Consultas ao BNDES encolhem 41,3% em Goiás ao longo do primeiro semestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 22 de outubro de 2022

O comportamento mais vigoroso apresentado pela economia goiana na primeira metade do ano, na comparação com os resultados apresentados pelo País como um todo, segundo estimativas do Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB), aparentemente não se refletiram nas decisões de investimento do setor privado. A propensão para investir, a se considerar os dados de consultas encaminhadas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já havia demonstrado forte arrefecimento no primeiro trimestre do ano e manteve tendência muito semelhante no trimestre seguinte, com nova queda.

A base de dados do banco de fomento mostrava uma retração de 47,2% no total de consultas na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e igual período do ano passado, saindo de R$ 836,977 milhões para R$ 441,887 milhões, em valores nominais (ou seja, sem atualização com base na inflação). No trimestre seguinte, o valor das consultas realizadas por empresas em operação no Estado atingiu R$ 969,596 milhões, frente a R$ 1,569 bilhão no segundo trimestre do ano passado, correspondendo a uma redução de 38,21%.

No fechamento do primeiro semestre, as consultas atingiram pouco mais de R$ 1,411 bilhão, o que se compara com R$ 2,406 bilhões na primeira metade de 2021, representando uma redução de 41,34% ainda em valores nominais. Em torno de 65% daquele valor corresponderam a propostas encaminhadas pelo setor agropecuário, com as consultas alcançando em torno de R$ 690,0 milhões. As consultas somaram ainda R$ 254,0 milhões no setor de comércio e serviços, mais R$ 239,0 milhões na indústria e em torno de R$ 229,0 milhões referentes a projetos de infraestrutura (energia, água e esgoto, transportes, telecomunicações e outras áreas). Neste último setor, energia elétrica e transporte rodoviário respondem por quase a totalidade das consultas, com os valores somando R$ 123,0 milhões no primeiro caso e R$ 101,0 milhões no segundo (ou seja, 97,8% dos projetos de infraestrutura em fase de consulta).

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Aprovações em baixa

A consulta corresponde ao primeiro passo das empresas interessadas em contratar empréstimos e financiamento do BNDES para bancar projetos de expansão, modernização e reestruturação de suas indústrias. As fases seguintes envolvem a análise dos projetos e sua aprovação (ou não) pela equipe técnica do banco, etapa que antecede o efetivo desembolso dos recursos pela instituição. O valor dos projetos aprovados também vem caindo, provavelmente refletindo o ritmo mais lento das consultas. Ainda no primeiro semestre deste ano, as aprovações somaram R$ 736,0 milhões em grandes números, caindo 7,8% em relação aos R$ 799,0 milhões aprovados em igual período do ano passado. Essa queda tenderá a influir de forma negativa no volume futuro de desembolsos de recursos em benefício de empresas instaladas no Estado, afetando mais uma vez o investimento privado.

Balanço

  • Além da baixa disposição para investir no mundo corporativo, os dados refletem ainda o processo de desmonte a que o principal banco de fomento do País tem sido submetido desde o governo passado, que passou a exigir de volta os recursos injetados pelo Tesouro Nacional para reforçar a capacidade de empréstimo do banco nos anos anteriores e, na sequência, a partir de janeiro de 2018, tornou mais caros os financiamentos do BNDES ao substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pela Taxa de Longo Prazo (TLP), atualmente equivalente à variação do IPCA mais uma parcela fixa de 5,01% ao ano.
  • Num cenário inverso, refletindo as condições presentes na economia em um período anterior, os desembolsos do BNDES em Goiás cresceram fortemente no primeiro semestre deste ano, somando quase R$ 1,060 bilhão diante de R$ 591,078 milhões nos primeiros seis meses de 2021, correspondendo a um salto de 79,28%.
  • A série estatística do BNDES sugere muito mais uma recuperação parcial em relação a resultados muito fracos para o primeiro semestre nos últimos quatro anos. Mesmo em valores nominais, os desembolsos neste ano continuam abaixo do total registrado nos seis meses iniciais de 2017, quando os desembolsos haviam alcançado em torno de R$ 1,129 bilhão. Na comparação com a primeira metade de 2009, quando os desembolsos haviam somado R$ 2,806 bilhões, mantém-se uma retração de 62,2%.
  • As perdas foram muito mais amplas quando se considera que a inflação acumulada entre junho de 2009 e o mesmo mês deste ano aproximou-se de 117,6%. Parece muito óbvio que os recursos contratados em 2009 conseguiam financiar um volume de obras, instalações, máquinas e equipamentos muito mais relevante do que atualmente. Os desembolsos deveriam ter subido pelo menos no mesmo ritmo da inflação para preservar seu poder de compra, resultando em investimentos mais robustos.
  • O crescimento entre 2021 e 2022, sempre no semestre inicial de cada ano, foi liderado pelo setor industrial, onde os desembolsos cresceram nada menos do que 659,2%, saltando de apenas R$ 41,349 milhões para R$ 313,926 milhões. O salto deve ser relativizado, já que a base para comparação foi muito baixa. Não bastasse esse dado, o crescimento dos desembolsos na indústria foi puxado pelo setor de química e petroquímica, por sua vez comandado pelas usinas de etanol e açúcar.
  • A indústria química e petroquímica, que havia recebido R$ 11,869 milhões no primeiro semestre de 2021, registrou desembolsos de R$ 270,595 milhões em igual período deste ano, significando 86,2% dos desembolsos recebidos pela indústria como um todo. Na comparação entre os dois períodos, os desembolsos aumentaram quase 22 vezes, num acréscimo de R$ 258,726 milhões – ou seja, um único setor respondeu por 94,92% do aumento total anotado pelos desembolsos na indústria.
  • Em torno de 70,55% dos desembolsos contratados pela química e petroquímica tiveram como destino dois projetos para produção de biocombustíveis e alimentos (açúcar) em Quirinópolis (onde o grupo São Martinho opera a Usina Boa Vista), somando R$ 190,898 milhões.