Fatores meramente pontuais elevam IPCA-15 de dezembro para 0,40%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de dezembro de 2023

As “surpresas” altistas capturadas pela pesquisa de preços realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para aferir o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de dezembro, medido entre os dias 15 do mês passado e 14 do presente mês, vieram principalmente de um setor extremamente volátil – passagens aéreas – e da perda de velocidade na tendência de baixa dos combustíveis em geral. O índice saiu de 0,28% nas quatro semanas de novembro para 0,40% no período de 30 dias finalizado em 14 de dezembro, sugerindo alguma aceleração no IPCA ao longo das duas primeiras semanas deste mês.

A depender do comportamento dos preços médios nas duas semanas finais do ano, a inflação oficial pode alcançar alguma coisa próxima ao limite contemplado pela política de metas inflacionárias, fixado em 4,75% para 2023. Pesquisas intermediárias, que adotam amostragem, periodicidade e metodologia diversas, sugerem, de toda forma, uma tendência de preços menos pressionados na quinzena final de 2023 – o que pode sinalizar um cenário mais positivo para o fechamento anual do IPCA. Numa avaliação mais geral, prevalece um cenário ainda benigno para a inflação, considerando que os chamados “núcleos” de preços, que excluem setores mais voláteis, assim como altas e baixas mais pronunciadas e ainda produtos que sofrem menor influência da demanda, continuavam bem-comportados.

Mais claramente e antes que aventureiros tomem a dianteira e passem a sugerir o contrário, não há motivos à frente para que o Banco Central (BC) interrompa prematura e impensadamente a decisão de continuar derrubando a taxa básica de juros – o que tem ocorrido a uma lentidão exasperante. Pelo contrário, o cenário de desaquecimento da economia neste segundo semestre indica que há largo espaço para acelerar aqueles cortes, de forma a injetar ânimo na atividade econômica e, sobretudo, para tentar estimular o investimento, sem riscos de recaídas inflacionárias.

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Para Goiânia, o IBGE registrou igualmente aceleração, mas em ritmo mais intenso, já que a taxa mensal saiu de 0,31% no fechamento de novembro para 0,77% nos 30 dias encerrados em 14 deste mês. Pouco mais de 60% desse avanço podem ser debitados à conta da gasolina, que saiu de uma redução de 2,03% nos 30 dias de novembro para alta de 2,33% na quadrissemana terminada em 14 de dezembro. A energia residencial passou a pressionar menos, com elevação de 2,97% depois de saltar 6,13% em novembro, mas a alimentação no domicílio anotou aceleração, saindo de 1,51% em novembro para 1,90% entre 15 de novembro e 14 deste mês.

Pressões relativas

As “pressões” sobre o IPCA-15 de dezembro, na prática, vieram muito mais da desaceleração no ritmo de queda dos preços de combustíveis, o que reduziu sua capacidade de compensar elevações em outros setores. Adicionalmente, embora continuassem a constituir um foco inflacionário, as passagens aéreas passaram mesmo a subir menos do que nas quadrissemanas anteriores. Para comparar, na média, os preços dos combustíveis chegaram a baixar 1,58% nas quatro semanas de novembro, “retirando” do índice geral algo como 0,1 ponto percentual. Dito de outra forma, o IPCA do mês passado tenderia a sair dos 0,28% efetivamente registrados para 0,29% com a exclusão dos combustíveis. Nos 30 dias finalizados em 14 de dezembro, a queda passou a ser de 0,27%, com contribuição de 0,02 pontos – quer dizer, sem os combustíveis, o índice geral praticamente não teria se alterado, recuando de 0,40% para 0,38%.

Balanço

  • O custo das passagens aéreas havia disparado 19,12% em novembro, respondendo isoladamente por pouco mais de metade do IPCA “cheio”, numa contribuição de 0,14 pontos para o índice geral de 0,28%. A alta das passagens ao final da primeira quinzena de dezembro havia cedido para 9,02%, o que parece indicar uma queda naqueles preços ao longo das duas primeiras semanas de dezembro para explicar a forte queda na variação mensal média.
  • No curso dessa desaceleração, as passagens aéreas reduziram sua contribuição na formação do IPCA-15 geral para 0,09 pontos, ou seja, pouco mais de um quinto do índice. Isso contribuiu para desafogar as pressões sobre a inflação, ainda que a perda de velocidade tenha sido menos intensa do o mercado esperava.
  • Numa estimativa da coluna, com a exclusão das passagens aéreas e dos combustíveis, o restante dos preços teria expressado uma variação de 0,33% entre 15 de novembro e 14 de dezembro, comparada às quatro semanas imediatamente anteriores. Nos 30 dias de novembro, no entanto, a variação havia sido de 0,23%. O incremento entre os dois períodos pode ser atribuído quase integralmente à redução menos intensa nos preços médios dos combustíveis, reduzindo proporcionalmente seu poder para “compensar” altas ocorridas em outros setores.
  • De acordo com o Itaú-BBA, a alta de 0,40% registrada pelo IPCA-15 de dezembro superou a projeção da casa (0,27%) e a expectativa mediana do mercado, que esperava elevação de 0,25%. O índice acumulado em 12 meses, que havia alcançado 4,68% até novembro, passou a registrar variação de 4,72%, mais próximo do teto da meta inflacionária (4,75%). Como “surpresas altistas”, o banco destaca passagem aérea e gasolina, com a inflação dos alimentos abaixo das expectativas.
  • O grupo alimentação e bebidas, de fato, experimentou desaceleração no ritmo de alta, saindo de 0,63% em novembro para 0,54% na segunda quadrissemana de dezembro. Esse comportamento poderá ajudar a conter pressões altistas nos demais setores ao longo das semanas finais de dezembro. Na média móvel trimestral, os chamados núcleos do IPCA apresentaram estabilidade, com variação anual estacionada em 3,2% (abaixo inclusive do centro da meta inflacionária).
  • Para reforçar as tendências mais positivas nesta área, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), entrou em desaceleração nas últimas semanas, saindo de uma taxa mensal de 0,33% na primeira semana de dezembro para apenas 0,18% no final da terceira quadrissemana do mês. Em 12 meses, o IPC-S passou a acumular variação de 3,44%. A maior desaceleração veio do grupo despesas diversas, que saiu de 2,01% no início de dezembro para 0,07% na terceira quadrissemana do mesmo mês.