Consultas ao BNDES despencam quase 40% no primeiro trimestre deste ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de maio de 2021

A disposição dos empresários para retomar investimentos parece fortemente abalada pelo agravamento da pandemia no começo do ano e pelas incertezas daí decorrentes. Embora o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) venha sendo submetido a uma política de desmonte nos últimos anos, a instituição ainda desempenha o papel de principal fonte de financiamento de longo prazo no País e, portanto, de sustentação dos investimentos. Os dados do primeiro trimestre deste ano mostram um tombo de 39,6% no valor real das consultas encaminhadas ao banco pelo setor empresarial, que encolheu de R$ 25,741 bilhões no acumulado dos primeiros três meses do ano passado para R$ 15,381 bilhões no mesmo período deste ano – segundo menor nível para um primeiro trimestre em toda a série histórica, iniciada em 1995.

Os números foram atualizados pelo BNDES com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tombo foi mais intenso precisamente entre os setores mais afetados pela crise sanitária e pela falta de medidas de apoio pelo governo federal. Os setores de comércio e serviços, naquela mesma comparação, reduziram as consultas em praticamente 64,5%, saindo de R$ 9,443 bilhões no ano passado para R$ 3,355 bilhões. Os dois setores, considerados em conjunto na classificação do banco, foram responsáveis por 60,3% da retração observada para o total das consultas no primeiro trimestre.

A indústria e a agropecuária, da mesma forma, reduziram a procura por créditos do BNDES nos três primeiros meses deste ano, com redução mais intensa para o segundo setor. Novos projetos agropecuários, se saírem das pranchetas, precisarão de R$ 2,731 bilhões em recursos do banco, conforme as consultas recebidas no trimestre inicial de 2021, o que se compara com uma procura equivalente a R$ 3,486 bilhões em igual período do ano passado. Registrou-se, portanto, uma queda de 21,66%. No setor industrial, as consultas recuaram 2,27% depois de descontada a inflação, baixando de R$ 2,337 bilhões para R$ 2,284 bilhões.

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Estragos na indústria

Ainda no setor industrial, os maiores baques foram percebidos pela indústria de alimentos e bebidas e pelos fabricantes de material de transporte, outra área duramente castigada pela crise. Os fabricantes de produtos alimentícios e de bebidas encaminharam ao banco consultas no valor de R$ 942,419 milhões entre janeiro e março deste ano, frente a R$ 1,292 bilhão nos mesmos três meses de 2020, numa queda de 27,1%. Na indústria de materiais de transporte, as consultas sofreram corte de 82,7%, encolhendo de R$ 363,914 milhões para R$ 62,855 milhões. Numa compensação parcial, as indústrias do setor de química e petroquímica aumentaram o valor de suas consultas em nada menos do que 758,5%. O salto, no entanto, reflete uma base muita reduzida, saindo de apenas R$ 52,457 milhões para R$ 450,306 milhões. Valor ainda relativamente baixo, quando se considera que o setor é intensivo em capital (quer dizer, exige investimentos elevados por unidade de produto processado).

Balanço

  • Os projetos de infraestrutura, que demandam prazos mais longos de maturação, igualmente sofreram queda vigorosa, saindo de R$ 10,205 bilhões para R$ 7,011 bilhões, um tombo de 31,3%. A retração foi influenciada decisivamente pelo setor de energia, onde as consultas despencaram 45,9%, passando de R$ 7,765 bilhões para R$ 4,200 bilhões.
  • Também desabaram as consultas no setor de atividades auxiliares de transporte (que inclui armazenagem), num mergulho de 96,2% entre o primeiro trimestre de 2020 e igual período deste ano. Saíram de R$ 1,492 bilhão para somente R$ 57,076 milhões.
  • Em contrapartida, ainda na área de infraestrutura, as consultas na indústria da construção aumentaram praticamente 31,0 vezes, saltando de meros R$ 34,097 milhões para R$ 1,057 bilhão. Também neste caso, a base muito baixa influiu no desempenho. De qualquer forma, este vinha sendo um dos raros setores em crescimento nos últimos meses, o que pode ter influenciado igualmente no aumento das consultas.
  • Os projetos no setor de transporte rodoviário, conforme o BNDES, resultaram em consultas de R$ 1,554 bilhão nos primeiros três meses deste ano, crescendo 87,1% diante de igual período de 2020, quando haviam somado R$ 830,447 milhões.
  • Os desembolsos, em valores também atualizados com base no IPCA, apresentaram forte incremento no primeiro trimestre, subindo 28,3% frente a idêntico período de 2020. Em valores constantes, saltaram de R$ 8,899 bilhões para R$ 11,414 bilhões. Mas, nesta área, o aumento pode ser explicado principalmente pelos recursos injetados pelo BNDES no setor de energia, onde os desembolsos quase dobraram, saltando de R$ 2,042 bilhões para R$ 4,081 bilhões – um aumento de 99,85% em termos reais.
  • Se o total de desembolsos registrou incremento de R$ 2,515 bilhões, perto de 81,1% desse acréscimo vieram dos desembolsos no setor de energia (alta de R$ 2,039 bilhões). Outra contribuição relevante veio do aumento de 85,5% nos desembolsos para o setor de transporte rodoviário, que avançaram de R$ 606,135 milhões para R$ 1,124 bilhão.
  • Entre os grandes setores, os desembolsos para projetos de infraestrutura cresceram 80,2%, de R$ 3,117 bilhões para R$ 5,617 bilhões (basicamente por conta da energia e do transporte rodoviário). Na agropecuária, registrou-se queda de 16,1%, com os desembolsos baixando de R$ 3,191 bilhões para R$ 2,679 bilhões.

Os desembolsos para a indústria variaram 5,12% na mesma comparação, somando R$ 1,458 bilhão neste ano, diante de R$ 1,387 bilhão em 2020. Houve queda de 20,4% na indústria de alimentos (de R$ 455,466 milhões para R$ 362,483 milhões), mas saltos de 584% e de 2.186% nos setores de química e petroquímica e de material de transporte. Pela ordem, os desembolsos elevaram-se de R$ 37,828 milhões para R$ 258,632 milhões e de R$ 8,815 milhões para R$ 201,509 milhões.