Chuvas devem continuar irregulares até março, em plena colheita da safra

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 02 de janeiro de 2024

As previsões para o clima nas próximas semanas surgem ligeiramente mais otimistas, o que tende a propiciar alguma melhoria nos níveis de umidade dos solos, mas não a ponto de reverter os impactos causados por meses de instabilidade, baixa precipitação e temperaturas seguidamente superiores às médias históricas. Os Estados das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste anotaram um volume de chuva inferior à média ao longo de novembro, como registra a consultoria do ItaúBBA para o agronegócio, causando incertezas em relação às perspectivas de colheita especialmente da soja e do milho de primeira safra, com possíveis consequências sobre a segunda safra de milho. A expectativa de chuvas irregulares tende a se alongar até o final do verão, em março do próximo ano, já em plena colheita da safra.

Se a onda de calor em novembro deixou as temperaturas acima da média ao longo de 12 dias em sequência, com termômetros anotando máximas acima de 40°C principalmente em áreas de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, observa a consultoria do ItaúBBA, nos primeiros 25 dias de dezembro as chuvas voltaram a ficar abaixo do normal para o período na maior parte do País. “Somente em partes da região Sul choveu acima do normal”, registra o Radar Agro produzido neste mês pela consultoria. “Essa condição de irregularidade seguiu prejudicando o plantio e o desenvolvimento das lavouras de verão pelo País. O calor excessivo também impõe dificuldade para o pleno desenvolvimento das lavouras, resultando em antecipação do ciclo da soja”, reforçam os consultores do banco.

A despeito do comportamento incerto nos últimos meses, com as condições climáticas sofrendo diretamente os efeitos combinados do El Niño e da tendência global de elevação das temperaturas médias, “os modelos meteorológicos continuam prevendo o avanço das chuvas para o Centro-Norte do Brasil nos próximos dias”, de acordo com a consultoria. Aqueles modelos sugerem uma tendência de chuvas mais intensas ao longo da primeira semana de janeiro, “avançando para o Matopiba” (região formada por parte do Maranhão e de Tocantins, sul do Piauí e oeste da Bahia). As temperaturas, no entanto, não devem mostrar arrefecimento, já que o El Niño “deve apresentar seu pico de intensidade durante o verão no Brasil”.

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Alívio, mas nem tanto

Os mapas de previsão da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA) antecipam volumes de precipitação “mais significativos” para Minas Gerais e Goiás na semana inicial de 2024, com as chuvas podendo acumular volumes equivalentes a 100 milímetros em porções daqueles Estados até dia 1º de janeiro – salvo predisposição em contrário do clima instável que tem assolado o Centro-Oeste desde o início do plantio. “Na primeira semana de 2024, o modelo norte-americano prevê acumulados ultrapassando os 100 mm em toda a região do Matopiba”, prossegue o relatório da consultoria. A se confirmarem, as chuvas esperadas tendem a elevar a umidade do solo naquela região, favorecendo “a finalização do plantio e o desenvolvimento das lavouras”. As projeções para o resto do período podem, no entanto, continuar a produzir incertezas.

Balanço

  • De acordo com o Climatempo, retoma a consultoria agro do ItaúBBA, todo o período de verão no Hemisfério Sul deverá ser marcado por excesso de chuvas no Sul do Brasil e volumes relativamente mais baixos de precipitação na região Norte, como característica mais geral. “Além disso”, prossegue a consultoria, “o El Niño durante o verão poderá alterar o regime de chuvas no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, com previsão de chuvas irregulares nos próximos três meses”.
  • O Radar Agro de dezembro preparado pelo ItaúBBA chama a atenção especialmente para as previsões de chuvas abaixo das médias históricas nos próximos três meses para Mato Grosso e no oeste de Mato Grosso do Sul. E acrescenta que “as temperaturas devem ficar acima da média durante todo o verão em todas as regiões do País”.
  • Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), até o começo de dezembro, em torno de 5,81% da área de 12,130 milhões de hectares em princípio reservada para o cultivo da soja no Estado terão que ser replantadas por conta a inclemência climática. Isso torna as projeções e o ambiente de negócios no setor ainda mais incertos.
  • Ainda de acordo com o Imea, até novembro passado, apenas 33,96% da safra haviam sido comercializados, diante de 40,67% em igual período do ano passado, consolidando um “atraso de 6,71 pontos percentuais”.
  • As dúvidas em relação ao tamanho da safra de soja a ser colhida a partir do início do novo ano, com previsões sugerindo uma produção mais próxima de 153,0 milhões de toneladas, embutindo uma expectativa de quebra superior a 7,1 milhões de toneladas em relação ao ciclo passado, têm movimentado o “mercado do clima”, referência aos movimentos especulativos que em geral varrem os mercados da oleaginosa nesse período do ano.
  • Os preços em Chicago chegaram a subir 4,5% em novembro, para US$ 13,24 por bushel, mas recuaram para US$ 13,11 nos 25 primeiros dias de dezembro, num recuo de 2,3%. Os prêmios pagos aqui dentro aos exportadores de soja vinham em recuperação, embora se mantendo em terreno negativo. No porto de Paranaguá, os prêmios negociados para contratos com embarque fixado para março de 2024 saíram de menos 96 centavos de dólar por bushel em outubro passado para menos 64 centavos em novembro, “o que se traduziu em ganho de R$ 3,50 por saca”. Embora mais tímida, a tendência de valorização dos prêmios teve sequência em dezembro.
  • Ainda que a safra brasileira de soja tenda a ser menor, o balanço global entre oferta e demanda deve se manter folgado, com a relação entre estoques e consumo saindo de 28% para 30% respectivamente nas safras 2022/23 e 2023/24, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) trabalhados pela consultoria. Graças principalmente à vigorosa recuperação esperada para a produção argentina, que tende a saltar de apenas 25,0 milhões para 48,0 milhões de toneladas. O cenário pode ajudar a conter pressões altistas relacionadas à quebra da safra brasileira, a depender das dimensões das perdas.