IIF projeta crescimento “sólido”, mas nada espetacular para 2024

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de dezembro de 2023

Remando contra o consenso global, as projeções para a economia global do Institute of International Finance (IIF), ou Instituto Internacional de Finanças, numa tradução livre, sugerem um avanço “sólido”, embora “nada espetacular” ao longo do próximo ano, com taxas superiores à média das previsões para os Estados Unidos, América Latina – com exceção para a Argentina – e ainda para a China, num cenário de baixa das taxas de inflação ao redor do mundo, preços de commodities em acomodação e perspectivas mais positivas para a entrada de capital estrangeiro para os países emergentes. Razões geopolíticas, no entanto, ainda continuariam a frear os fluxos de em direção ao mercado chinês, na visão do IIF.

O Produto Interno Bruto (PIB) global, nessa avaliação, tenderia a manter uma taxa de crescimento na faixa de 3,0% no próximo ano, repetindo a variação esperada para este ano, acima do avanço de 2,5% indicado pela Bloomberg, refletindo uma espécie de “consenso” entre economistas, instituições e corporações globais, e mais próximo do incremento de 2,8% antecipado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). As economias mais maduras, na média, tendem a apresentar taxas de crescimento inferiores à média mundial, com o IIF antecipando elevação em torno de 1,3% em 2024, diante de 1,4% neste ano. Mais pessimista, o consenso coletado pela Bloomberg sugere elevação de 0,9%, abaixo mesmo da previsão do FMI, que seguia ao redor de 1,3%.

Ainda nas previsões do IIF, o PIB brasileiro tende a experimentar elevação de 3,1% neste ano, um pouco acima das expectativas do mercado financeiro, capturadas pelo relatório semanal Focus do Banco Central (BC), que sugeriam avanço em torno de 2,92% para a economia do País no fechamento de 2023. Apenas a título de observação, na primeira semana de janeiro deste ano, as apostas do mercado tentavam convencer mentes e corações de que a economia brasileira virtualmente não cresceria em 2023, contentando-se com uma variação modestíssima de 0,78%.

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Pessimismo lucrativo

Ao avaliar as possibilidades do PIB brasileiro no próximo ano, o IIF sugere certa desaceleração, com o crescimento recuando para 2,4%. Mais uma vez acima do prognóstico trazido pelo Focus, que mantém para 2024 uma estimativa de crescimento próxima de 1,52%, praticamente a mesma taxa antecipada em janeiro passado (1,50%). O pessimismo já tradicional dos mercados tem adotado como pretexto, assim como no início do ano, uma suposta ameaça de “risco fiscal”, que poderia colocar o setor público federal diante da perspectiva improvável de não conseguir honrar juros e amortizações de sua dívida. O pessimismo, neste caso, tem se revelado lucrativo para o setor financeiro, funcionando como ferramenta estratégica para preservar a política de arrocho dos juros e retardar sua queda.

Balanço

  • Em conjunto, o PIB da América Latina tende a crescer 2,2% neste ano e 2,1% em 2024, levemente acima da variação de 2,0% antecipada pelo FMI e mais distante da taxa de 1,5% esperada pela Bloomberg. Excluída a Argentina, o restante da região tenderia a apresentar crescimento de 2,8% neste ano, com tímida desaceleração em 2024, quando o IIF espera elevação de 2,6%.
  • Antes do “pacotaço” do presidente Javier Milei, o instituto trabalhava com a perspectiva de uma redução de 1,3% para o PIB argentino no próximo ano, depois de uma queda estimada em 2,2% para este ano. O consenso do mercado, colhido pela agência Bloomberg, sugeria redução de 1,6% para o próximo ano, com o FMI, mais generoso, apostando em alta de 2,8%. O “choque” imposto pela gestão Milei, com cortes desvairados de gastos públicos, demissões e disparada de preços, no entanto, tende a tornar aquelas previsões prematuramente desatualizadas, diante de um esperado tombo na demanda doméstica e, portanto, da atividade econômica como um todo na Argentina nos próximos meses.
  • As projeções do IIF para os Estados Unidos têm se mostrado mais otimistas do que a média das previsões, com o PIB saindo de um avanço de 2,3% na perspectiva para este ano rumo a um crescimento de 2,0% no ano que vem. Para comparar, Bloomberg e FMI sugerem variações de 1,2% e de 1,5% respectivamente. Em relação à Zona do Euro, ao contrário, o IIF parece moderadamente mais pessimista ao projetar variação de 0,6% em 2024 (diante de 0,4% neste ano, indicando uma aceleração contida no período). A estimativa coincide com a elevação de 0,6% indicada pela Bloomberg, mas corresponde à metade da taxa de 1,2% antecipada pelo FMI.
  • Depois de ter crescido em torno de 5,2% neste ano, na previsão geral, a economia chinesa tenderia a avançar mais 5,0% em 2024, segundo o IIF, uma taxa novamente mais otimista do que o consenso global (4,5%) e do que o FMI, que estima variação de 4,6% para o PIB do gigante asiático.
  • O panorama antevisto pelo IIF para a inflação teria experimentado, na visão do instituto, “mudança para melhor” em relação às expectativas desenhadas há um ano. Mais cedo neste ano, numa visão contrária ao consenso global, o IIF já vinha operando com a perspectiva de que a “disrupção” nas cadeias globais de suprimento ainda estariam por trás das taxas d inflação mais altas ao longo do período, mas sem contaminar de forma mais ampla os preços em geral. Esse fator já sugeria, na avaliação do instituto, que as pressões inflacionárias tenderiam a ceder na mesma proporção de normalização dos suprimentos de bens, matérias primas e insumos ao redor do mundo.
  • “Os tempos de entrega (de suprimentos) foram normalizados no curso de 2022, o que causou alguma consternação porque a inflação manteve-se ainda elevada” nos meses seguintes, analisa o IIF. “Mas, conforme mostramos mais cedo neste ano, as margens das empresas somente começaram a apresentar normalização com considerável defasagem” e ainda têm espaço para recuar. Como resultado, o esvaziamento das pressões de alta trazidas pela pandemia tende a continuar puxando para baixo as taxas de inflação durante 2024, especialmente na Europa, onde a tendência de queda inflacionária tem ocorrido com certa defasagem se comparada aos Estados Unidos.