Massa salarial atinge novo recorde, mas volta a apontar ritmo moderado

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 30 de dezembro de 2023

A massa total de rendimentos do trabalho recuperou com folga todas as perdas sofridas nos anos mais duros da pandemia, em valores já corrigidos até novembro deste na com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ainda em termos reais, a soma de todos os rendimentos habitualmente recebidos pelos trabalhadores alcançou sua maior marca no trimestre concluído em novembro passado ao atingir qualquer coisa em torno de R$ 300,164 bilhões, numa variação de 3,2% frente aos três meses imediatamente anteriores, quando havia somado R$ 290,870 bilhões.

Na comparação com média observada no trimestre setembro a novembro do ano passado, que se aproximou de R$ 286,317 bilhões, a massa salarial avançou 4,8%, o que se traduziu num ganho de R$ 13,847 bilhões para um total de 100,508 milhões de pessoas ocupadas em todo o País ao final de novembro deste ano – em dados absolutos, a economia brasileira jamais havia gerado empregos para número tão grande de trabalhadores, conforme mostra a série histórica de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e iniciada em 2012.

Os avanços nesta área refletem a valorização registrada em termos reais, descontada a inflação, pelo rendimento médio recebido habitualmente pelo trabalhador, favorecido mais recentemente pela queda das taxas inflacionárias, e ainda pelo incremento no total de ocupados. Os registros mais recentes da pesquisa, de toda forma, continuaram a apontar ritmos mais moderados de crescimento tanto para o número de ocupações criadas na economia quanto para a massa de rendimentos reais, num sintoma de uma tendência mais ampla de perda de ímpeto em toda a atividade econômica mais recentemente, como tem sido registrado neste espaço.

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Moderação, a tendência em cena

A economia de fato continua ampliando o número de ocupados, abrindo vagas e realizando contratações, notadamente em setores associados a serviços e outras atividades que exigem capacitação menor. Mas a série estatística mostra que isso já não ocorre como nos primeiros momentos da recuperação pós-pandemia. Seria mesmo natural que isso ocorresse, dado o tamanho das perdas operadas no mercado de trabalho nos meses de endurecimento das medidas de distanciamento social. Mas essa mudança de ritmo traz consequências para toda a economia, ao limitar seu ritmo de crescimento, já dificultado pela prática de juros excessivamente elevados diante da realidade inflacionária do País. A soma desses fatores – crédito muito caro e desaceleração no avanço do emprego – novamente explica em grande medida o desaquecimento observado na segunda metade deste ano. Para complementar, a taxa de desemprego baixou de 8,1% um ano antes para 7,5% no trimestre finalizado em novembro deste ano, retomando os mesmos níveis do trimestre encerrado em fevereiro de 2015, quando a desocupação ficou também em 7,5%.

Balanço

  • O total de pessoas empregadas no País, de acordo com os dados da PNADC, havia despencado de 95,515 milhões no último trimestre de 2019, o recorde anteriormente registrado pelo IBGE, para 82,590 milhões no trimestre móvel encerrado em agosto de 2020, o nível mais baixo desde 2012, quando a pesquisa foi iniciada. Portanto, em apenas oito meses, perto de 12,925 milhões de pessoas perderam seus empregos, correspondendo a uma redução de 13,5%.
  • Foram necessários 16 meses para que a economia conseguisse superar aquele momento e retomar o número de ocupados registrado no trimestral final de 2019, antes da pandemia. No último trimestre de 2021, os quase 13,0 milhões de empregos perdidos até meados de 2020 foram recuperados com alguma folga. Entre outubro e dezembro de 2021, a pesquisa mostrava um número total de 95,747 milhões de ocupados, num avanço de 15,9% desde o trimestre móvel finalizado em agosto de 2020, com a geração de 13,157 milhões de vagas.
  • Nos 23 meses subsequentes, o total de pessoas ocupadas registrou variação levemente inferior a 5,0%, incorporando ao mercado de trabalho outros 4,761 milhões de trabalhadores. Como parece evidente, o ritmo anterior de crescimento dificilmente poderia ser mantido. Mas o desaquecimento ganhou proporção mais intensa nos trimestres mais recentes.
  • No ano passado, o dado referente ao trimestre setembro a novembro apontava 99,693 milhões de pessoas ocupadas, o que correspondia a um incremento de 5,0% diante do mesmo período de 2021, representando por sua vez a abertura de 4,763 milhões de vagas. Nos 12 meses seguintes, a ocupação avançou meramente 0,8% com a geração de 815,0 mil empregos em todas as áreas da economia. O total de ocupados alcançou seu recorde absoluto (mas não o recorde relativo), chegando a 100,508 milhões.
  • A massa de rendimentos descreve movimento semelhante ao longo do tempo, ainda que os períodos considerados não sejam coincidentes. Antes da pandemia, a massa salarial real havia alcançado seu ponto máximo no trimestre finalizado em novembro de 2019, somando R$ 276,843 bilhões. O pior resultado do indicador veio em novembro de 2021, quando a massa de rendimentos atingiu o fundo do poço, reduzida para R$ 253,429 bilhões – o que significou uma perda de renda de R$ 23,414 bilhões, resultado do tombo de 8,5% observado em dois anos.
  • A reação, tardia quando se considera que a ocupação já havia retomado níveis anteriores à pandemia ao final de 2021, veio mais rápida, no entanto, exigindo em torno de 10 meses. No terceiro trimestre de 2022, a soma de todos os rendimentos pagos já havia superado a marca alcançada em novembro de 2019, passando a R$ 280,341 bilhões e crescendo 10,62% em relação ao trimestre setembro-novembro de 2021 – uma recuperação equivalente a R$ 26,912 bilhões.
  • Na comparação entre setembro-novembro de 2022, com a massa de rendimentos aproximando-se de R$ 286,317 bilhões, e igual período de 2021, a pesquisa anota uma elevação muito próxima de 13,0% (ou em torno de R$ 32,888 bilhões adicionais para o orçamento das famílias). Nos 12 meses seguintes, como visto, a variação de 4,8% correspondeu a um acréscimo de R$ 13,847 bilhões na renda dos trabalhadores, ou seja, 42,1% do ganho observado nos 12 meses imediatamente anteriores.