexto mais amplo).

Aquele forte incremento deve ser visto com maior atenção e não significa que todos os setores da indústria chegaram a apresentar números positivos. Uma parte desse aumento, mais modesto, veio da indústria extrativa, que apresentou alta de 113,6% entre 2020 e 2021, com desembolsos dobrando de R$ 7,212 milhões para R$ 15,403 milhões. Quase 75,7% desse incremento vieram, no entanto, de apenas dois projetos em fase de instalação e/ou modernização em Barro Alto, que passou a concentrar 71,8% dos desembolsos para o setor em todo o Estado. No ano de 2020, a mineração no município havia recebido R$ 4,848 milhões, distribuídos entre 16 projetos. No ano seguinte, os desembolsos subiram para R$ 11,058 milhões, saltando 127,6% (mas destinados a dois projetos).

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Concentração

Na indústria de transformação, igualmente pode-se observar uma tendência de concentração nos desembolsos, em favor, literalmente, de meia dúzia de projetos nos segmentos de biocombustíveis e de alimentos e bebidas. O salto, no primeiro setor, foi estrondoso, algo na faixa de 29.849%. Um dos motivos é que os empréstimos haviam se limitado e meros R$ 528,184 mil em 2020, escalando para R$ 158,185 milhões no ano passado (dos quais R$ 140,20 milhões foram para três projetos em Quirinópolis, ou quase 89% do total). No segundo setor, a predominância foi de Itaberaí, que sedia o principal parque de produção do grupo São Salvador Alimentos, dono da marca Super Frango). A cidade recebeu R$ 44,041 milhões em 2021 e não houve registro de desembolsos no ano anterior.

Balanço

  • Desconsiderados os projetos financiados pelo banco de fomento no setor de biocombustíveis e na indústria de alimentação em Itaberaí, o restante da indústria de transformação recebeu R$ 87,434 milhões no ano passado, registrando variação de apenas 4,74% frente aos R$ 83,478 milhões desembolsados em 2020. Em termos reais, aqueles números apontam queda real de quase 4,0%.
  • De uma forma ou de outra, a destinação dos recursos aparentemente segue os caminhos tomados pela indústria no Estado, que tem se especializado crescentemente em setores associados à produção agropecuária, que tem se mantido como principal vetor econômico, preservando certa capacidade de crescimento em meio a uma economia em crise.
  • De qualquer forma, os desembolsos no setor de agropecuária na verdade não chegaram a crescer propriamente em 2021, somando R$ 1,076 bilhão frente a R$ 1,037 bilhão em 2020. A comparação entre os dois números mostra uma variação nominal de apenas 3,68% (numa queda real de 4,6%).
  • Os setores de comércio e serviços, analisados em conjunto pelo BNDES, sofreram redução de 31,66% na passagem de 2020 para 2021, desabando de R$ 400,840 milhões para R$ 273,931 milhões, em valores nominais. Os projetos de infraestrutura foram também fortemente sacrificados, com os desembolsos despencando de R$ 260,632 milhões (valor já baixo diante do tamanho das demandas e das necessidades de recursos para o setor) para R$ 158,772 milhões, num corte de 39,1%.
  • Os segmentos de outros transportes e de energia registraram tombos de 57,12% e de 54,26% respectivamente. No primeiro setor, os recursos desembolsados encolheram de R$ 81,554 milhões para R$ 34,969 milhões. No segundo, foram cortados de R$ 22,006 milhões para R$ 10,066 milhões – neste caso, a queda foi relevante veio de projetos de transmissão de energia, onde os desembolsos murcharam de R$ 19,690 milhões para R$ 8,073 milhões, numa queda de 59,0%.
  • A indústria de construção, incluída pelo BNDES no macro setor de infraestrutura, sofreu retrocesso inédito, saindo de R$ 33,265 milhões para apenas e somente R$ 200,0 mil. No transporte rodoviário, que sempre foi predominante nas políticas públicas aqui e em outros Estados, as contratações caíram 17,49%, de R$ 103,896 milhões para R$ 85,726 milhões.